Atletas russos ponderam ir aos Jogos sob a bandeira olímpica

Atletas medalhados russos consideram decisão da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) “completamente injusta”.

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Com a suspensão de todos os atletas russos, está em causa a participação da Rússia nos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro, Brasil. Carl de Souza/Reuters

A Rússia foi suspensa provisoriamente de qualquer competição de atletismo na passada sexta-feira pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF), após uma conferência de emergência convocada pelo presidente Sebastian Coe. Em causa está o escândalo de doping que abalou a Rússia, motivado pela publicação de um relatório independente encomendado pela Agência Mundial de Antidopagem (AMA), que denunciou o “doping organizado” da Rússia. Agora, com a participação de todos os atletas russos nas competições internacionais, incluindo os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em causa, há atletas que temem ser prejudicados e pagar pelos erros de outros, classificando a decisão da IAAF de injusta.

É o caso de Yelena Isinbayeva, antiga campeã olímpica e recordista mundial do salto com vara, e Sergei Shunbenkov, actual campeão mundial dos 110 metros barreiras, que marcaram presença numa conferência de imprensa esta segunda-feira.

“Não entendo a razão por que pessoas como eu têm que sofrer pelos erros de atletas irresponsáveis. É totalmente injusto. Dick Pound disse que estou a ser uma vítima do sistema neste caso. Mas é errado. Eu estou completamente fora do sistema”, afirmou Isinbayeva, que procura a terceira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2016.

Quando questionada sobre a possibilidade de competirem sob a bandeira olímpica, Isinbayeva confirmou as conversações mas confessou não saber “se será possível”, acrescentando: “nós queremos cantar o nosso hino nacional”.

Já Shubenkvov denunciou a decisão que considerou ter sido “tomada por burocratas”. “O que é que eu fiz? O que devo fazer para esta decisão não ser aplicada?”, questionou o campeão mundial. Também através do Twitter deixou uma mensagem: “Porquê eu?”. O atleta de 25 anos corre o risco de não poder marcar presença nos Jogos do Rio no próximo ano, depois da sua mãe, campeã de heptatlo, ter sido obrigada a desistir dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, após a decisão da URSS de boicotar a competição.

Entre as recomendações à autoridade internacional colocadas no relatório da AMA está a suspensão da agência antidoping da Rússia, acusada de ocultar casos positivos e destruir amostras suspeitas envolvendo os atletas nacionais e a suspensão temporária de todos os atletas russos, ambas levadas a cabo pela IAAF desde a divulgação do documento.

Também o afastamento de cinco atletas – entre os quais Maria Savanova e Ekaterina Poistogova, medalha de ouro e prata, respectivamente, nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres – e alguns treinadores, está entre as recomendações.

No entanto, a suspensão da Rússia pode ser levantada antes dos Jogos Olímpicos sob a condição de as autoridades russas tomarem medidas rápidas, segundo Dick Poun, presidente da AMA. O ministro do desporto russo, Vitaly Mutko, manteve na passada sexta-feira as hipóteses da Rússia competir nos Jogos e prometeu medidas nos próximos meses. Para o presidente da Federação de Atletismo da Rússia, Vadim Zelichenok, há “mais de 50%” de hipótese de levantamento da suspensão a tempo da participação na competição olímpica do Rio de Janeiro.

Esta terça-feira e quarta-feira, a AMA fará uma análise sobre as consequências do escândalo que envolve o atletismo russo, através de uma comissão executiva em Colorado Springs, nos Estados Unidos da América, na qual a França poderá ser avisada pela lentidão em adaptar a legislação em conformidade com o Código Mundial Antidopagem, que entrou em vigor em Janeiro deste ano, um golpe sério num dos candidatos a receber os Jogos Olímpicos de 2024.

Texto editado por Jorge Miguel Matias

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