A nova revolução industrial

Da máquina a vapor à fabricação digital.

Imagine que em vez de comprar uma peça sobresselente a pode fazer em casa. Sem ser necessário ir à loja, encomendar com antecedência, ou esperar que venha num contentor da China. Basta descarregar um ficheiro… e imprimir no material adequado. Não é ficção científica, mas uma realidade que aos poucos se impõe.

Em passos céleres, vão surgindo novos materiais (sabia que já se pode imprimir em inox, ouro ou titânio?), vão surgindo impressoras mais baratas, mais rápidas, mais potentes.

Em Portugal já há quem trabalhe com fabricação digital: Não só universidades e centros de desenvolvimento (como a F. Champalimaud), mas também empresas que veem nesta tecnologia uma forma de aumentar a competitividade, tais como a Costa Verde, consegue reduzir o time-to-market, testando modelos de porcelana, isto é, imprimindo os primeiros protótipos antes de investir em grandes tiragens das suas loiças; como a ivity (brand corp.), que consegue apresentar a clientes soluções inéditas, difíceis de obter artesanalmente porque implicariam trabalho manual de várias semanas, mas que, imprimindo-as, nalguns dias tem uma peça pronta; ou como a TAP, ME, que recorre a engenharia reversa: scanarização 3D, seguida de modelação digital, para otimizar forma ou função de peças. Do cluster do calçado vem o exemplo da Galibelle, que com estas tecnologias desenvolve modelos de botas e sandálias.

Os exemplos em Portugal sucedem-se: novos acessórios para indústria têxtil, ornamentos para marroquinaria, manípulos para equipamentos de estética, etc. E todos os dias há mais procura.

As barreiras à entrada são de conhecimento e investimento. É necessária formação; conhecer materiais, suas características ou restrições; os consumíveis, mesmo plásticos, têm ainda um peso significativo no custo; e o processo ainda é muito demorado (uma caneca pode levar mais de 6 horas a aparecer). Há que considerar a escala, pois a partir de determinado número, é mais racional produzir com moldes.

Aos poucos, vão sendo ultrapassadas estas restrições, e vai sendo mais fácil e habitual (nos EUA, a Shapeways vende mais de 100 000 peças por mês) empresas ou curiosos tornarem finalmente ideias... em realidade.

Porquê recorrer à impressão 3D? As novas formas de fabricação digital permitem uma vantagem competitiva, permitem acelerar o ciclo virtuoso de inovação: facilitando o acesso a uma fase de ensaios mais dinâmica, e por isso mais útil, de testes de modelos com o utilizador final, antes de arriscar uma produção em série massiva; reduzindo tempo entre a conceção e a chegada ao mercado; otimizando custos de investimento.

Se a máquina a vapor desencadeou a primeira revolução industrial, criando a sociedade de consumo, como irão as empresas evoluir com a próxima revolução do self consumer?

Professora da AESE

 

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