Sporting em guerra aberta com fundo Doyen

SAD de Alvalade anuncia rescisão de contrato com empresa que detém parte dos passes de Rojo e Labyad.

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O Sporting está em conflito com Rojo e com o fundo que detém 75% do passe do jogador Patrícia de Melo moreira/AFP

O Sporting entrou em rota de colisão com o misterioso fundo de jogadores Doyen, sedeado em Malta e detido não se sabe por quem. A Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do clube de Alvalade informou nesta quinta-feira a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que rescindiu os contratos celebrados com a Doyen.

“Sem prejuízo da nulidade dos contratos celebrados com a Doyen, relacionados com os jogadores Marcos Rojo e Zakaria Labyad, a Sporting SAD vem comunicar que procedeu, hoje, à resolução com justa causa dos respectivos contratos com a Doyen”, diz o comunicado enviado à CMVM e publicado igualmente no site do clube.

Esta decisão surge depois de o jogador Marcos Rojo ter faltado aos treinos, por desejar transferir-se para o Manchester United, e a Doyen Sports ter publicado na quarta-feira à noite um comunicado em que critica o Sporting, acusando-o de faltar à promessa de deixar sair o jogador argentino e de querer mais do que tem direito para permitir a transferência do central argentino.

No comunicado, o Sporting diz que num primeiro momento admitiu ao empresário de Rojo a possibilidade de uma transferência, desde que fosse vantajosa para o clube e fosse mantida em segredo, para não afectar o rendimento do argentino. E adianta que a 23 de Julho informou o mesmo empresário da decisão de manter o jogador no clube.

“A partir desse momento, e contrariando o que ficou combinado, existiram várias reuniões com clubes realizadas pela Doyen a oferecer o nosso jogador Marcos Rojo”, acusa o Sporting, que chega mesmo ao ponto de dizer que um responsável do fundo sedeado em Malta participou numa reunião entre o Sporting e um clube interessado em Rojo, fazendo-se passar por representante desse clube.

“O Sporting informou a Doyen por email, no dia 07/08/2014, que tinha enviado para análise do seu departamento jurídico os contratos envolvendo os direitos económicos de jogadores celebrados com essa empresa, e [informou] em várias conversas que considerava totalmente inaceitáveis as ingerências e ilegítimas pressões que estavam a ser realizadas pelo CEO da Doyen, sr. Nélio Lucas”, lê-se no mesmo comunicado, em que o clube diz que o director do fundo enviou “vários SMS abusivos ao presidente do Sporting, incluindo estes, em letras maiúsculas: “O Marcos Rojo vai para o [clube estrangeiro]” e “se não o deixarem ele vai começar a provocar problemas na academia.”

No comunicado que tinha emitido na quarta-feira, a Doyen já tinha recusado pressões para a saída de Rojo, afirmando que “o Sporting está no seu inteiro direito de não transferir o jogador Marcos Rojo, sabendo que para isso só tem que compensar o fundo nos termos e prazos conforme está estabelecido contratualmente desde início”.

O Sporting detém apenas 25% do passe de Rojo, sendo que habitualmente estas parcerias incluem cláusulas que obrigam os clubes a comprar a parte detida pelos fundos caso surjam ofertas superiores a um determinado valor.

Neste caso, a Doyen (que tem 75% dos direitos económicos do jogador) até diz que ganhará mais se Rojo ficar em Alvalade e acrescenta que o Sporting não receberá “mais dinheiro ou contrapartidas caso a oferta [do clube interessado no jogador] seja de 20 ou 30 milhões”. Uma informação refutada pelo clube "leonino".

“Assim, 25% de 30 milhões de euros nunca será igual a 25% de 20 milhões, nem mesmo com o facto de o Spartak de Moscovo [antigo clube de Rojo] ter de receber 20% da mais-valia acima de 5 milhões. Contudo não podemos estranhar esta incapacidade aritmética do fundo Doyen, pois o seu CEO, sr. Nélio Lucas, conseguiu transformar uma proposta que fez ao Sporting de 20 milhões, no dia 24/05/2014, para a aquisição do atleta Brahimi, em 6,5M para outro clube português conforme é do domínio público”, acrescenta o comunicado, referindo-se ao internacional argelino contratado pelo FC Porto, precisamente em parceria com a Doyen.

A Doyen, por sua vez, diz ainda que sem a sua intervenção, "através do financiamento, o Marcos Rojo não seria jogador do Sporting": "Porque assumiu, no momento da negociação, o pagamento de 75% do valor da transferência assumindo até as primeiras prestações antes de o Sporting ter que pagar os seus  25%, numa outra medida de facilitar a vida ao clube."

Esta é a primeira vez em Portugal que um clube e um fundo de jogadores se desentendem publicamente, até porque os responsáveis dos fundos não costumam dar a cara.

O fundo Doyen tem assumido parcerias com vários clubes portugueses, espanhóis e holandeses, mas ninguém exactamente quem são os seus investidores. Já chegou a ser relacionado com Jorge Mendes, algo que o empresário desmentiu. O Sporting, aliás, lança uma desafio curioso no comunicado agora publicado. "A bem da transparência que todos os intervenientes no mundo do futebol se deveriam pautar, seria importante que a Doyen identificasse a sua estrutura societária de grupo, pois estão a ser feitas afirmações sobre sociedades que nunca se relacionaram com o Sporting, como a  Doyen Marketing, e que identificasse os seus financiadores e beneficial owners."

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