Um “grupo de vida” para as quatro selecções

A Bélgica é a maior favorita num dos agrupamentos mais equilibrados deste Mundial.

Foto
Kompany, capitão da Bélgica e do Manchester City Laurent Dubrule/Reuters

Todos os antigos campeões mundiais vão estar no Mundial do Brasil. Há um grupo que tem três (Inglaterra, Itália e Uruguai estão no D), enquanto dois não têm nenhum. Um deles é o H, e será um dos mais equilibrados, sem se poder adivinhar com grande convicção quais serão os dois apurados para os oitavos-de-final — onde cruzarão com o Grupo G, o de Portugal. Fala-se da grande geração da Bélgica, da Rússia “à italiana” de Fabio Capello, mas também há que contar com a Argélia, a melhor equipa de África, ou a Coreia do Sul, a única equipa asiática da história do torneio a chegar às meias-finais.

A Bélgica foi uma das quatro selecções europeias a participar no primeiro Mundial, em 1930, mas não tem sido uma das mais assíduas. Doze anos depois do Mundial Coreia/Japão, os belgas regressam ao maior palco do futebol, com uma selecção recheada de talento, bem orquestrada por Marc Wilmots, que, antes de começar o Mundial, já teve o seu contrato prolongado por quatro anos. Não sendo um favorito de primeira linha, a Bélgica estará no grupo dos segundos candidatos e, olhando para o conjunto de jogadores que leva ao Brasil, percebe-se bem que pode, no mínimo, igualar o feito da selecção de 1986 que, com Pfaff, Gerets, Vercauteren, Ceulemens e Scifo, chegou ao quarto lugar.

Onde está o talento da selecção belga? Resposta: em todo o lado. A baliza estará à guarda do legítimo herdeiro de Pfaff e Preud’Homme, Thibaut Courtois, o alto e ágil guardião que se tem mostrado no Atlético de Madrid e que, por certo, irá obrigar José Mourinho a entregar-lhe, mais cedo do que esperaria, as redes do Chelsea. A defesa tem um dos melhores centrais da actualidade, Vincent Kompany, o capitão do Manchester City, mais Alderweireld (Atlético Madrid), Vermaelen (Arsenal) e Vertonghen (Tottenham).

Do meio-campo para a frente, as coisas sobem de nível. Marouane Fellaini pode não ser o jogador mais popular do Manchester United, mas é indiscutível na selecção, ao lado do ex-benfiquista Axel Witsel (Zenit), do portista Defour, do goleador e “assistente” De Bruyne (Wolfsburgo) e da dupla do Tottenham Chadli e Dembelé. Não podem jogar todos, mas há muitas opções.

O verdadeiro criativo desta selecção é Eden Hazard, talentoso e problemático, como José Mourinho já percebeu, mas é ele que faz mexer a selecção belga. O homem-golo é Romelu Lukaku, o jovem prodígio formado no Standard Liége que é internacional desde os 17 anos (tem 21). Mas, ao que tudo indica, o avançado do Chelsea estará indisponível para o primeiro jogo, com a Argélia.

A história da Rússia em Mundiais está longe de ser brilhante. O melhor que a União Soviética havia feito era um quarto lugar, em 1966, e a selecção russa, em duas participações, nem sequer passou da fase de grupos, falhando inclusive o apuramento para o torneio por três vezes em cinco possíveis desde o fim da URSS. Tal como a Bélgica, os russos também regressam ao maior palco 12 anos depois, numa altura em que a Liga russa é das mais ricas do mundo, com capacidade para contratar estrelas internacionais e segurar os seus melhores jogadores — entre as 32 selecções presentes, a Rússia é a única que é formada exclusivamente por jogadores a actuarem no próprio país.

A Rússia é daquelas selecções que tem tendência a autodestruir-se durante as grandes competições. Veja-se o caso recente do Euro 2012, em que subiu ao lote dos favoritos depois de um triunfo inicial por 4-1 sobre os checos, ficando-se pela fase de grupos. Para mudar a história recente, aterrou em Moscovo o veterano italiano Fabio Capello, homem de currículo vasto e gostos caros, a troco de um salário milionário de 8,5 milhões de euros por ano. E os primeiros resultados foram animadores, qualificando-se à frente de Portugal na fase de apuramento. No Brasil, as expectativas mínimas são um lugar nos “oitavos”. Alexander Kerzhakov, avançado do Zenit, e Igor Akinfeev, guarda-redes do CSKA, serão as maiores “estrelas” russas.

Tal como a Rússia, a história da Argélia em Mundiais também não é famosa, nunca passando da fase de grupos em três torneios. Com o bósnio Vahid Halilhodzic aos comandos, a formação magrebina apresenta-se no Brasil como a melhor selecção africana e com bons argumentos, principalmente ofensivos, para discutir um lugar nos “oitavos”. Para além dos avançados “portugueses” Slimani (Sporting) e Ghilas (FC Porto), os argelinos contam com o ex-vimaranense Soudani (Dínamo Zagreb) e Feghouli (Valência) para atacar a baliza contrária. O central da Académica Rafik Halliche é o outro “português” desta selecção.

A Coreia do Sul já não será aquela equipa que conseguiu chegar às meias-finais em 2002, com Guus Hiddink. A qualificação foi difícil e motivou a substituição do seleccionador por Hong Myung-bo, capitão da selecção de 2002. Não chega ao Mundial com grande pedigree — tem o segundo pior ranking do torneio, apenas atrás da Austrália — e os sinais mais recentes não são animadores — derrotas com a Tunísia e o Gana nos últimos particulares.

Sem Park Ji-sung, o seu melhor jogador da última época (retirou-se da selecção), a Coreia terá de contar com a inspiração de Park Chu-young, avançado que tem feito uma carreira desastrosa no futebol inglês, e do jovem Song Heung-min, “estrela” do Bayer Leverkusen.

Sugerir correcção
Comentar