Um golo que nem todos os adeptos festejaram

Algumas centenas de adeptos do Beitar abandonaram o estádio quando um jogador muçulmano marcou pela equipa de Jerusalém.

Adeptos de uma equipa que joga em casa a abandonar o estádio nos primeiros minutos da segunda parte? Pode acontecer, se essa equipa estiver a ser humilhada em campo. Ou então se se tratar do Beitar de Jerusalém.

Foi o caso na última partida do emblema de Jerusalém. O Beitar recebeu o Maccabi Netanya, em partida da 25.ª jornada da Liga israelita, e adiantou-se no marcador aos 48’, com um golo de Zaur Sadayev. Acto contínuo, algumas centenas de adeptos do Beitar começaram a abandonar o estádio. Tudo porque o futebolista em causa é muçulmano – um dos dois contratados pelo Beitar, há pouco mais de um mês.

O encontro entre o Beitar e o Maccabi Netanya terminaria empatado 1-1. Um ponto precioso para a equipa de Jerusalém, que segue na sétima posição da tabela. Mas a demonstração de racismo de algumas centenas de adeptos ofuscou o resultado.

A posição tomada até nem reflecte a da maioria. “Os adeptos do Beitar que ficaram aplaudiram Sadayev quando foi substituído aos 74 minutos”, pode ler-se no diário israelita Haaretz. “O desporto é o mais importante, e não a religião de um indivíduo”, sublinhou o treinador adjunto do Beitar, Jan Talesnikov, citado pelo The Jerusalem Post. E acrescentou: “Respeitamos todas as pessoas, independentemente da sua religião. Os adeptos que ficaram no estádio são os verdadeiros adeptos do Beitar.”

Na altura em que o defesa Dabrial Kadiyev e o avançado Zaur Sadayev, ambos russos nascidos no território da Tchetchénia, foram contratados pelo Beitar, a polémica foi enorme. Houve cânticos racistas no primeiro jogo do Beitar logo após terem sido anunciadas as contratações, e foi exibida uma faixa onde se podia ler “Beitar puro para sempre”. Tradicionalmente associado ao partido Likud e a movimentos de extrema-direita, o Beitar apenas tinha tido um jogador muçulmano antes da dupla oriunda do Terek Grozny: foi o nigeriano Ibrahim Nadalla, que chegou em 2005 e ficou pouco tempo no clube devido à pressão dos adeptos.

Mas os adeptos mais radicais não se ficaram pelas manifestações. Pouco mais de uma semana depois, a sede do Beitar foi incendiada. O incidente não provocou vítimas, mas destruiu uma grande parte dos artefactos históricos do clube, como troféus conquistados e camisolas de antigos jogadores.
 

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