União da Madeira ameaça executar o Governo Regional em 11 milhões de euros

Sem estádio para receber os "grandes", o clube madeirense insiste em jogar no Estádio do Marítimo, e se não conseguir admite reclamar na Justiça 11 milhões de euros que diz terem sido prometidos pelo Governo regional.

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Filipe Silva, presidente do União da Madeira Gregório Cunha

O União da Madeira não exclui a possibilidade de “executar” o Governo regional em 11 milhões de euros se o executivo madeirense não intervir na questão do Estádio do Marítimo, onde o clube pretende receber os três "grandes".

Filipe Silva, presidente da SAD do clube madeirense, garante estar na posse de documentos que comprovam uma resolução do anterior Governo, que atribuiu 11 milhões de euros ao União, para a construção do próprio estádio.

“Eu tenho esses documentos comigo: ou o Governo resolve este problema e de uma vez por todas permite que o União jogue nos Barreiros, de acordo com o que está contratualizado na cedência do estádio [ao Marítimo], ou vou-me ver forçado a ter que executar o Governo”, disse ao PÚBLICO o presidente do clube que regressa esta época à I Liga.

O presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, já se demarcou do assunto, dizendo, durante uma recepção oficial ao clube que não vai interferir no assunto.

Sem estádio próprio, o União tem jogado as últimas temporadas no Estádio de Machico e no Centro Desportivo da Madeira, na Ribeira Brava. Para o regresso à I Liga o clube indicou o Centro Desportivo para os jogos em casa e os estádios do Nacional e do Marítimo como alternativa para receber Sporting, Benfica e FC Porto.

Os regulamentos da I Liga, alterados numa assembleia-geral em Junho passado, obrigam os clubes promovidos a jogar em recintos que tenham uma lotação mínima de 2.500 lugares no primeiro ano, e quatro mil na segunda época. O Centro Desportivo obedece ao primeiro pressuposto, mas já não poderá ser utilizado caso o União alcance a manutenção, daí a urgência de Filipe Silva em encontrar uma solução.

“Há compromissos assumidos pelo anterior Governo que nunca foram cumpridos”, insiste Filipe Silva, admitindo que na actual conjuntura económica não faz sentido a Madeira investir em mais um estádio de futebol. “Nós somos responsáveis mas não podemos deixar que sejamos constantemente enxovalhados na praça pública, como se tivéssemos recebido rios de dinheiro e andássemos a viver na dependência do Governo”, avisa o responsável pela SAD unionista, dizendo que vai defender “intransigentemente” os interesses do clube.

Na Madeira só existem dois estádios que obedecem às exigências da Liga: o do Nacional e o do Marítimo. O presidente nacionalista, Rui Alves, já disponibilizou o estádio, mas o União insiste no do Martítimo, por ser mais central e por defender que tem direitos sobre o recinto. Já Carlos Pereira, presidente do Marítimo diz que não recebeu qualquer pedido oficial.

“Já enviámos uma carta registada, e vamos enviar outra a perguntar ao Marítimo quais as condições”, garante Filipe Silva.

Na base da discórdia está a cedência do estádio ao Marítimo, feita durante a presidência de Alberto João Jardim, que, no entender de Filipe Silva, não “acautelou” os interesses da região. “Foi um erro histórico, entregar um bem público a um clube só, sem acautelar o futuro da região. Hoje, é o União que precisa, mas amanhã pode ser outro clube”, afirma.

Todo este processo de cedência do estádio ao Marítimo não foi pacífico, merecendo críticas não só do União mas também do Nacional e dos partidos da oposição. O União, diz Filipe Silva foi empurrado para fora dos Barreiros, em troca do financiamento para uma equipa de juniores.

“A um dado momento foi pedido ao União para apresentar um projecto para um estádio, o que foi feito publicamente. Nós temos as resoluções do Governo, e inclusive estavam escalonados valores”, adianta, dizendo que o clube não quer, nem precisa de 11 milhões de euros.

“Será assim tão ofensivo, olhando para os 30 milhões de euros, que é quanto vai custar o Estádio do Marítimo, tirar três ou quatro milhões dali para o União construir uma bancada no seu complexo e resolver o problema?”, questiona o ex-deputado do PSD-Madeira, vincando que não quer a propriedade do estádio, apenas poder utilizá-lo.

A política e o desporto andaram sempre de mãos dadas durante as presidências de Jardim, que através de contratos-programa apoiou com largos milhões de euros os vários clubes madeirenses.

Olhando para os três principais clubes regionais, o Nacional recebeu apoios para a construção de um estádio e de um centro de treinos, o Marítimo foi apoiado no centro de treinos e recebeu os Barreiros para remodelar, e ao União foram dados apoios financeiros para um centro desportivo.

Carlos Pereira disse recentemente ao Diário de Notícias do Funchal que a cedência dos Barreiros foi um bom negócio para a Madeira, porque livrou-se de encargos anuais superiores a um milhão de euros, mas nem Nacional, nem União concordam com essa matemática.

Por isso, Filipe Silva insiste. “Estamos falar de algumas facilidades que poderiam ser dadas ao União – estamos a falar de três jogos por época -, e vemos o Governo a esconder-se das suas responsabilidades”, acusa, lamentando que o clube que preside seja o único na Madeira que tem de pagar para jogar. “Pagamos na época passada cinco mil euros por mês para jogar no Centro Desportivo”, adianta, acrescentando que nesta época esse valor deverá sofrer uma redução.

O clube vai ter de investir naquele estádio para que ele esteja de acordo com as exigências da Liga. Vai ser necessário construir camarotes e instalações para a comunicação social. Reforçar a iluminação e instalar um sistema de CCTV. “Vamos ver o valor do investimento, e depois fazemos um acerto de contas na renda mensal”, esclarece.

Nacional e Marítimo com menos dinheiro

Os tempos na Madeira são outros, no que toca aos apoios para o desporto. Depois de anos de forte investimento, o novo Governo madeirense decidiu cortar nos apoios ao desporto. A redução de 10%, com essa verba a ser canalizada para acção social escolar, aliada à subida do União obrigam Nacional e Marítimo a fazerem contas.

A verba destinada para os clubes da I Liga não será, garantiu já o executivo madeirense, aumentada, o que significa que o bolo que era para dois, vai ser agora dividido por três.

Mesmo assim, Nacional e Marítimo ficam em vantagem. O primeiro vai receber dos cofres do Governo regional 1,6 milhões de euros e o segundo 1,5. Já o recém-promovido União fica com uma fatia de 1,2 milhões.

Esta diferenciação tem por base a classificação obtida na época anterior. O Nacional como ficou à frente leva mais 100 mil euros, e o União por ter vindo da II Liga conta como se tivesse ficado em último neste campeonato madeirense.

Se olharmos para a época passada, Marítimo e Nacional receberam próximo de dois milhões de euros cada um.

 

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