Voltámos com a Benfica TV

1. Quando decidimos proceder a uma pausa em Julho - por efeito de uma overdose de Direito do Desporto ao longo de muitos meses - estávamos longe de pensar que esse mês fosse tão pródigo em temas para análise e opinião. Deveríamos saber, por experiência própria de já alguns anos, que não há descanso, não há férias para o desporto e as suas questões jurídicas. A nossa reabilitação não foi, pois, alcançada com sucesso, tal o número e dimensão das questões que Julho apresentou e que, naturalmente, irradiam para Agosto e mais além.

Bruma, a nova aprovação da lei de criação de um Tribunal Arbitral do Desporto, o levantar, por via do desporto, de Miguel Relvas, Fernando Pimenta e a sua "eterna" luta com a Federação Portuguesa de Canoagem e a afirmação da Benfica TV.

Nos domingos que aí vêm tentaremos "agarrar" o pelotão. Hoje deixaremos algumas linhas escritas sobre a Benfica TV, desde logo porque vou ter que suportar os encargos da mesma para o meu pai seguir o Benfica nos jogos em casa.

2. A Benfica TV é, em Portugal, uma experiência pioneira do Benfica e, por isso, deve ser devidamente enfatizada a sua existência. É a afirmação de um clube, de uma marca, de uma comunidade de adeptos e simpatizantes, sem paralelo no universo da sociedade desportiva. É, pois, que não se tenham dúvidas a esse respeito, algo que deve ser positivamente saudado quando encarado pelo prisma da política e da gestão do clube.

3. A Benfica TV, nesta época desportiva ganha, porém, uma nova dimensão. Se olharmos para o passado, nada distinguia a Benfica TV de outras experiências de clubes estrangeiros. Por outro lado, em alguns segmentos da sua actividade, via-se nela um operador de televisão de tendência, algo confessional. Nada, em certa medida, se poderia apontar, por causa dessa característica.

4. Agora, contudo, a Benfica TV vai mais além e, como é sabido, passa a transmitir os jogos do Benfica, enquanto visitado, em regime de exclusividade. Por outro lado, a Benfica TV, tal como qualquer outro operador televisivo, adquiriu direitos de transmissão televisiva a outros clubes. É do conhecimento público o contrato com o Farense, mas outros podem perspectivar-se no futuro.

Ora, olhando esta vertente - a de adquirente de direitos de transmissão de clubes que participam em competições com o Benfica (seja na II Liga, seja eventualmente, em futuro breve, na I Liga) -, tenho para mim que a leitura económica da Benfica TV (legítima) menosprezou o lado desportivo.

5. Concentremo-nos, por ora, neste aspecto da competição.

Constitui um perigo para os valores da igualdade e verdade competitivas que o Benfica participe nas mesmas competições em que se encontram clubes cujos direitos de transmissão televisiva foram adquiridos pela Benfica TV?

Na minha modesta opinião, penso que sim.

Não se pretende afirmar que essa situação irá determinar forçosamente os resultados (por ora) do Benfica B. Por outro lado, bem se sabe que as "ligações de dependência" dos clubes de menor dimensão sempre existiram (e existem) perante os de maior dimensão. A "política" de cedências de jogadores está aí para comprová-lo.

O que se pretende é chamar a atenção para mais um foco de eventuais conflitos de interesses que deveria ter sido eliminado à partida.

6. Ainda vai a tempo a Liga Portuguesa de Futebol Profissional? Porventura, sim. Terá coragem para tanto? Porventura, não.

josemeirim@gmail.com
 
 

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