Alisuper enfrenta insolvência pela segunda vez

Dívidas da cadeia de origem algarvia ultrapassam os 17 milhões de euros. Trabalhadores com salários em atraso.

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Manifestação de trabalhadores do Alisuper em Fevereiro de 2010, ano em que a empresa também enfrentava muitas dificuldades Alexandre Afonso

A cadeia de supermercados Alisuper está, de novo, em processo de insolvência, depois de falhadas as negociações com os credores, que reclamam mais de 17 milhões de euros de pagamentos em atraso, 14 milhões dos quais da banca.

O Grupo Nogueira, do empresário José Nogueira, tinha assumido a marca e 50 lojas do grupo Alicoop em Março de 2012, na sequência da insolvência dos supermercados e de um plano de recuperação apoiado, na altura, pelo Ministério da Economia. A empresa chegou a ser a cadeia de supermercados com mais área de venda no Algarve e estava em insolvência desde Agosto de 2009, acumulando dívidas de 80 milhões de euros.

Depois da entrada do Grupo Nogueira no negócio ficaram activas 26 das 81 lojas. Mas as dificuldades financeiras, o elevado endividamento e a recessão no consumo deixaram o projecto sem margem para continuar. No final de 2015, a empresa avançou para um Processo Especial de Revitalização (PER) para tentar negociar as dívidas com os credores. Em Janeiro, as reuniões com a banca (Caixa Geral de Depósitos, o maior credor, com mais de 4,3 milhões de euros, Montepio e Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Tábua e Douro) deitaram por terra a possibilidade de recuperação.

“Constatou-se a impossibilidade de obter acordo dos credores maioritários para as linhas gerais do plano de recuperação”, lê-se numa carta enviada pela N&F Comércio e Distribuição Alimentar (a empresa do Grupo Nogueira que ficou com a marca e lojas Alisuper) ao administrador judicial nomeado para gerir o processo, Pedro Correia.

“Uma vez que a situação actual de estrangulamento da tesouraria já não permite fazer pagar os vencimentos dos funcionários, pondo em causa a manutenção das lojas abertas” e sem acordo para negociar ou perdoar as dívidas, a empresa pede para a insolvência ser declarada, não só para a N&F como para a ACRN, Comércio e Indústria de Carnes, do mesmo grupo. Cabe agora ao Tribunal de Viseu (de onde é a empresa de José Nogueira) decretar a insolvência.

O administrador judicial provisório também defende que a cadeia de supermercados não tem capacidade para “cumprir as suas obrigações vencidas”. Na carta que endereçou ao Tribunal de Viseu, recorda que a N&F assumiu parte do passivo do grupo Alisuper na ordem dos 26 milhões de euros. Mas logo em 2012 “constatou-se a existência de um conjunto de dívidas históricas não reflectidas no valor de dívida da insolvência, às quais foi necessário acorrer e liquidar agravando o esforço de tesouraria imediato e que não estava previsto no plano de desenvolvimento adoptado”.

Nos últimos dois anos as dificuldades agudizaram-se, sem fundo de maneio e cada vez mais recurso ao crédito dos fornecedores. Foram feitos despedimentos e vendidas lojas a outras cadeias concorrentes, que têm vindo a expandir a presença no sul do País. O Pingo Doce, do grupo Jerónimo Martins, ficou com três estabelecimentos por trespasse e o Intermarché com sete. Actualmente, há 25 supermercados, com 129 trabalhadores já com 150 mil euros de salários em atraso e falta de pagamentos ao Estado e à Segurança Social.

O PÚBLICO contactou o Grupo Nogueira, mas não obteve resposta. Uma trabalhadora dispensada no final do ano, e que pediu anonimato, conta que escasseiam produtos nas prateleiras. “Estão a ser abastecidas com produtos das lojas que fecharam ou foram vendidas. Muitas das coisas não há”, descreve. Ainda aguarda pelo pagamento do subsídio de férias de 2014 e 2015 e lamenta que, em todo o processo, a administração não tenha posto os trabalhadores a par da situação da empresa. “Nunca foram claros, foram sempre adiando as datas para pagar os salários em atraso. O que mais me indigna é a falta de explicação. Ninguém sabe quando vai receber e metade dos telefonemas que fazíamos não eram atendidos”, conta. Em Janeiro, por exemplo, houve ordem para tirar da caixa o dinheiro para pagar salários.

Pedro Correia, administrador judicial, descreve que as expectativas de vendas em 2015, em especial no Verão, “ficaram aquém do esperado, não sendo mais possível manter a actividade operacional e, em simultâneo, fazer face ao serviço da dívida actual”. Com prejuízos de mais de dois milhões de euros e um passivo total que ultrapassa os 32 milhões, a continuidade do projecto está ameaçada, considera.

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