Abrandamento da economia chinesa reduz prestação da casa dos portugueses

Euribor a seis meses poderá entrar em terreno negativo, como já acontece com o prazo de três meses.

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Prestação da casa continua a descer, mas casa vez menos. Paulo Pimenta

Nos próximos meses, as famílias vão continuar a sentir uma redução na prestação da casa. O abrandamento da economia chinesa, pelo impacto que está a ter na economia mundial, é uma das causas para a queda das taxas a que estão associados os empréstimos à habitação, a Euribor, e que pode levar o prazo a seis meses a entrar em valores negativos.

Como já acontece no prazo de três meses, se esta taxa entrar em terreno negativo o valor vai ser abatido ao spread, que é a margem comercial do banco, e que forma a taxa final. A diferença é que esta taxa é utilizada na maioria dos empréstimos à habitação em Portugal, abrangendo dessa forma um universo elevado de famílias.

A Euribor a três meses, em valor negativo desde 20 de Abril, deverá continuar neste patamar em boa parte do próximo ano. O contrato de futuros para este prazo, com vencimento no próximo mês de Dezembro, apresenta um valor negativo de 0,05% e o de Junho de 2016 aponta para um valor igualmente negativo de 0,07%.

Sobre a Euribor a seis meses não há contratos de futuros, mas a tendência é de continuação do movimento de queda. E “se as perspectivas não se alterarem nos próximos meses, esta taxa também pode entrar em terreno negativo”, admite Paula Carvalho, economista-chefe do BPI.

A economista explica que as perspectivas são actualmente mais complicadas pela expectativa de forte desaceleração da economia chinesa e pelo menor crescimento da economia mundial. Este novo cenário, que está na origem da queda do preço do petróleo, é particularmente negativo para a zona euro, que volta a revelar indicadores preocupantes, como o regresso da inflação a terreno negativo. Estes factores, a que se junta o escândalo da manipulação das emissões da Volkswagen, que pode ter um forte impacto na produção e compra de automóveis, criam pressão sobre o Banco Central Europeu para reforçar as medidas de estímulo à economia da região.

O mercado interbancário, onde se forma diariamente a Euribor através da média das taxas a que um conjunto alargado de bancos está disposto a emprestar dinheiro entre si, revela algum pessimismo em relação à evolução da economia na zona euro. Só assim se explica que a média mensal da Euribor a três meses se tenha fixado em -0,037% em Setembro, contra -0,028% em Agosto.

A Euribor a seis meses, que está na base da maioria dos empréstimos das famílias portuguesas, fixou-se em 0,035%, abaixo dos 0,044% do mês anterior. O prazo de 12 meses, muito pouco utilizado no crédito à habitação, caiu de 0,161% para 0,157%.

A queda das taxas reduz a prestação, mas o efeito é cada vez menor, embora tenha um impacto positivo a médio e longo prazo. Isso acontece porque a componente de amortização sobe quando a dos juros desce, o que anula parte da descida de juros, mas acelera a componente de amortização do capital em dívida.

As taxas de Setembro serão utilizadas na revisão dos contratos que ocorrer em Outubro e uma simulação feita pelo PÚBLICO mostra que um empréstimo de 150 mil euros, com um spread de 0,7% e associado à Euribor a três meses, vai pagar uma prestação de 459,59 euros, menos 1,21 euros face à última revisão. A mesma simulação para um empréstimo associado à Euribor a seis meses vai permitir uma poupança de quatro euros, face à última revisão, ocorrida em Maio.

A queda da Euribor tem um impacto negativo para quem tem poupanças associadas a esta taxa, como é o caso dos Certificados de Aforro, que vão pagar 0,962% para as subscrições a fazer em Outubro, abaixo de 1% que é o prémio base.

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