Dirigentes do BE e do PCP agredidos pela polícia espanhola na fronteira

"Eu não quero tratamento preferencial, eu quero é o seu nome e posto." Terá sido esta frase, proferida pelo dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, a desencadear o incidente que ocorreu ontem de manhã na fronteira luso-espanhola, em Rosal de la Frontera. Seis camionetas portuguesas, número que englobava os veículos do BE, da associação ATTAC e da Rede Anti-Racista, que pretendiam chegar a Sevilha para a manifestação antiglobalização "contra a Europa do capital e da Guerra", foram impedidas de atravessar a fronteira pela polícia espanhola.Francisco Louçã e Miguel Portas chegaram mesmo a ser agredidos por cerca de 12 membros da Guarda Civil, quando já depois de terem descido do seu autocarro, exigiam explicações e pediam identificações aos polícias pelo impedimento de passarem para Espanha. Assim que os autocarros pararam na fronteira, as autoridades policiais espanholas deram a entender que tinham "ordens de Madrid" para não deixar passar qualquer camioneta. De acordo com Francisco Louçã, os polícias espanhóis adoptaram desde logo uma postura de alguma agressividade, com armas de fogo apontadas aos manifestantes, no sentido de os impedir de sair sequer dos veículos. "Estavam de cabeça completamente perdida", disse Francisco Louçã sobre a dúzia de polícias que o forçaram a entrar no autocarro aos empurrões e bastonadas.Segundo Louçã, estas agressões verificaram-se já depois de se ter indentificado como dirigente do BE e como deputado português. A polícia disse-lhes então que, nesse caso, ele poderia passar para o lado espanhol, mas os outros teriam de ficar. É então que o deputado diz que não quer tratamento preferencial e pede a identificação ao polícia, o que, de acordo com o dirigente do Bloco "fez o polícia perder a cabeça" e iniciar as agressõesCom Ângelo Alves, do PCP, a situação chegou ao ponto de haver "rolos fotográficos confiscados à força". Aquele dirigente do comité central do Partido Comunista foi também obrigado a regressar à camioneta - "torceram-me o braço" - depois de ter exigido à polícia espanhola "um documento escrito com as razões" para a fronteira barrada. "Esse documento foi-me recusado. Foi então que os meus camaradas começaram a tirar fotografias, e eles entram pela camioneta confiscando as máquinas e molestando as pessoas". Esses objectos só foram devolvidos já no regresso a Portugal e sem os rolos. De acordo com Ângelo Alves, "os portugueses não tiveram qualquer acto violento" que justificasse aquela intervenção.A maioria das camionetas provenientes de Portugal com destino centrado na manifestação antiglobalização, não tiveram sorte diferente. José Neves, da ATTAC confirmou ter sido também impedido de entrar em Espanha: "A camioneta foi imediatamente rodeada por forças de intervenção da guarda civil que nem nos deixaram sair." A história repetiu-se com a Rede Anti-racista. Foram os primeiros a chegar à fronteira e os primeiros receber "guia de marcha". Os dois autocarros que tinham partido do Porto, com o deputado bloquista João Teixeira Lopes a bordo, também teve de fazer marcha-atrás em Mourão.Em qualquer um dos casos, as autoridades espanholas terão justificado a obrigatoriedade de regressar a casa com "razões de segurança nacional". Ao que tudo indica, nenhum destes veículos fez uma segunda tentativa para chegar a Sevilha. As duas camionetas do PCP regressaram a Lisboa quando a GNR portuguesa os informou que os seus autocarros "já estavam cadastrados". Louçã não quis obrigar os motoristas da empresa privada que o transportava a ir contra as ordens do patrão. Que lhes tinha dado ordens expressas para fazerem apenas o percurso estipulado."Já deu para perceber que para os espanhóis a liberdade de circulação [na União Europeia] tem dias", desabafou José Neves da ATTAC. Antes disso já o BE tinha reagido aos incidentes: "É extraordinário que o Governo espanhol considere uma séria ameaça à segurança nacional do seu país, umas centenas de portugueses que mais não queriam que exercer o seu direito de se manifestarem em Sevilha", criticou o dirigente do BE. Louçã classificou o incidente como um "excesso de zelo de quem substituiu o cérebro pelo bastão de um polícia desesperado". Para Ângelo Alves, o sucedido ontem foi uma "aitude deplorável, quer a violência, quer a arrogância". Um episódio "estranho" para José Neves. "Já nem se trata da questão do acordo de Schengen [suspenso há alguns dias pelos espanhóis] ser posto de parte. Há 15 anos atrás as fronteiras funcionavam melhor que hoje", disse. Este dirigente promete apresentar queixas junto das autoridades portuguesas e europeias pelo que caracterizou como uma "carga polícial"

Sugerir correcção