Altice conclui compra da PT Portugal

Administradores da PT despedem-se por email. Armando Pereira, o sócio de Patrick Drahi, já está na sede da empresa, em Lisboa.

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Armando Pereira considera que PT tem trabalhadores a mais, mas estes não vão ser despedidos, dizem sindicatos. Pedro Lima/N Factos

A Altice e a Oi concretizaram nesta terça-feira o negócio de venda da PT Portugal. O grupo liderado pelo francês Patrick Drahi e pelo português Armando Pereira vai agora assumir a gestão da empresa que, até à data, era presidida por Armando Almeida, uma escolha dos brasileiros.

Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, Armando Pereira, ou o “herói de Vieira do Minho”, como lhe chamou recentemente o ministro da Economia, Pires de Lima, já está na sede de Picoas, em Lisboa. Nos próximos dias, irá reunir com as equipas, conhecer os cantos à casa e aplicar o “método Altice” de gestão. Um método onde “não haverá certamente 15 pessoas entre si [Armando Pereira ] e o processo de decisão”, garantiu ao PÚBLICO fonte conhecedora do processo.

Já o porta-voz da empresa escusou comentar quaisquer informações relacionadas com a mudança da equipa de gestão da operadora, sublinhando que “a Altice está altamente comprometida em manter o investimento na PT Portugal para continuar a entregar aos clientes os melhores serviços, as maiores velocidades e a mesma garantia de inovação”.

O negócio ficou fechado perto do final da manhã, mas os comunicados oficiais vieram já depois de almoço. Enquanto a Altice anunciou "com satisfação" o fecho da operação, a brasileira Oi especificou os montantes envolvidos no negócio que partiu de uma avaliação de 7,4 mil milhões de euros da PT (limpa de dívida), com a qual os franceses venceram a proposta de 7,075 milhões dos fundos Apax e Bain, aos quais se associou a Semapa.

Pela compra da PT Portugal, “a Altice Portugal desembolsou o valor total de 5,789 mil milhões de euros, dos quais 4,920 mil milhões de euros foram recebidos, em caixa, pela Oi e 869 milhões de euros foram destinados a imediatamente quitar dívidas da PT Portugal em euros”, revelou a ex-accionista em comunicado. A Oi refere ainda que o “preço final está sujeito a eventuais ajustes pós fechamento a serem apurados nos próximos meses em função de alterações nas posições de caixa, dívida e capital de giro na data de fechamento”.

A Altice tem comunicado que a sua proposta contempla ainda cerca de 1300 milhões de euros, reservados para responsabilidades com pensões e reformas dos trabalhadores e contingências legais e fiscais. Adicionalmente, fica pendente o pagamento de 500 milhões de euros condicionados a receitas futuras da PT, mas, sobre estes temas, o comunicado da Oi nada precisa.

Despedidas e chegadas
Esta semana, a gestão da PT Portugal será já toda substituída para dar lugar a uma equipa de gestores da Altice, ainda que esteja por anunciar o novo líder executivo da companhia, algo que só deverá acontecer “daqui a umas semanas”. Os membros da actual administração despediram-se nesta terça-feira dos colaboradores por email (apesar de já se terem despedido das equipas na semana passada), pondo formalmente um ponto final na sua relação com a empresa. Os trabalhadores ainda não foram oficialmente informados da mudança de accionistas.

Além das dos administradores que há anos estavam na empresa, esta terça-feira também ficou marcada pelas despedidas de Armando Almeida e do presidente da Oi, Bayard Gontijo.

"A PT Portugal precisa que mantenham a vossa atitude, o vosso entusiasmo e a vossa competência. Será fundamental para o futuro que não percam o foco nos clientes e na eficiência operacional e continuem a fazer bem, que é uma característica tão vossa, e que ficou bem patente no contexto que vivemos recentemente", disse Armando Almeida no email de despedida enviado aos colaboradores, a que o PÚBLICO teve acesso.

O presidente da Oi recordou os "duros desafios" dos últimos meses, "com decisões difíceis e mudanças necessárias para a sustentação do negócio". "Como Presidente da Oi e tendo vivenciado de perto o potencial dessa Organização, estou certo de que o sucesso da PT Portugal se deve a um Time comprometido e apaixonado pelo que faz. E é a este Time que me dirijo hoje para agradecer pelo profissionalismo, colaboração e empenho na entrega dos resultados nos últimos meses", afirmou Bayard Gontijo, num email enviado a todos os colaboradores.

A nova equipa de gestão da PT Portugal será liderada - pelo menos temporariamente - por Armando Pereira e inclui os antigos responsáveis da Cabovisão e da Oni, João Zúquete da Silva e Alexandre Fonseca, respectivamente. Estas duas empresas da Altice  estão em processo de venda (condição imposta por Bruxelas para aprovar o negócio).

Armando Pereira, que deverá vir a assumir o cargo de presidente do conselho de administração da nova PT, será, nesta fase de transição, o grande responsável pelo processo de reestruturação, que incluirá a renegociação de todos os contratos com fornecedores e alterações ao nível da estrutura da companhia, prevendo-se, por exemplo, as junções de algumas das direcções actuais.

Fonte próxima do processo disse ao PÚBLICO “que ainda é cedo para tomar decisões sobre a equipa de gestão. O primeiro objectivo é conhecer as equipas e os profissionais experientes e competentes que a PT tem”. Não será tomada nenhuma decisão sobre o novo líder executivo sem que primeiro a Altice “conheça as pessoas da PT, a forma como trabalham e estão organizadas”, disse a mesma fonte.

Outro tema na agenda da Altice é a parceria comercial assinada com os CTT. O grupo francês acordou com a empresa presidida por Francisco Lacerda a constituição de uma parceria, caso ganhasse a corrida à PT Portugal. Os termos anunciados pelas empresas no Outono passado previam que os CTT recebessem um pagamento inicial de 15 milhões de euros, podendo vir a receber outra fatia de igual valor mediante a concretização de um plano de parcerias comerciais assente sobre a rede de retalho dos Correios. Fonte próxima deste dossier assegurou que começará a ser tratado em breve.

 

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