Cavaco Silva culpa actual administração do BPN pelo falhanço

No último debate a política dominou. Cavaco e Alegre divergiram em relação ao Estado social

a Cavaco Silva criticou ontem directamente a administração do BPN nomeada pelo Governo após a nacionalização deste banco por não ter conseguido resolver a situação e continuarem a ser necessárias injecções de dinheiro do Estado naquela instituição financeira. O ainda Presidente da República e recandidato usou mesmo o caso de Inglaterra para questionar em directo na RTP1 a actuação da administração do BPN já quase no final do último frente-a-frente eleitoral, moderado por Judite de Sousa, que o opôs a Manuel Alegre.

Foi o mais político dos frente-a-frente desta campanha e aquele em que a linha divisória do posicionamento ideológico dos dois candidatos foi mais visível. E foi aquele em que quer Cavaco quer Alegre surpreenderam. Cavaco pela agressividade. Uma táctica de debate que procurou inverter a atitude defensiva e autojustificativa que adoptou face aos outros candidatos. De forma paternalista, acusou Alegre de mentir e de não estar informado.

Já Alegre surpreendeu pela forma elegante com que ignorou a crispação de Cavaco e como nunca se irritou. E apenas foi dizendo que Cavaco lidava mal com as críticas e com opiniões políticas diferentes. O único momento em que Alegre usou a acusação directa a Cavaco foi quando levantou o caso das escutas, que considerou ter posto em causa o regular funcionamento das instituições e que o Presidente, na sua opinião, nunca esclareceu. Aqui Cavaco ignorou o ataque e apenas disse que Alegre estava mal informado.

A divisória ideológica entre os dois principais candidatos foi a marca do confronto mais político do ciclo de debates. E foi chamada à colação por Alegre ao assumir-se como senhor de uma "visão mais aberta" e "progressista" e ao lembrar as posições de Cavaco contra leis de costumes como a da despenalização do aborto, da procriação medicamente assistida e a do divórcio.

Esta divisão manifestou-se depois no papel do Estado e do Presidente face aos mercados e à crise económica. Em que Alegre defendeu a necessidade de o Presidente ser uma voz activa de defesa dos interesses de Portugal e em que sustentou ainda a necessidade de que sejam revistas as soluções para a crise pelos dirigentes políticos da Europa, já que se trata de um problema político. Cavaco explicou que a posição do Presidente em matéria de política externa tem que ser coordenada com o Governo. E insistiu na tese de que os responsáveis portugueses não podem afrontar os "credores", as "companhias de seguros, fundos de pensões e bancos", dos quais o país depende.

Mas a grande divisória foi estabelecida em torno do Estado social. Ainda que tenha tentado passar a imagem de que é defensor do Estado social, Cavaco não conseguiu com clareza fazer a defesa do Estado social e deixou-se encostar ao assistencialismo liberal. Não conseguiu responder às acusações de Alegre que o colaram a um projecto para "esvaziar os direitos sociais". Assim como se limitou a insistir na defesa de um sistema nacional de saúde sem assumir se é a favor da sua universalidade e da gratuitidade, como fez Alegre.

E irritou-se mesmo quando Alegre o colou a soluções assistencialistas de combate à pobreza que põem em causa e têm como fim "esvaziar" os serviços públicos. Numa alusão a uma iniciativa de distribuição das sobras dos restaurantes pelos necessitados que foi apoiada e lançada por Cavaco.

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