Facebook caiu 11% e fechou ensombrado por dúvidas dos investidores

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Depois do entusiasmo da estreia, o segundo dia do Facebook em bolsa foi de fortes perdas BRENDAN MCDERMID/reuters

O Nasdaq terminou em alta, mas outras empresas de Internet, como a Zynga e o LinkedIn, acabaram o dia em perda

A cotação do Facebook abriu a sessão de ontem já em perda, nos 36,56 dólares, e fechou nos 34,03, uma queda de 10,99%. A empresa perdeu cerca de 12 mil milhões de dólares da sua capitalização e as acções ficaram ensombradas por dúvidas sobre a rentabilidade futura.

Na sexta-feira, pelo menos alguns dos bancos envolvidos na operação sustentaram, com compras, o valor das acções nos 38 dólares fixados para a estreia. Agora, alguns analistas argumentam que o futuro da cotação do Facebook não tem perspectivas de melhorar a curto prazo.

Há quem defenda haver factores emocionais envolvidos na queda de ontem, em resultado dos três dias em que a narrativa dos media deu meia volta, trocando o retrato do Facebook como um enorme sucesso pelo de uma empresa com uma base de utilizadores gigante, mas um futuro incerto. "Uma das coisas que estamos a ver são muitas transacções emocionais, já que no fim-de-semana a cobertura dos media foi negativa e isso pode pesar na decisão dos investidores", afirmou um analista de mercado ouvido pela agência Reuters.

Uma das tónicas nas análises à entrada em bolsa tem sido a disparidade entre a cotação e os ganhos. A valorização obtida na sexta-feira era mais de 100 vezes superior aos lucros do ano passado, muito acima do que se regista noutras empresas. A Apple, por exemplo, tem uma valorização cerca de 20 vezes maior do que os lucros.

Um outro analista ouvido pela Reuters notou ser possível que muitos investidores podem até não estar cépticos em relação ao potencial de negócio, mas estejam a aguardar que as acções desçam ainda mais antes de comprarem. Já um gestor de fundos nos EUA confessou ao Wall Street Journal ter ficado "assustado" quando percebeu na sexta-feira que tinha recebido um lote de acções maior do que esperava, decidindo vender algumas com perdas. "Isto foi um desastre", observou.

A pressionar a cotação está também o possível aumento do número de títulos no mercado a partir de Novembro, mês em que os muitos funcionários que receberam bónus em acções vão passar a poder vendê-las. Por ora, estes multimilionários instantâneos estão obrigados a aguardar seis meses e esperar que a queda não seja abrupta. O fundador, Mark Zuckerberg, que nesta operação vendeu apenas uma parcela diminuta do capital que detém, viu a fortuna pessoal cair ontem cerca de 2200 milhões de dólares.

Na sexta-feira, a empresa lançou em bolsa cerca de 15% do capital, conseguindo um encaixe de 16 mil milhões. O montante foi um recorde para uma empresa de tecnologia.

A influenciar negativamente o preço logo desde o primeiro dia esteve o facto de o Facebook ter decidido, muito perto da estreia, aumentar em 25% o número de acções e de o preço ser o mais elevado de um intervalo de preços que já tinha sido revisto em alta. Para além disso, houve investidores iniciais que já tinham acções e que aproveitaram para vender.

A queda do Facebook aconteceu em contraciclo com o Nasdaq, que fechou com ganhos de 2,46%. A Zynga, criadora de muitos jogos para o Facebook, fechou com perdas ligeiras de 0,98%, para os 7,06 dólares. Já a rede social LinkedIn (cotada na Bolsa de Valores de Nova Iorque) acabou com um deslize de 2,29%, para os 96,75 dólares.

Ontem, o Nasdaq anunciou mudanças no sistema, para evitar a falha técnica que também afectou a estreia do Facebook e que levou a um atraso de quase meia hora no início das transacções.

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