Um ano depois, o Mónaco foi da ilusão à desilusão

A torneira das contratações milionárias fechou-se e Leonardo Jardim ficou numa posição pouco confortável

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O Mónaco perdeu algumas das suas estrelas, mas ainda mantém nomes como Berbatov ou Moutinho Eric Gaillard/Reuters

Qualquer semelhança com a euforia que se vivia há um ano é pura coincidência. O Mónaco foi da ilusão à desilusão com uma mudança drástica de estratégia: as contratações milionárias foram um fenómeno passageiro e agora a torneira fechou-se. Saíram os melhores jogadores e Leonardo Jardim ficou sentado num dos lugares mais desconfortáveis do futebol mundial.

Há um ano chegavam, com pompa, Radamel Falcao, James Rodríguez e João Moutinho — só estes três jogadores custaram cerca de 130 milhões de euros — e a ambição não tinha limites. O Mónaco foi segundo classificado e garantiu o regresso à Liga dos Campeões, mas não bastava: Claudio Ranieri foi dispensado e os monegascos pagaram três milhões de euros ao Sporting para ter Leonardo Jardim. E tudo mudou. Ao contrário do Verão passado, o Mónaco foi um actor discreto neste mercado de transferências — não houve reforços sonantes a chegar mas saíram os jogadores mais importantes. James Rodríguez assinou pelo Real Madrid, Falcao foi à última hora para o Manchester United e mesmo o capitão Abidal rumou ao Olympiacos.

“Era preciso retocar o projecto. Havia dois caminhos: o primeiro era gastar muito, que foi o que fizemos no início. O segundo, onde estamos agora, é construir um projecto inteligente a longo prazo. Sim, vai levar mais tempo e é menos glorioso, vamos ser menos falados na imprensa, as pessoas vão ficar inquietas, não há estrelas nem glamour... Mas nós acreditamos. Se tivéssemos continuado no primeiro caminho, teríamos colocado o clube em perigo”, sublinhou o vice-presidente do Mónaco, Vadim Vasilyev, em entrevista ao diário desportivo francês L’Équipe.

Numa sondagem online, a France Football questionava os leitores sobre se ainda acreditavam no projecto do Mónaco — mais de 90% das respostas era “não”. Entre as explicações para a debandada das figuras do clube, a revista apontava o “limitado interesse desportivo” da Liga francesa e a falta de público no estádio Louis II. “Ganhar milhões [livres de impostos], treinar-se todos os dias ao sol, adormecer com vista para o mar e organizar noites VIP no Casino é muito bom, mas não chega”.

Vasilyev lembrou que o clube terá de pagar 50 milhões de euros só para disputar o campeonato francês e garantiu que está “fora de hipótese” pagar multas à UEFA por causa do fair-play financeiro. Mas o regresso do Mónaco à Champions arrisca-se a ser traumático — ficou no Grupo C, com Benfica, Zenit S. Petersburgo e Bayer Leverkusen. Como já tinha sido traumático o início da equipa de Leonardo Jardim na Liga francesa: duas derrotas seguidas, uma vitória pela margem mínima sobre o Nantes e um empate.

“Foi com sensação de ressaca que os adeptos se levantaram de manhã, tendo vivido uma noite muito agitada, marcada às 2h30 da manhã pela notícia do empréstimo de Radamel Falcao ao Manchester United, cinco semanas após a venda de James Rodríguez ao Real Madrid”, frisava em comunicado uma associação de adeptos monegascos, admitindo sentimentos de “cólera, incompreensão e frustração”. E ficava a sugestão a todos os que partilhassem esse estado de alma: “Peçam o reembolso do bilhete de época!”

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