Um mau filme e outros escândalos em 17 anos de Blatter

As principais polémicas do suíço desde que assumiu a liderança da FIFA em 1998, desde um mau filme de propaganda até às acusações de corrupção.

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Blatter foi eleito em 2011 para um quarto mandato como presidente da FIFA Christian Hartmann/Reuters

Custou 25 milhões de euros, teve uma receita a rondar os 200 mil. Não estamos a falar de um estádio de futebol, mas de um filme. Paixões Unidas é o título de um objecto que estreou no ano passado fora de competição, em Cannes, e que resume em menos de duas horas a história da FIFA, patrocinado quase na sua totalidade pela própria FIFA. Quem viu (e não foi muita gente a fazê-lo) diz que é um mau filme de propaganda, com uma perspectiva demasiado benevolente sobre os seus dirigentes ao longo dos anos, incluindo o actual presidente Joseph Blatter, que é descrito como “bom a arranjar dinheiro”. Foi um enorme flop de bilheteira e de crítica e não será mais que uma nota de rodapé na história recente do organismo que gere o futebol mundial. E, ao contrário da ideia original, só serviu como arma de arremesso para quem olha para a FIFA e para o seu actual presidente como o epicentro de todos os males deste desporto nas últimas décadas.

A FIFA vai a votos a 29 de Maio próximo, em Zurique, e são cinco os candidatos declarados ao trono do organismo que tutela o futebol mundial. Para além do actual presidente, que avança para um quinto mandato, estão na corrida Luís Figo, Michael van Praag, Jérôme Champagne e Ali Bin Al-Hussein. O prazo de entrega das candidaturas acabou na quinta-feira e, provavelmente, nem todos irão a votos, dependendo da decisão Comissão de Ética da FIFA, que irá analisar os nomes. David Ginola, antigo internacional francês, também chegou a anunciar a sua candidatura e, durante o dia de ontem, deu a entender, através do seu site de crowdfunding, que se iria retirar, mas, depois, deu o dito pelo não dito e declarou-se ainda como candidato. Mas o seu nome não deve passar pelo escrutínio da FIFA, já que Ginola concorre com o apoio de uma casa de apostas.

Com a óbvia excepção do próprio Blatter, todos os outros candidatos falam da necessidade de devolver a credibilidade a um organismo afectado por vários escândalos, apontando o suíço de 78 anos como o principal responsável. “Se se procurar FIFA na Internet, escândalo é a primeira palavra que aparece”, dizia anteontem Figo quando anunciou a sua candidatura à sucessão de Blatter.

Blatter está na FIFA desde 1975. Primeiro foi director-técnico, depois secretário-geral, sempre com João Havelange, e só se tornou presidente em 1998 derrotando Lennart Johansson, na altura presidente da UEFA, um acto eleitoral que foi ensombrado por suspeitas de compra de votos. Com o suíço ao comando, a FIFA cresceu em tamanho, influência e, na mesma medida, como um alvo. Blatter passou relativamente incólume nas investigações à ISL, o parceiro de marketing da FIFA, que foi à falência em 2001, e que posteriormente se descobriu que tinha subornado altos dirigentes da FIFA em troca de favores, entre eles o próprio João Havelange e o seu genro, Ricardo Teixeira, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol e vice presidente da FIFA.

Mas foi no processo de atribuição simultânea dos Mundiais de 2018 e 2022 à Rússia e ao Qatar, respectivamente, que a FIFA e Blatter têm sofrido com o escrutínio público – alguns dos seus principais patrocinadores, como a Sony e a Emirates, já quebraram o seus vínculos, e outros poderão seguir o exemplo. Foram feitas denúncias de corrupção que envolviam vários dirigentes do futebol internacional e o qatari Mohamed bin Hammam, antigo presidente da Confederação Asiática de Futebol (e antigo adversário de Blatter nas eleições para a presidência da FIFA em 2011, não tendo chegado a ir a votos), e que também incluia uma troca de favores com a Rússia para o Mundial 2018.  A investigação promovida pela FIFA concluiu que nada de errado se passou durante todo o processo, mas nem o relatório completo foi divulgado, nem o próprio autor do relatório, o norte-americano Michael Garcia, concordou com as conclusões tiradas pela FIFA.

Para lá dos grandes escândalos e das suspeitas de corrupção, Blatter tem sido o protagonista central de uma boa dose de polémicas. Em 2004, por exemplo, o suíço fez uma declaração pública em que sugeria que as mulheres deviam jogar com “calções justos”, como no voleibol, para atraírem mais adeptos masculinos. Em 2011, Blatter sugeriu que demonstrações de racismo no futebol poderiam ser resolvidas com um aperto de mão, palavras que o suíço iria mais tarde rectificar, frisando que “o racismo é um grande problema na sociedade e que afecta o desporto”.

Quando confrontado com a proibição da homossexualidade no Qatar, Blatter disse em tom de brincadeira que os adeptos homossexuais que fossem ao Mundial 2022 “deviam abster-se de quaisquer contactos sexuais”, arrependendo-se depois deste comentário frisando que não era sua intenção promover a descriminação. Cristiano Ronaldo também foi alvo do bom humor do suíço, durante uma célebre conferência em Oxford, em que fez uma imitação do jogador português dizendo que ele parecia um comandante em campo. Alguém estava a filmar, o vídeo tornou-se viral e Blatter, mais uma vez, acabou a pedir desculpa.

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