Miguel Relvas, Silva Carvalho e Rafael Mora jantaram no "Gigi"

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Relvas deu explicações sobre secretas na comissão parlamentar ENRIC VIVES-RUBIO

O ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, o ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), José Silva Carvalho, e o número dois e estratega do grupo Ongoing, o espanhol Rafael Mora, juntaram-se os três, a 5 de Agosto de 2011, no Algarve, para jantar no restaurante Gigi na Quinta do Lago. Era sexta-feira. No dia seguinte o Expresso ia sair com a primeira notícia sobre o dossier das secretas. O encontro, referido nos autos do processo, foi palco de troca de mensagens. Uma, enviada às 21h51, pelo assessor de imprensa da Ongoing, a Jorge Silva Carvalho, a dizer-lhe para ficar atento ao semanário. Os autos fazem ainda menção a outros SMS, nomeadamente um enviado a Miguel Relvas, a 6 de Junho do mesmo ano, pelo ex-espião, então responsável da Ongoing, com o pelouro da comunicação. Era segunda-feira, no dia seguinte à vitória do PSD nas eleições legislativas.

Quem, naquela noite de Verão, viu Relvas, Silva Carvalho e Rafael Mora em amena confraternização não imaginava que o relacionamento entre eles já vinha de trás. Os três frequentam há vários anos os mesmos círculos, um deles é a maçonaria. O ministro jurou obediência à loja Universalis, do Grande Oriente Lusitano (GOL); o ex-espião e o número dois da Ongoing (assim como Nuno Vasconcellos, o presidente) são irmãos na Mozart, da Grande Loja Regular de Portugal (GLRP). Mora está ainda ligado à maçonaria espanhola.

Os três coincidiram também no encontro de quadros da Ongoing, a 17 e 18 de Dezembro de 2010 e um mês depois de Silva Carvalho ter deixado as secretas (19 de Novembro), alegando divergências de funcionamento (no mesmo dia o Sol noticiou que a saída se devia a contestação interna por manter relações privilegiadas com a Ongoing) [ler PÚBLICO de 26 de Fevereiro de 2012].

Nesse fim-de-semana de Dezembro, Vasconcellos surpreendeu a plateia de quadros ao desafiar Silva Carvalho para ir trabalhar para a Ongoing. O ex-espião foi um dos que esteve presente no Museu do Oriente, a assistir ao encontro, ao lado do ex-deputado do PSD, Agostinho Branquinho, do ex-ministro do PS, Pina Moura, do ex-administrador da PT, Soares Carneiro, do ex-ministro do PS, José António Pinto Ribeiro, e do ex-presidente do BCP, Paulo Teixeira Pinto. Todos colaboradores do grupo.

Pouco depois o auditório foi surpreendido com uma intervenção inesperada: através de vídeo-conferência, Miguel Relvas surgiu a elogiar a Ongoing. O meio usado também pelo ex-ministro de Durão Barroso, José Luís Arnault, e braço direito do presidente da Comissão Europeia em Portugal, e pelo ex-ministro de Cavaco Silva, Eduardo Catroga, para expressarem o seu apoio a Mora e a Vasconcellos. Ao PÚBLICO, Relvas explicou por que acreditava na Ongoing: "É sempre bom ter um grupo português com capacidade de se internacionalizar, mas nunca trabalhei com eles."

Quem estava também no Museu Oriente foi Evanise Santos, namorada de José Dirceu, e, na altura, directora de marketing da Ongoing no Brasil. Um país bem conhecido de Relvas, mas também dos sócios da Ongoing que já vivem mais de metade do ano do outro lado do Atlântico. Relvas, Mora e Vasconcellos têm outro amigo comum: o poderoso ex-ministro da Casa Civil de Lula, José Dirceu. Colunista dos jornais da Ongoing no Brasil, o advogado paulista conhece Relvas desde o início de 2004, facto que o próprio já confirmou.

A conexão entre gabinetes de advocacia brasileiros e nacionais é hoje um ponto importante nas relações de negócio entre os dois países lusófonos e ajuda a compreender como se articulam os vários interesses em jogo. José Dirceu, que está no epicentro do caso Mensalão, é sócio de um grupo de sociedades brasileiras, de advocacia e de consultoria, usadas por grupos internacionais que querem investir no Brasil. Em Portugal, Dirceu é parceiro do escritório de advocacia, Lima, Serra, Fernandes & Associados, chefiado por Fernando Lima, grão-mestre do GOL, e pertence à mesma loja de Relvas. Foi através de um dos sócios, João Abrantes Serra, que Dirceu conheceu Vasconcellos e Rafael Mora. Todos são amigos.

A 8 de Janeiro a revista Piauí, numa reportagem, com o título, "O consultor: A nova vida de José Dirceu, repleta de viagens, negócios, conversas, Internet, nostalgias da política e xingamentos em restaurantes e aeroportos", relatava um episódio passado no aeroporto de Lisboa onde Dirceu se perdeu: "Lamentava ter comido muito e tomado duas garrafas de vinho na noite anterior, em companhia do deputado português Miguel Relvas." Outra curiosidade: A Ongoing é assessorada pela Cunha Vaz e Associados, que tem um profissional destacado no gabinete de Relvas. "Confirmo que a empresa tem um elemento requisitado pelo Gabinete do ministro Relvas, à semelhança do que acontece com as restantes empresas de Consultoria em Comunicação, que também colocaram colaboradores noutros gabinetes." António Cunha Vaz garante não ter negócios com o Governo.

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