Irlanda e Portugal cada vez mais próximos em caso de ajuda financeira da zona euro

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Dublin está sob a pressão de algumas capitais para pedir ajuda PETER MUHLY/AFP

Em Bruxelas há quem admita a inevitabilidade da ajuda conjunta aos dois países, mas a Irlanda continua sem ceder às pressões. Ministros das Finanças da UE têm hoje o tema na sua agenda

A incerteza regressou à zona euro com a especulação ao rubro sobre as probabilidades de a Irlanda se resignar a pedir a ajuda financeira da zona euro, um cenário que quase seguramente incluirá Portugal no quadro de um "pacote" entre os dois países.

Esta ligação entre as duas economias mais frágeis da zona euro - a Grécia é objecto de um plano de socorro diferente - foi feita por um alto responsável europeu, que a considerou inevitável para evitar um risco de contágio da especulação financeira a Portugal e, sobretudo, aos países da "segunda linha", Espanha e Itália.

Dublin, que continua a recusar formalizar qualquer pedido de ajuda, está sob a pressão de algumas capitais, a par do Banco Central Europeu, para pedir a activação do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF) de 750 mil milhões de euros que foi criado em Maio para socorrer os países em dificuldades de financiamento.

"Se houver um programa [de ajuda à Irlanda] será para os dois países", afirmou o responsável, sob anonimato. Teixeira dos Santos, ministro português das Finanças, lançou alguma confusão em Lisboa e Bruxelas ao dar sinais de admitir isso mesmo quando afirmou ao Financial Times existir "um risco elevado" de Portu- gal ter de vir a pedir a ajuda da eurolândia. "Há um risco elevado porque não estamos a enfrentar apenas um problema nacional ou de um país. É o problema da Grécia, Portugal e Irlanda"."Isto tem a ver com a zona euro e com a estabilidade da zo- na euro, e é por isso que o contágio neste quadro é mais provável", defendeu. A afirmação foi posteriormente afastada pelo próprio Teixeira dos Santos (ver texto ao lado). "As declarações que fiz ao Financial Times em nada admitem" um pedido de ajuda, insistiu ao Jornal de Negócios, embora reconhecendo que "a probabilidade de a Irlanda recorrer ao fundo aumentaria a pressão dos mercados sobre Portugal".

O gabinete do primeiro-ministro disse por seu lado ao PÚBLICO que Teixeira dos Santos foi "mal interpretado".

Um porta-voz da Comissão Europeia reconheceu que "há contactos regulares com os estados-membros da zona euro, sobretudo com os países que estão numa situação orçamental mais difícil". Isto porque a si- tuação na Irlanda suscita "tensões nos mercados" e "preocupações" sobre "a estabilidade financeira" na zona euro, frisou.

A grande questão que se coloca é saber se os ministros das Finanças da zona euro anunciarão hoje um plano de ajuda, e, nesse cenário, se será para um ou dois países.

Irlanda resiste às pressões

Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo que preside ao eurogrupo, afastou ontem essa eventualidade. "Os irlandeses pensam que conseguem manter os problemas que enfrentam sob controle" e "não estão perto do momento em que pedirão ajuda externa", afirmou, citado pela Bloomberg.

A presidência belga da UE limitou-se por seu lado a afirmar que os países do euro estão à espera de ouvir as explicações "não apenas da Irlanda, mas também de Portugal e Grécia" sobre as respectivas "intenções" no plano orçamental.

"O Estado irlandês está financiado até uma parte do próximo ano", mas são os bancos "que estão no centro dos problemas da Irlanda", frisou por seu lado Vítor Constâncio, vice- presidente do Banco Central Europeu (BCE), durante uma conferência em Viena.

As dificuldades resultam dos custos astronómicos, até 50 mil milhões de euros, que Dublin enfrenta para assegurar o resgate, ou liquidação, de alguns bancos em situação desastrosa. A consequência é que o Orçamento do Estado poderá ter este ano um défice de 32 por cento do PIB, um valor que fez disparar os juros pedidos pela dívida irlandesa.

Segundo Constâncio, o EFSF também poderá ajudar os bancos, como já fora aliás reconhecido pela Comissão Europeia.

O Governo de Brian Cowen continua no entanto a resistir às pressões. "Temos de resolver os nossos problemas por nós", defendeu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dick Roche.

Grande parte da resistência tem a ver com o receio dos irlandeses de perder soberania, conscientes que estão de que a activação do fundo os colocará sob a tutela dos parceiros.

"A soberania deste país foi ganha com muito esforço e o Governo não tem a intenção de a ceder a quem quer que seja", afirmou durante o fim-de-semana Batt O"Keeffe, ministro irlandês do Comércio.

Porventura mais importante é a possibilidade de os países do euro exigirem um aumento da taxa do imposto sobre as empresas (IRC) - actualmente de 12 por cento - no programa de contrapartidas para a activação do EFSF, o que Dublin recusa terminantemente.

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