Taça do Rei não sai este ano de Madrid

Os arquivos dão conta de que o Real só ganhou em casa por duas vezes, uma há mais de 50 anos, e a outra em que o adversário derrotado era a sua própria equipa B.

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Pedro Armestre/AFP

O Real Madrid já fez nove finais da Taça do Rei em casa. Parece ser uma vantagem. A estatística diz que não. “A Taça é democrática, surpreendente e emotiva. Não há jogo que supere o ambiente de uma final”, escrevia o jornalista Santiago Segurola numa crónica para o jornal El País em 2006. O célebre “medo cénico” do Santiago Bernabéu, de que falava Jorge Valdano, quase desaparece quando cores estranhas ocupam território privado a que o visitante não costuma ter acesso.

O cenário muda radicalmente nesse dia. Os arquivos dão conta de que o Real só ganhou por duas vezes, uma delas há mais de 50 anos, e a outra, sem emoção, em que o adversário derrotado era a sua própria equipa B. Por isso, foi na maior paz e sem os histerismos de outras ocasiões que a solução da final no Estádio Santiago Bernabéu colheu o beneplácito imediato do Atlético.

Estando em causa duas equipas de Madrid, poderia ter surpreendido ouvir o presidente, Enrique Cerezo, anunciar, com toda a tranquilidade, logo que foram conhecidos os finalistas, que o jogo se realizava no recinto do rival. É claro que a capacidade do estádio ajudou muito a encontrar a solução, mas há algo mais do isso.

Os colchoneros foram ao álbum de recordações e lembraram-se, com entusiasmo, de uma final ganha em casa do vizinho no tempo de Futre, em 1992, quando o Atlético venceu por 2-0. O grande golo que marcou com o pé esquerdo e o livre de Schuster esgotaram elogios e as palavras de exaltação de Luís Aragonés aos seus jogadores fazem parte da lenda do futebol espanhol: “Hay que morir en el campo”. Morderam a relva, como se costuma dizer, e paralisaram uma equipa do Real que tinha nomes sonantes como Butragueño, Hierro e Michel.

O Atlético já tinha passado, noutras ocasiões, por gloriosas experiências. Em1960 ganhou por 3-1 e repetiu a proeza no ano seguinte, embora com uma margem mais curta: 3-2. Cerezo deve ter pensado nisso tudo e na ideia de que jogar no campo do adversário liberta a equipa do fardo de um favoritismo pernicioso. Segurola recorda na antologia Héroes de Nuestro Tiempo, publicada há um ano, palavras que se podem ajustar à época do Real e também à do Atlético, que vai à Liga dos Campeões mas chegou a sonhar com o título: “Tudo aquilo que não se encontra na Liga manifesta-se na Taça”. 

O Real Madrid já esteve em 37 finais da Taça do Rei e precisa de vencer a deste ano para salvar os móveis. Ganhou 18 no total. Das duas realizadas em casa, os derrotados foram o Sevilha (2-1), em 1962, e num jogo doméstico, o Castilla (6-1). A surpresa mais desagradável aconteceu no ano do centenário, quando o Deportivo lá chegou e ganhou por 2-1, nos tempos de Figo e de Zidane, na primeira fase de presidência de Florentino Pérez.

Foi surpreendente a forma como os galegos roubaram uma taça, daquelas que se outorgavam antecipadamente aos merengues, mentalmente preparados para integrar a conquista nas comemorações dos 100 anos. Perderam a final mas ainda foram a tempo: nesse ano de 2002, ganharam em Glasgow a sua última Taça dos Campeões.

   
 
 

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