Sindicatos preocupados com o futuro de cerca de 800 trabalhadores do BPN

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Estado pagará indemnizações aos funcionários dispensados sara matos

A venda do banco ao BIC levanta dúvidas à associação de clientes, que lembra promessas que ficaram por cumprir na nacionalização

O problema das oito centenas de trabalhadores que vão perder o seu emprego e o destino do dinheiro dos clientes são, neste momento, as principais preocupações no rescaldo da decisão do Governo de vender o Banco Português de Negócios (BPN) ao BIC por 40 milhões de euros.

A proposta que o Ministério das Finanças aceitou prevê que cerca de metade dos actuais 1580 trabalhadores do banco nacionalizado em 2008 sejam dispensados quando a instituição liderada por Mira Amaral tomar conta do BPN. O acordo obtido prevê, aliás, que os encargos com indemnizações a estes funcionários sejam da responsabilidade do Estado português, que neste processo assume perdas globais de 2,4 mil milhões de euros. Pouco antes da nacionalização, a administração do BPN, então liderada por Miguel Cadilhe, apresentou um plano de reestruturação que implicava injecção de capitais públicos num valor inferior a 500 milhões de euros.

Ontem, conhecida a decisão de entregar o BPN ao BIC (banco em cujo capital pontificam Isabel dos Santos, filha do presidente angolano, e o empresário português Américo Amorim), os sindicatos reagiram com preocupação face ao futuro dos trabalhadores dispensados. Rui Riso, dirigente sindical do sector, afirmou que vai ser pedida uma reunião de urgência com o Governo, após um outro encontro "com o secretário de Estado do Tesouro e com o secretário de Estado da Administração Pública", em que ficou "claro que os sindicatos seriam parceiros ou poderiam, pelo menos, dar contributos para a resolução dos problemas dos trabalhadores que não viessem a ser integrados com a venda do BPN".

Rui Riso acrescentou que quer saber por que é que não foi aceite uma outra proposta apresentada que contemplava a manutenção de todos os actuais trabalhadores do BPN. O sindicalista referia-se ao projecto entregue ao Governo pelo NEI (Núcleo Estratégico de Investidores), que terá oferecido 100 milhões de euros pelo banco a privatizar. O comunicado do Ministério das Finanças que dá conta da aceitação da proposta do BIC não refere pormenores das restantes propostas (NEI e Montepio Geral) nem justifica porque foram preteridas face à da instituição financeira liderada por Mira Amaral.

Ontem, analistas consultados pelo PÚBLICO defendiam que, no actual contexto, o acordo alcançado era o menor dos males, lembrando que a alternativa era a extinção do BPN com custos ainda mais elevados para o Estado português.

O presidente da associação dos clientes do BPN também reagiu à Lusa. "Uma das coisas que me deixa preocupado é que uma das razões da nacionalização foi salvaguardar todos os clientes", disse António Henriques, acrescentando que, "dois anos depois, o Governo não resolveu o problema das pessoas que tinham dinheiro no banco". PÚBLICO/Agências

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