Comprar dívida para ajudar o euro e reunir apoio político

Para os países periféricos do euro, a compra da sua dívida pública pela China é um sinal de confiança que a segunda maior economia do mundo envia aos mercados internacionais e que pode pressionar uma descida dos juros dos títulos espanhóis, gregos ou portugueses. Mas, para a China, a história vai além do altruísmo.

Em primeiro lugar, ao comprar dívida de outros países, a China diversifica as suas reservas gigantescas, que estão em mais de 75 por cento dependentes do dólar, e ajuda a manter forte o euro face à moeda norte-americana. Por outro lado, faz "um brilharete diplomático" e pode conseguir "reunir apoios políticos para atenuar a pressão que os EUA têm exercido para valorizar a sua moeda", destaca Miguel St. Aubyn, economista e docente no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).

Um professor do Banco Central chinês, Wang Yong, veio defender recentemente a compra de dívida pública europeia por parte da China, não só para ajudar a zona euro a sair da crise, mas para reunir apoio que permita limitar até três por cento a valorização da moeda chinesa. Segundo o académico, os exportadores chineses apenas conseguem aguentar uma valorização do yuan até cinco por cento, um valor muito abaixo das avaliações feitas no Ocidente quanto à real subvalorização da moeda chinesa (acima dos 20 por cento).

Nos últimos meses, o Governo chinês tem estado debaixo de fogo, sobretudo por parte dos EUA, para deixar avaliar a sua moeda, que se tem mantido a um nível artificialmente baixo, beneficiando as exportações.

Quando existe uma moeda desvalorizada, um país gera mais facilmente excedentes comerciais e atrai investimento estrangeiro, acumulando reservas de divisas de outros países. O problema é que, no contexto da crise, outros países além da China têm procurado desvalorizar as suas moedas para estimular a competitividade da sua indústria exportadora.

Quem tem pago a factura são os países emergentes, pois os investidores transferem o investimento das moedas mais fracas para as divisas mais rentáveis destas novas economias. E isso está na origem da chamada "guerra cambial", que deverá estar na agenda da próxima cimeira do G20, nos dias 11 e 12 de Novembro. Ana Rita Faria

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