Incerteza na economia faz crescer peso do sector segurador na economia

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Liberty Seguros está em Portugal desde 2003 RAQUEL ESPERANÇA

Com a economia em crise, o ramo vida da economia cresce, registando-se uma quebra do peso dos ramos reais, por causa da diminuição da actividade

O peso do sector segurador no PIB nacional deverá ultrapassar os 12 por cento durante o próximo ano, uma consequência do clima de incerteza que se tem vindo a sentir na economia portuguesa.

Quem o nota é José António de Sousa, presidente da filial portuguesa do grupo segurador norte-americano Liberty, que em declarações ao PÚBLICO recorda que, em 2003, quando a Liberty Seguros começou a operar em Portugal, o peso do sector não passava dos 5,79 por cento. Esta evolução, explica, deve-se sobretudo ao aumento da venda dos seguros de vida, que deverá representar no próximo ano 9,69 por cento da riqueza nacional (valor que há sete anos era de 3,08 por cento). Já a influência dos ramos reais no negócio global do sector tem vindo a desacelerar.

A actividade seguradora é um espelho do que se passa na economia e hoje existe uma maior apetência por parte dos portugueses para adquirirem seguros de poupança, observa José António de Sousa. "O aumento do desemprego, as fragilidades do sistema de segurança social e a perspectiva de queda das pensões estão a promover os investimentos em produtos financeiros e de reforma. Isto obriga as pessoas a poupar, algo que os portugueses não têm feito nos últimos 20 anos. E começam agora a fazer", lembrou.

No final deste ano, o sector segurador português deverá representar 11,54 por cento do PIB nacional e a estimativa é a de que o ramo vida contribua com 9,19 por cento. Nesse sentido, o gestor admite um aumento da produção seguradora neste ramo de actividade, que compensará a queda dos ramos reais, onde aliás a Liberty Seguros centra grande parte da sua actividade, com uma quota de mercado de seis por cento.

Para o CEO da Liberty, em termos globais, a facturação não vida deverá cair este ano "à volta de três a quatro por cento", uma tendência que se agravará em 2011 com um "decréscimo estimado entre os quatro e os cinco por cento".

Em 2003, quando a Liberty Seguros comprou a Europeia (que pertencia ao Crédit Suisse), a produção seguradora em Portugal, nos ramos reais, contribuía com 5,79 por cento para o PIB nacional. Mas o peso deste segmento na riqueza nacional é hoje de apenas 2,35 por cento, uma evolução que reflecte o impacto da desaceleração da actividade económica.

"Na Liberty temos dois ramos, o Acidente de Trabalho e o Automóvel, que representam uma fatia grande do nosso mercado e que são directamente proporcionais ao que acontece no país", explicou José António de Sousa.

"Se a economia está mal e as empresas fecham e vai muita gente para o desemprego, o negócio dos ramos automóvel e acidente de trabalho baixa. Se a venda de viaturas aumenta e se criam empresas a produção nestes dois ramos cresce."

Em relação à situação orçamental do país, José António de Sousa vê muitas ameaças e diz que o Governo "já não pode dizer que o que estamos a viver é devido à crise internacional, porque lá fora já toda a gente está a sair da crise. Só nós é que vamos entrar numa maior porque nos estão a contar o conto da carochinha". E se o OE de 2011 trouxer maior carga impositiva, acabará por "matar os poucos contribuintes (pessoas e empresas) que ainda podem pagar e destruir a Economia". "Dos sinais que [o OE] mandar à comunidade internacional, ganhamos credibilidade, ou perdemos o resto da decência na seriedade que ainda temos, e afugentamos os investidores internacionais."

Tendo em conta as condições macroeconómicas do país, as seguradoras decidiram este ano não apresentar ao Governo, no âmbito do OE para 2011, as suas sugestões fiscais para o sector. Para o CEO da Liberty, as medidas de ajustamentos ou melhorias de critérios e de deduções fiscais continuam a fazer todo o sentido, mesmo neste enquadramento, pois com a "a situação da economia do país, as dificuldades financeiras pelas quais atravessa a Segurança Social, há necessidade de ter um mercado de capitais sólido, que gere recursos de longo prazo passíveis de serem injectados nas empresas e, consequentemente, no fortalecimento da economia".

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