Um elenco de luxo mas sem garantia de emoção até ao fim

O alemão Sebastian Vettel parte como favorito para uma temporada em que pode tornar-se o mais jovem tricampeão mundial. McLaren e Ferrari são as maiores ameaças. Audiências televisivas ressentem-se da monotonia e falta de ultrapassagens

Michael Schumacher, Fernando Alonso, Kimi Raikkonen, Lewis Hamilton, Jenson Button e Sebastian Vettel. Nunca na história do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 houve tantos campeões mundiais juntos na mesma temporada. Os seis pilotos consagrados formam um elenco de luxo para a competição, que se inicia neste fim-de-semana. Mas isso não é total garantia de competitividade, depois de um ano em que a Red Bull e Vettel foram muito superiores à concorrência.

É certo que cada vez que se inicia uma nova temporada, as equipas colocam os contadores a zero e tudo pode acontecer. Mas também é verdade que nada de substancial mudou na Red Bull, grande dominadora das últimas duas temporadas. "O Vettel está mais forte mentalmente, o engenheiro [Adrian Newey], que é um génio, é o mesmo, o chefe das boxes é o mesmo. Se Newey não fez nenhuma asneira do ponto de vista aerodinâmico, que é o que mais interessa, não estou a ver quem possa fazer-lhe frente", diz Domingos Piedade, administrador do Autódromo do Estoril e um dos portugueses que melhor conhecem a Fórmula 1.

Sebastian Vettel, de 24 anos, parte assim como o grande favorito. E se ganhar, torna-se o mais jovem tricampeão mundial, juntando-se a Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher na lista dos pilotos com três títulos consecutivos. "Estou aqui para ganhar o Mundial. É esse o objectivo", disse ontem Vettel, em Melbourne, onde na próxima madrugada (6h, hora de Lisboa) se realiza a qualificação para a primeira prova da época. O alemão foi mesmo o mais assertivo dos candidatos, num dia em que assumiu que Michael Schumacher é o seu "herói": "Tinha alguns posters dele na minha parede, é verdade, mas quando fiquei mais velho troquei-os por outros", brincou Sebastian, cuja carreira é cada vez mais comparada à de Schumacher.

Na Fórmula 1, aliás, já se fala de um "efeito Vettel", similar ao que aconteceu com Schumacher (2000 a 2004), quando o alemão conquistou cinco títulos seguidos. A competitividade e a emoção foram então substituídas pela monotonia e previsibilidade, o que afastou alguns fãs.

Os dados sobre as audiências televisivas em 2011, revelados pela Formula One Management (FOM), indiciam uma quebra do número de telespectadores. Depois de ter anunciado que a temporada de 2010 foi acompanhada por 527 milhões de telespectadores, desta vez a empresa que gere a F1 não desvendou os números globais. Mas os dados parciais mostram que houve descidas em países importantes, como Inglaterra, Itália, França, Brasil e Polónia.

Há aspectos específicos de cada mercado - como o facto de os pilotos italianos terem perdido peso na prova, a ponto de nesta época não haver nenhum, ou de a Polónia se ressentir da ausência de Robert Kubica -, mas também há o efeito da superioridade de Vettel, acompanhada pela velha ideia de que há poucas ultrapassagens na F1.

As estatísticas mostram que 2011 até foi o ano com mais ultrapassagens desde a década de 1980 (1151 contra 547 em 2010 e 244 em 2009), embora estes números sejam relativizados por Domingos Piedade: "O incremento das ultrapassagens foi por causa da mudança do fabricante de pneus", justifica este analista, para quem só uma mudança radical de regulamentos permitirá que as provas se decidam "com ultrapassagens dentro da pista e não nas boxes": "Os mecânicos são hoje os que verdadeiramente não podem falhar, porque cada troca de pneus pode significar décimos de segundos decisivos", argumenta Piedade.

Os rivais de Vettel

Depois de uma pré-temporada em que as equipas preparam os novos carros, esmiuçaram os regulamentos e se desdobraram em testes, emerge a sensação de que Vettel parte em vantagem. Mas o alemão não está sozinho na luta. O seu primeiro adversário é o veterano Mark Webber, que aproveitou as férias para perder peso, e assim tentar reduzir diferenças para o colega de equipa.

A McLaren, por sua vez, sai da pré-época com confiança, depois de na fase final de 2011 ter superado a Red Bull. Lewis Hamilton espera que os carros não façam tanta diferença como na temporada passada e Jenson Button diz que não podia estar "em melhor equipa".

Já a Ferrari desiludiu nos testes de Inverno, embora Fernando Alonso realce que "as corridas são a hora da verdade". Uma frase que também serve para a Mercedes, cujos progressos nos testes têm agora de ser confirmados quando os motores rugirem a sério. É que acabaram os jogos das escondidas. Na qualificação de amanhã e na corrida de domingo (ambas às 6h), cada um mostrará o que realmente vale.

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