CAVACO SILVA ENCHEU DE ORGULHO OS CONTERRÂNEOS DE BOLIQUEIME

Na aldeia de Boliqueime, Cavaco teve mais de 70 por cento de votos, tem um primo a quem chama o "assessor algarvio", para ver e ouvir o que diz o povo Por Idálio Revez

No cavaquistão algarvio, Boliqueime, não se fala noutra coisa: "O filho do senhor Teodoro é Presidente da República." Cavaco Silva, ainda que há muitos anos esteja afastado da terra, por motivos profissionais, ontem era recordado quase como o anjo que desceu à terra. "É verdade, sim senhor, subiu na vida a pulso", asseguram os mais próximos. Os críticos limitam-se a dizer que ele "é um pouco rijo".As origens rurais de novo Presidente da República fazem o orgulho dos que viram nascer, no Poço de Boliqueime - o sítio que passou a Fonte, depois de ele ser primeiro-ministro. Henrique Fantasia é um dos poucos que se pode gabar de ser seu amigo do peito, mas passa incógnito. O seu telemóvel, ontem, recebeu quatro chamadas do professor. De resto, Cavaco Silva, quando estava em São Bento, apresentava-o ao staff, meio a brincar, como sendo o "assessor algarvio". A amizade, cimentada nas brincadeiras de moços e nos namoricos de juventude, uni-os ao longo da vida. "As nossas mulheres são primas, namorámos juntos e somos amigos", confirmou.
Através deste conterrâneo, dirigente do lar de idosos de Boliqueime, Cavaco Silva vai sabendo "o que diz o povo" sobre a vida e a política nos algarves. Na aldeia, o candidato independente, apoiado pelo PSD e CDS, obteve 73,3 por cento dos votos. "Quando foi conhecido o resultado da freguesia, atirámos dois foguetes", conta o "primo" algarvio. Nessa altura, a vitória à primeira volta ainda não era dada como certa. "Aquilo, a princípio, parecia estar um pouco tremido." Duas horas depois, foi a explosão de alegria com festa pela noite dentro.
O presidente da junta de freguesia, Rui Mogo, independente, eleito na lista do PS, diz: É um orgulho para nós termos um filho da terra em Presidente da República." Sublinha que Cavaco Silva apresentou-se como "independente". Um outro companheiro de escola, o carpinteiro Serpa, enfatiza: "Conheço-o desde que sou gente." Quanto à popularidade, não partilha da opinião da maioria: "É simpático agora." Sobre as origens, filho de um gasolineiro, afirma: "Nasceu filho do "homem da bomba", mas depois... não fica bem falar." Meia volta e acabou-se a conversa. António das Dores, militante do CDS, tem uma opinião contrária: "Os que dizem que ele não fala com as pessoas não compreendem o trabalho que ele tem." "Para mim, basta-me que ele levante a mão quando passa."
O tesoureiro da junta de freguesia, José da Silva, antigo motorista da empresa de trituração de alfarroba da família Cavaco Silva, afirma: "O senhor Teodoro governava-se bem, mas nem sempre foi assim." Por experiência própria, conta que o patrão chegou a andar a guiar um camião e descarregava fruta. Mas, nos anos 60, já exportava alfarroba e amêndoa para o estrangeiro, possuía quatro ou cinco camiões e tenha mais de uma dezena de empregados. "Era a casa que dava trabalho aos pobres." Quanto ao feitio do Cavaco, evoca: "É um pouco rijo, sai ao pai, mas não vejo mal nisso."
Henrique Fantasia, por outro lado, acrescenta que o amigo, em privado, "conta anedotas, e é uma pessoa bem-disposta". Ao ser surpreendido, ontem, a tomar a bica no café O Central, desabafou: "Sempre fugi dos jornalistas." Abriu uma excepção para lembrar que o amigo, mesmo em férias, "está sempre a trabalhar". Quanto à polémica sobre o berço natalício do professor - Poço ou na Fonte de Boliqueime -, observa: "Sempre conheci o local como fonte." De resto, acrescenta que foi ele, quando Cavaco era primeiro-ministro, quem mandou uma cópia da ficha da sua inscrição na escola primária, para provar à Junta Autónoma das Estradas (JAE) que o local era Fonte de Boliqueime, e não Poço, como estava afixado na placa da EN125.
Poço ou Fonte de Boliqueime? O próprio Cavaco, no dia 4 de Setembro de 1961, quando requereu ao presidente da Câmara de Loulé para atestar o seu "comportamento moral e civil" para efeito de isenção de propinas, identificou-se como residente no Poço de Boliqueime. No mesmo ano, o presidente da junta declarou que ele residia na Fonte de Boliqueime.

Sugerir correcção