Viver em suspenso, por Alejandro Marque

Vencedor da Volta a Portugal de 2013 aguarda, impaciente, uma decisão da federação espanhola quanto ao seu futuro. Até lá, continua sem equipa.

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Alejandro Marque vive hoje em suspenso, mas continua a adiar uma decisão definitiva quanto ao abandono do ciclismo, na expectativa de mostrar que ganhou a Volta a Portugal de 2013 apenas por mérito. Marque não perdeu o sorriso e a simpatia, mas o brilho que irradiava do seu rosto durante a última edição da maior prova portuguesa desapareceu. "Quem espera desespera", diz o provérbio, e o galego não podia estar mais de acordo.

"É difícil. Há dias em que tenho vontade de ponderar se vale a pena continuar ou não e seguir a minha vida por outro caminho, mas há o orgulho. Eu ganhei essa Volta como a ganhei, não a ganhei usando nenhum tipo de substância para melhorar o meu rendimento. É mais por isso e pelas pessoas que estão a apoiar-me, que não são poucas, que estou a seguir em frente", afirmou, em entrevista à agência Lusa.

Mas o tempo corre e "Alex" assegura que não vai estar um ano à espera que haja uma resolução. Terei de tomar uma decisão em algum momento", lamentou, salientando ser "complicado, muito complicado" viver sem ordenado no final do mês. "A federação devia actuar nestes casos com maior rapidez. O prejudicado é sempre o ciclista. Para bem ou para mal, têm de decidir já", defendeu.

Quando fala dos longos quatro meses que medeiam entre o anúncio do positivo por betametasona nas páginas do jornal espanhol El País, o automático despedimento por parte da Movistar, a equipa ProTour pela qual deveria correr esta época, e o dia de hoje, não acusa ninguém, não tem más palavras, mantém a educação e gentileza.

No entanto, a mágoa está lá e revela-se num café do centro de Pontevedra. Quando questionado sobre a época de Alberto Contador, confessa não ver nenhuma prova, nem ler nenhum jornal, por "ser mais fácil", para poder desligar do seu processo e da ausência de resposta.

Suspenso sem estar suspenso -- o processo continua a decorrer na Real Federação Espanhola de Ciclismo (RFEC), sem data para conclusão -, o galego de 32 anos continua a treinar "praticamente todos os dias", mesmo numa Pontevedra que somou 74 dias de chuva ininterrupta.

"Saio com o meu companheiro da minha terra, com [Gustavo César] Veloso [segundo classificado na Volta a Portugal de 2013], Delio [Fernandez]. Assim também consigo estar um bocadinho distraído e deixar a cabeça um bocado mais descontraída", assumiu, indicando que está inscrito numa equipa amadora apenas para poder usufruir do seguro para eventuais acidentes na estrada.

"Alex" sabe que, aconteça o que acontecer, o seu sonho de correr no WorldTour está morto e enterrado - "O simples facto de sair uma notícia destas, mesmo que depois se torne falsa, já mancha o teu nome. Isso nas equipas grandes conta muito" -, por isso vira-se para aquele que foi sempre o seu porto seguro.

"Aprendi muitas coisas nesta vida e uma delas é que em Portugal sempre fui muito bem tratado. Se há algo a que tenho de estar agradecido é ao ciclismo em Portugal. São equipas pequenas, mas isso é que faz com que sejam uma família, que tenhas um ambiente muito bom, que tenhas um calendário bom. Se regressar será seguramente em Portugal", garantiu.

Sem querer nomear os pretendentes, Marque revelou que "houve contactos de equipas", sobretudo quando disse à imprensa que estava à procura de nova formação. "Não tenho nenhuma sanção, posso correr, e houve interesse de várias equipas, mas até que saia a resolução da RFEC não dão esse passo. Estou à espera que haja resolução", concluiu.

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