A tecnologia existe. Agora a Multicert quer dar-lhe uso

A empresa quer potenciar as soluções que hoje permitem assinar ou preencher documentos à distância, muito mais de olhos postos na internacionalização.

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A Multicert quer chegar "a 60 ou 70 países" através de parcerias, diz o director-geral, Jorge Alcobia Manuel Roberto

As possibilidades são infinitas: tudo o que hoje obriga a uma assinatura ou ao preenchimento de dados pessoais pode ser feito a milhares de quilómetros de distância, com poupanças de custos, de espaço, de papel. O que a Multicert quer é encontrar cada uma dessas possibilidades e fazê-las chegar ao mercado. Na relação entre cidadãos e o Estado ou entre fornecedores, clientes e empresas. Mas, mesmo num mundo altamente digitalizado, nem todas as portas se abrem à tecnologia sofisticada. E é em países que hoje ainda precisam de soluções simples para resolver grandes problemas que o negócio está a crescer.

A certificação electrónica, que permite autenticar documentos onde quer que se esteja, é uma das principais áreas da Multicert, uma tecnológica portuguesa que foi fundada em 2002 e tem como maior accionista a Sibs. Mas, como explica o seu director-geral, Jorge Alcobia, “os certificados sozinhos não servem para nada”. O que é preciso é “construir soluções sobre eles”.

Neste momento, há clientes como a McDonald’s , a Leaseplan ou a Cofidis que compraram um produto que permite trabalhar com os fornecedores sem papel, com assinatura e armazenamento digital. Estas empresas também já estão a funcionar com um tablet que faz a leitura do cartão de cidadão e introduz automaticamente os dados no sistema. “Um procedimento que antes demorava 40 minutos, agora demora cinco”, diz o mesmo responsável.

Mas há tanto por explorar: usar os cartões de cidadão na rede de ATM (mais conhecida por Multibanco), que é gerida pela Sibs, para interagir com o fisco ou com a Segurança Social ou fazer contratos de trabalho sem ser preciso um único documento físico. “A nossa missão é encontrar casos de uso”, diz Jorge Alcobia, garantindo que só assim se conseguirá aumentar a fasquia de cidadãos que hoje usam a assinatura digital do cartão de cidadão, que ronda 10% a 15% em Portugal.

É, porém, no exterior que a Multicert tem os olhos postos, já estando em curso um protótipo para transformar os 440 tipos de carta de conduções que existem nos Estados Unidos numa única, a usar no telemóvel. Os EUA também têm 12 mil certificados de nascimento diferentes e dificuldades graves nos seguros de saúde relacionadas com fraudes – áreas para onde a empresa, que tem 63 trabalhadores, também está a olhar.

A internacionalização tem sido muito suportada em parcerias com grandes fabricantes que produzem as infra-estruturas e os equipamentos: as americanas Get Group e Gemalto ou a alemã Mühlbauer. A Multicert vende-lhes um produto chave na mão, que está pronto a instalar quando chega aos clientes dos mais diferentes países. E, em poucos anos, a empresa portuguesa também já tem projectos em preparação, em vias de arrancar ou já implementados por exemplo no Equador, Peru, Arábia Saudita, Ruanda, Angola, Cabo Verde ou São Tomé e Príncipe.

O objectivo é “chegar a 60 ou 70 países através destas parcerias”, que nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa têm sido feitas ao lado de outro accionista, a Imprensa Nacional Casa da Moeda, que detém uma participação de 20%.

Com a conferência que organizou no início desta semana em Moçambique, a eID Conference (centrada no tema da identificação electrónica), pretende chegar também a este país, que tem em curso uma série de ideias, como a criação de um número único para os cidadãos e a evolução dos passaportes. No primeiro semestre, a facturação atingiu três milhões de euros, o que representou um crescimento de quase 25% face ao mesmo período do ano passado, e os lucros ultrapassaram os 120 mil euros. Neste momento, apenas 20% das receitas vêm do exterior – a intenção é que o patamar suba para 60%.

A certificação electrónica é um dos muitos vértices da Multicert, que também trabalha na área dos passaportes e dos cartões de identificação electrónicos e noutras soluções como o voto à distância ou o armazenamento digital. Um dos projectos que a tornou mais conhecida, e em que é parceira da helénica Byte Computer, foi o da atribuição de registos aos refugiados que entram na Grécia, que está neste momento em fase de implementação. No Azerbaijão, foi escolhida para produzir o cartão de cidadão e aguarda pela assinatura do contrato.

Um outro negócio em que está a apostar é a formação, como já aconteceu com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras no Peru, por exemplo. Por Portugal, vende outras soluções como o cofre digital, que a Santa Casa da Misericórdia já está a usar para guardar informação sensível que só pode ser acedida por pessoas autorizadas, e faz testes de intrusão nas empresas, para mostrar o quanto estão expostas a invasões inesperadas.

Mas a experiência tem mostrado que ainda há produtos mais difíceis de fazer chegar ao mercado, apesar da consciência que já existe da racionalização que algumas soluções permitem e das garantias de segurança que conseguem dar. À semelhança do cofre digital, uma outra área em que a Multicert trabalha, a do voto electrónico, foi encontrando algumas barreiras pelo caminho, não tendo sido ainda possível, apesar da expectativa inicial, chegar aos partidos políticos ou aos clubes de futebol.

Os jornalistas viajaram a convite da Multicert

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