Novo Banco com prejuízos de quase mil milhões

Stock da Cunha diz que seja qual for a solução para o Novo Banco vai trabalhar para preparar o futuro com três perspectivas: a liquidez, o capital e a rendibilidade.

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Grande parte das imparidades foram herdadas do antigo BES Nuno Ferreira Santos

Em 2015, o Novo Banco apurou um prejuízo de 981 milhões de euros, mas a expectativa é que o banco possa regressar aos lucros pelo menos em 2018. Do lado positivo regista-se a subida do Core Tier 1 para 13,6%, o que beneficiou da decisão do Banco de Portugal de retirar activos tóxicos do perímetro da instituição financeira.

A informação foi dada ao final da tarde desta quarta-feira, durante a divulgação das contas anuais de 2015, com o presidente Eduardo Stock da Cunha a garantir que, após um interregno de cerca de dois anos, o Novo Banco vai regressar à “normalidade” e “voltar a apresentar resultados trimestrais”. O encontro com a comunicação social surge depois do Banco de Portugal (BdP) ter anunciado, a meio de Janeiro, que ia arrancar com o processo de venda da instituição e num contexto em que decorrem reuniões entre supervisor e o Novo Banco.

Foi neste contexto que o banqueiro chamou a atenção para o facto de existir uma folga, até Agosto de 2017, para fechar o dossier, e que trabalhará com os mesmos objectivos – garantir bons níveis de liquidez, de capital e de rendibilidade – independentemente da decisão que vier a ser tomada. "O que estamos hoje a fazer é a preparar o futuro" do banco, disse.

Uma resposta a um pedido de comentário à proposta do PCP de nacionalização do Novo Banco, que foi formalizada na terça-feira. E uma via que Vítor Bento, o ex-presidente do BES e do Novo Banco, aconselhou o Governo a equacionar. O economista da esfera social-democrata admite o cenário por duas razões: não existe capital privado em Portugal; o movimento de consolidação bancária será definidor do futuro do país.

A reacção à ideia de manter o banco na esfera pública chegou pela voz do deputado João Galamba que mostrou abertura do PS para pensar no tema, até por existir tempo para equacionar várias soluções. Mas não deu garantias. Até porque existem restrições de várias naturezas a uma estatização, nomeadamente as europeias. E teria de se apurar qual o impacto no orçamento público da medida e que meios o Estado dispõe para responder às chamadas de capital actuais e futuras.  E o Governo tem outro dossier complicado para resolver: a capitalização da CGD, também sujeita a negociações com a Europa. Ao final da tarde, o antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, veio afirmar que a discussão em redor da nacionalização do Novo Banco vai “fragilizar” a imagem do país no exterior.

Nos comentários às contas, Stock da Cunha salientou que “o reforço do balanço, quer a nível da melhoria dos activos, quer dos capitais, levou a uma subida do Core Tier 1 para 13,6%”. Mas admitiu que a evolução “foi influenciada” pela decisão do BdP retirar do perímetro do Novo Banco, para o do BES, activos tóxicos. Lembrou ainda que o elevado montante de imparidades apuradas, de 1057 milhões, são fruto em grande parte (592 milhões) de operações herdadas do BES: exposição ao risco de 50 grandes clientes e constituição de provisões para imóveis. Avançou igualmente que dos 980,6 milhões de prejuízos apurados em 2015, 78% têm origem no modelo de negócio adoptado pela equipa de Ricardo Salgado. O que se reflecte na deterioração da carteira de crédito, com o crédito em risco a ser de 22,8% e o crédito vencido de 15,5%.

Do lado positivo, Stock da Cunha salientou os resultados operacionais (da actividade) que atingiram os 125 milhões, mas ainda insuficientes para uma instituição da dimensão do Novo Banco. Também destacou a redução de custos com pessoal em 8,2%, passando para 397,6 milhões que incluem 22,8 milhões com reformas antecipadas. Em 2015, deixaram o grupo 411 colaboradores, sendo o quadro de pessoal de 7311 pessoas (740 no estrangeiro). E foram fechados 40 balcões, contando a rede comercial com 635 agências (39 fora).  

Sobre o imbróglio do concurso aberto para alienar o Novo Banco Cabo Verde, Stock da Cunha equiparou a venda de uma instituição de crédito à de um centro comercial, isto para justificar que a acção da sua equipa “foi diligente” pois tratou-se de um activo marginal ao grupo e para desinvestir. Stock da Cunha estava disponível para alienar a operação de Cabo Verde a uma empresa-escritório do empresário de futebol José Veiga, já este mês em prisão preventiva por fraude fiscal, crime de que já tinha sido acusada noutras ocasiões.  

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