Vira o disco e toca o mesmo

A escolha de Fernando Santos como novo seleccionador nacional é compreensível face ao perfil de técnico que a Federação Portuguesa de Futebol pretendia, em substituição de Paulo Bento.

Competente, o até há pouco tempo líder da selecção da Grécia, reúne, sem dúvida, a experiência desejável para um cargo com as exigências do de seleccionador nacional. Por um lado, tem o conhecimento adquirido nos melhores clubes nacionais, para além de ter treinado também no estrangeiro, observando outras realidades. Por outro, sabe os condicionalismos que um seleccionador enfrenta, tendo já atravessado várias fases de qualificação e fases finais de Europeus e Mundiais.

Fernando Santos possui ainda informação mais do que suficiente sobre a realidade do futebol português, para poder coordenar toda a actividade das selecções nacionais, como se pretende. Apesar de ter estado nos últimos anos longe do país, nunca deixou de acompanhar o que por cá se passava, quer ao nível de clubes, quer ao nível da própria selecção, mantendo ainda uma inteligente prudência nas análises que ocasionalmente fez, o que lhe permitiu manter também as portas abertas para um eventual regresso, que agora se confirmou.

A percepção de que conseguiu bons resultados à frente de uma selecção grega sem grandes estrelas, ajuda a cimentar a opinião de que é capaz de “extrair água do deserto”. O que, numa equipa como a portuguesa, que tem o melhor futebolista do mundo mas atravessa um processo de reconstrução que leva a que comecem a surgir nas convocatórias jogadores com limitada experiência no futebol internacional de topo, constitui uma mais-valia.

E até o facto de habitualmente preferir um sistema táctico assente no 4x3x3 joga a seu favor, numa equipa que ao longo dos últimos anos tem alinhado preferencialmente nesse figurino.

Fica, portanto, claro que Fernando Santos reúne um conjunto de qualidades e argumentos que o tornam numa escolha com poucos motivos para ser contestada. Mas há uma questão em relação à qual a resposta é mais difícil de encontrar. Afinal, o que traz Fernando Santos de novo à selecção nacional em relação a Paulo Bento?

Competência? Não me parece. Julgo que ninguém duvidará de que Paulo Bento é um treinador competente e profissional. Experiência? Fernando Santos tem mais anos de idade e “no ramo”, sim, tem inclusive mais títulos no curriculum, mas não creio que as diferenças entre ambos justifiquem a troca.

A sensação que fica, por isso, é que alguém abriu a janela, deixou sair o ar saturado, mas que voltou a fechar a janela. Quem estava à espera de uma ventania que fizesse mexer a mobília assistiu apenas à entrada de uma lufada de ar fresco para aliviar o ambiente. No gira-discos cá de casa, mudou o intérprete, mas o estilo de música será o mesmo.

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