Alcochete poupa em obras, pontes e no TGV

A CIP defende que, incluindo os acessos, o custo do aeroporto na Ota rondaria os nove mil milhões de euros, mais três mil milhões do que custaria a sua construção no campo de tiro.

O aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete custaria menos três mil milhões de euros do que se fosse construído na Ota por se pouparem importantes montantes na construção da própria infra-estrutura, no TGV e nas travessias do Tejo, concluem os estudos da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), divulgados ontem. E ainda se ganhariam dois anos na inauguração da nova infra-estrutura.

O estudo da CIP, que aprofunda uma avaliação apresentada em Julho deste ano, não se reduz apenas a uma alternativa à localização do novo aeroporto de Lisboa. Para dar coerência à solução, são avançadas propostas que modificam, nalguns casos radicalmente, ideias já assentes em relação a outras grandes infra-estruturas: o TGV e as travessias do Tejo.

Mas esta mudança radical, que José Manuel Viegas, coordenador do estudo das acessibilidades, assume que pode prejudicar a aceitação política da proposta - por envolver outras decisões já tomadas -, permite não só dar consistência ao sistema pensado como ainda poupar dinheiro.

Segundo as contas ontem apresentadas, a construção da estrutura aeroportuária em Alcochete permitiria poupar, por si, mil milhões de euros face à Ota, baixando-se dos três mil milhões de euros previstos para dois mil milhões. Isto porque as obras em Alenquer implicam uma complexa movimentação de terras e a colocação de estacas, avaliadas em 750 milhões de euros, assim como expropriações - inexistentes no caso do campo de tiro - e desvio de infra-estruturas pesadas como gasodutos e linhas de alta tensão. Tudo junto, seriam mil milhões de euros a menos.

A estas contas, juntam-se os 700 a 800 milhões de euros que custariam a menos as travessias propostas para o Tejo (Montijo-Beato e Algés-Trafaria) face à projectada ponte entre Chelas e Barreiro. E há ainda que acrescentar os mil milhões de euros que custaria levar a alta velocidade à Ota. Com a alternativa pela margem esquerda do Tejo, ultrapassado em Santarém, o TGV percorreria terrenos menos povoados mas sobretudo com um relevo mais plano, evitando-se custosas obras de engenharia.

No total seriam 2,8 mil milhões a menos. Segundo Viegas, atingir-se-iam os três mil milhões de euros acrescentando-se o risco de derrapagem dos orçamentos que as obras na Ota, dada a sua complexidade técnica, poderiam correr, calculado em 10 por cento do total.

Assim, a opção por Alcochete permitiria construir um aeroporto e acessos por seis mil milhões de euros contra os nove mil milhões da Ota.

Há também a questão do calendário. Aplicando o mesmo modelo utilizado para prever os prazos necessários para a conclusão de Alcochete à Ota, José Manuel Viegas duvida que o aeroporto a norte de Lisboa esteja concluído em 2017 - data prevista para o encerramento da Portela -, mas antes em 2019. No campo de tiro, a obra estaria concluída em 2017 ou um a dois anos antes se se optasse por começar por fazer apenas uma pista.

Esta é, para a CIP, uma das grandes vantagens do aeroporto em Alcochete: a forma faseada como pode ser construído, ao contrário da Ota.

É necessária "prudência no investimento e desenvolvimento do projecto correspondente aos níveis de incerteza existentes, quer relativamente às possibilidades de expansão do transporte, quer relativamente à capacidade competitiva de Lisboa face a outros concorrentes pelos mesmos mercados", defende a CIP. "Por isso, quer para minimizar o risco de investimentos perdidos, quer para reduzir os encargos financeiros com a construção do aeroporto e equipamentos associados, é importante que o local seleccionado permita um aumento gradual da capacidade instalada."

Para a CIP, a solução que defende só tem vantagens face à Ota: mais barata, mais flexível, com melhores ligações, com menos impactos ambientais e sobretudo com capacidade para maximizar o seu impacto na competitividade do país.

A participação da CIP neste processo termina aqui, disse Francisco Van Zeller, presidente da confederação, quer o Governo aceite ou não as sugestões. "Foi um contributo da sociedade civil para as decisões políticas."

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