Vuelta: nos picos da Europa, foi Quintana quem "picou" melhor

O ciclista colombiano recuperou a liderança da classificação, numa grande etapa, na Volta a Espanha.

Foto
Nairo Quintana tem um grande amigo como adversário no Tour LIONEL BONAVENTURE/AFP

Grande espectáculo de ciclismo na Volta a Espanha. Nairo Quintana (Movistar) venceu a décima etapa, na chegada aos míticos Lagos de Covadonga, no Parque Nacional dos Picos da Europa.

O ciclista colombiano "voou" e deixou todos os rivais para trás, recuperou a camisola vermelha e marcou uma forte posição na luta pela vitória na Vuelta. Gesink (Lotto-Jumbo) e Froome (Sky) completaram o pódio desta etapa, com o britânico a andar numa autêntica "montanha russa", na última subida do dia.

Na luta pela classificação geral, Quintana foi mesmo o grande vencedor do dia, depois de ter deixado todos os adversários para trás. Froome, que parecia estar num mau dia, começou a subida final a perder contacto com o grupo principal, chegou a estar a mais de 40 segundos dos principais rivais, mas, depois de uma subida inacreditável, encontrou o seu ritmo e conseguiu ultrapassar os adversários, um por um. Conseguiu até ganhar tempo a Alberto Contador, o único que, de início, conseguiu acompanhar a "mota" de Quintana. Só Quintana (e Gesink, que acabou por cortar a meta junto de Froome), depois de uma grande demonstração de força, não foi apanhado pelo britânico, que está agora a mais de meio minuto do colombiano da Movistar.

Uma etapa mítica antes do dia de descanso

Na décima etapa, chegaram os míticos Lagos de Covadonga, situados no Parque Nacional dos Picos da Europa. Antes do dia de descanso, esperava o pelotão da Vuelta uma etapa muito dura, a terminar com chegada em alto. A “receita” da organização mantém-se: etapas planas, durante muitos quilómetros, mas com subidas muito duras, para acabar.

Os 188,7 quilómetros desta etapa foram corridos na região das Astúrias. Com partida no “paraíso natural” de Lugones e chegada a mais uma localidade cheia de riqueza natural – Cangas de Onís –, os ciclistas terminaram a tirada de hoje num dos pontos mais emblemáticos do ciclismo mundial: os Lagos de Covadonga. Desde 2010 que a Vuelta passa por aqui de dois em dois anos.

A bonita zona das Astúrias e, em particular, dos Lagos de Covadonga, prometia ser muito feia para os corredores. Ainda antes da subida aos Lagos, os corredores tiveram de ultrapassar uma subida de primeira categoria, até ao Alto del Mirador del Fito. Depois deste “aquecimento”, veio uma montanha “brutal” e “destruidora”, como a classificaram alguns especialistas: uma subida de categoria especial com inclinação média de 7,2%, durante mais de 12,2 quilómetros, e com zonas a 17,5% de inclinação.

Depois de ter chegado à liderança, na etapa nove, o líder David de la Cruz dificilmente dormiria hoje vestido de vermelho. A dureza da etapa não se adequava às características do espanhol, mas poderia ser ideal para ciclistas como Nairo Quintana, Chris Froome ou Alberto Contador darem “show”.

A etapa começou com muitos incidentes, quedas e nervosismo no pelotão. Acabou por se isolar um grupo de 16 fugitivos, entre os quais José Gonçalves, Robert Gesink, Pierre Rolland ou um dos corredores mais activos desta Vuelta, Luis Angel Maté. O grupo chegou a ter uma vantagem superior a 5m30s.

Omar Fraile (“rei da montanha” em 2015) foi o primeiro a passar no topo da primeira subida e o grupo de fugitivos iniciou a subida aos Lagos de Covadonga com cerca de dois minutos de vantagem para o pelotão.

O "show" de Quintana e as sete vidas de Froome

No pelotão, logo no início da subida, chegou a surpresa: com o ritmo da Movistar, Chris Froome descola do grupo principal, mas dois “soldados” da Sky mantiveram-se junto do líder. Parecia um mau dia para o britânico, mas Froome preparava-se para fazer uma subida "à Froome", poupando energias, no início, e encontrando um ritmo constante e confortável, para o que restava da escalada.

Com a proximidade à meta, começou o espectáculo. Contador e Quintana atacaram, deixaram os adversários “a pé” e seguiram a um ritmo que ninguém conseguiu acompanhar.

Mais atrás, Froome lembrava os adversários de que tem sete vidas. O britânico fez uma subida inacreditável - começando por ceder -,mas, depois de uns quilómetros de perda, conseguiu encontrar um ritmo forte e foi ultrapassando as dezenas de ciclistas que lhe apareciam à frente.

A cerca de quatro quilómetros do final, Quintana “pôs o turbo”, deixou Contador para trás e foi à “caça” de Robert Gesink, o último fugitivo a resistir na frente. Quintana venceu e chegou à liderança da prova. Já Chris Froome continuou a sua escalada, até ao topo da montanha, ultrapassou Esteban Chaves e Contador, e só não conseguiu superar Gesink, que sprintou para o segundo lugar da etapa.

Alberto Contador, depois de, a certa altura, parecer ser o único com pernas para Quintana, cedeu e perdeu tempo para os principais rivais. Já Nairo Quintana vai para o dia de descanso com a camisola vermelha, com 57 segundos de vantagem para o seu companheiro Valverde e 58 para Froome. Esteban Chaves já é quarto, a mais de dois minutos, enquanto Contador já está a quase três minutos do camisola vermelha.

Quanto aos portugueses, destaque para José Mendes (manteve-se algum tempo no grupo principal) e José Gonçalves (esteve na fuga do dia), que fizeram top-50 na etapa.

Nesta terça-feira, os ciclistas poderão descansar. Voltam a pegar na bicicleta, na quarta-feira, para mais uma chegada em alto, na etapa entre o Museu Jurássico das Astúrias (em Colunga) e Peña Cabarga.

Sugerir correcção
Comentar