A moral de ter o cofre cheio ou vazio

Alexis Tsipras continua a tentar protelar as reformas, mas os cofres em Atenas estão a ficar vazios.

Tal como aconteceu na Irlanda, a estratégia da troika para Portugal também foi a de sugerir ao país que aproveitasse todas as oportunidades de mercado para construir uma almofada de liquidez que permitisse sair do resgate com alguma segurança. Por isso é que o Estado português chegou a Janeiro deste ano com uma almofada de 24 mil milhões de euros e até já está a usar parte do dinheiro para reembolsar antecipadamente o empréstimo do FMI. Por isso é que esta semana Maria Luís Albuquerque veio dizer uma frase impensável há uns meses: “Temos os cofres cheios.”

É este conforto que permite à ministra dizer que Portugal está escudado, caso tenha de ficar arredado do mercado “durante um período prolongado”. E é este conforto que permite ao Governo português fazer orelhas de mercador às recomendações do FMI, que esta semana veio pedir mais reformas e a continuação da austeridade.

Na Grécia, os cofres já há muito que estão no nível de reserva e se a troika não libertar a última nova tranche de 7,2 mil milhões o país entra em bancarrota até ao final de Abril. E foi numa corrida contra o relógio que Alexis Tsipras chegou neste final de semana à minicimeira de Bruxelas para tentar convencer os parceiros europeus (pelo menos alguns deles) a ajudar a Grécia. Angela Merkel  mostrou quase nenhuma abertura: “Todos os parágrafos do acordo de 20 de Fevereiro continuam válidos.” O máximo que o líder do Syriza conseguiu foi uma ajuda de 2 mil milhões que Jean-Claude Juncker foi desencantar nos cofres dos fundos europeus.

Tsipras enfrenta nesta altura o dilema de quem tem os cofres vazios, ou seja, tem de cumprir a vontade de credores como o FMI, que não se cansa de exigir austeridade. E, quanto mais adia, mais a Grécia arrisca o que os analistas têm apelidado de "Grexident". Os gregos não merecem tamanha austeridade, mas merecem ainda menos uma saída da zona euro, seja acidental ou não.

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