Wayne Rooney tem mais 97 internacionalizações que Cherno Samba

A história de um avançado que chegou a sentar Rooney no banco nas selecções jovens de Inglaterra, mas que abandonou o futebol aos 26 anos, a jogar na segunda divisão da Noruega.

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Samba foi internacional inglês entre os sub-14 e os sub-20 DR

Na última terça-feira Wayne Rooney cumpriu a sua 101.ª internalização pela selecção inglesa, mais de 11 anos depois de se ter estreado. O avançado do Manchester United é, justamente, considerado um dos melhores futebolistas britânicos da última década, um talento que prometeu quando apareceu, ainda adolescente, na primeira equipa do Everton, e que cumpriu a promessa nos red devils. Claro que nem sempre é assim. Por cada Rooney que vinga, centenas de jogadores ficam pelo caminho. Esta é a história de um deles, de alguém que atirava Rooney para o banco nos jogos das selecções jovens de Inglaterra. Cherno Samba, que tem apenas menos 15 dias de idade que Rooney, foi dos que ficou pelo caminho.

O nome tem sonoridade brasileira, mas Cherno Samba nasceu em Banjul, capital da Gâmbia, país da África Ocidental. A família mudou-se para Watford, uma cidade nos arredores de Londres, e o jovem Cherno começou a dar nas vistas na equipa da sua escola. Os números eram o suficiente para chamar a atenção: com 13 anos, Cherno marcou 132 golos em 32 jogos, uma média superior a quatro golos por jogo. Os grandes de Inglaterra ficaram de sobreaviso, mas o jovem goleador acabaria por assinar pelo Millwall, equipa de Londres.

Samba começou a ser chamado para as selecções jovens de Inglaterra e a deixar a sua marca. Ao mesmo tempo, Rooney ia também queimando etapas nos escalões de formação do Everton. “Muitas vezes formei dupla com o Wayne Rooney e ele chegava a ficar no banco quando eu jogava. É um tipo impecável e um bom amigo. Gostava de estar onde ele está agora”, contava Samba em 2012 ao Daily Observer, jornal da Gâmbia. Uma guerra pela contratação de Samba começou.

Segundo a imprensa da altura, Manchester United, Arsenal e Liverpool eram os principais interessados. Em 2000, com 15 anos, Samba foi cumprir uma semana de treinos na academia do Liverpool, que queria ficar com ele. Gerard Houllier, o treinador da equipa principal, queria a sua contratação, e a equipa de Anfield ofereceu um milhão de libras. Num dia em que estava a ir para a escola, Samba até chegou a receber um telefonema de Michael Owen, estrela dos reds para influenciar a decisão. Mas o negócio não se fez. O Millwall queria dois milhões de libras.

Samba acabou por ficar no clube e assinou um novo contrato com a promessa que iria ter um contrato profissional de três épocas quando fizesse 17 anos. Em Agosto de 2002, Wayne Rooney estreia-se pelo Everton num jogo da Premier League e em Outubro desse ano marca o seu primeiro golo como sénior num jogo da Taça da Liga. Samba, por seu lado, continua sem ver a promessa cumprida, mas já é uma estrela virtual no Championship Manager, famoso jogo de gestão de futebol. Em Fevereiro de 2003, Sven Goran Eriksson promove a estreia de Rooney na selecção inglesa e em Setembro seguinte marca o seu primeiro golo. No final da época 2003-04, Rooney transfere-se para o Manchester United por 25,5 milhões de libras, enquanto Samba é dispensado do Millwall. Minutos jogados na equipa principal: zero.

“Foi uma tortura. O meu futebol foi pela janela. Seja aos dez, aos 15 ou aos 38, quando falha a transferência para um clube grande, ficamos em baixo. Comecei a ter dúvidas e tentei desistir do futebol”, contava Samba ao Guardian em 2005. O jovem avançado tornou-se num “globetrotter” do futebol. Andou por Espanha (Cádiz e Málaga B), regressou a Inglaterra (Plymouth e Wrexham), e passou por Finlândia (Haka), Grécia (Panetolikos) e Noruega (Tonsberg), sem deixar marca em nenhum lado.

Quando deixou de ter idade para representar as selecções jovens de Inglaterra (foi internacional entre os sub-14 e os sub-20), Samba teve um convite para representar a selecção do país onde nasceu, cumprindo apenas quatro internacionalizações pela Gâmbia (um golo). Samba foi visto a jogar pela última vez na II Divisão norueguesa em 2012. Marcou dois golos. Tinha 26 anos quando deixou de jogar futebol e pouco para mostrar da sua carreira, para lá do estatuto de promessa perdida e celebridade virtual.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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