Noite de desperdício perante uma muralha russa

Sp. Braga ganha pela segunda vez na sua história em casa do Benfica e afasta “encarnados” da Taça de Portugal.

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Aderlan Santos marcou o primeiro golo do Sp. Braga na Luz Patrícia de Melo Moreira/AFP

Apenas uma vez, tinha o Sporting de Braga ganho em casa do Benfica, mas nem sequer tinha sido no Estádio da Luz. Foi a 31 de Outubro de 1954, no Jamor, que um golo solitário de Mario Imbelloni, um argentino, deu a única vitória minhota em casa “encarnada” em 63 visitas. Mais de 60 anos depois, o Sp. Braga conseguiu a segunda vitória, por 2-1, um feito que lhe valeu a passagem aos quartos-de-final da Taça de Portugal. Fica de fora o actual detentor do troféu, que foi vítima do seu enorme desperdício e voltou a cair perante um adversário que já lhe tinha ganho esta época, acabando com uma invencibilidade caseira em provas nacionais que já durava há dois anos e nove meses.

O Sp. Braga apresentava-se na Luz com esperanças legítimas de seguir em frente na Taça. Afinal, era a única equipa nacional que tinha derrotado o Benfica esta época e estava em bom momento de forma, para além de já ter afastado os “encarnados” da Taça em quatro das oito anteriores eliminatórias em que as duas equipas se cruzaram. E Sérgio Conceição trazia os seus melhores, Tiba, Éder, Pardo e, principalmente, Rafa, jogadores que geralmente marcam a diferença. E os minhotos vinham com o rótulo de “agressivos” que Jorge Jesus lhes tinha colado.

Moralizado pela vitória no Dragão, o Benfica não se apresentava, no entanto, a 100%. Para além dos lesionados habituais, Jesus tinha ainda de lidar com a indisponibilidade física de Luisão e Salvio, cujas ausências foram colmatadas por César e Ola John. Mas o técnico “encarnado” resolveu mexer um pouco mais. Meteu Cristante em vez de Samaris e apostou na dupla Jonas/Lima, deixando Talisca de fora. Enzo talvez estivesse a fazer o seu último jogo pelo Benfica e com a cabeça no Valência, mas do médio argentino Jesus nunca abdica.

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O início do jogo foi o que se esperava, equilíbrio, com alguns momentos de superioridade benfiquistas, mas os minhotos eram uma equipa muito segura do que estava a fazer e não deixavam que esses momentos fossem muito frequentes. Aos 11’, a formação visitante teve mesmo alguma razão de queixa da arbitragem. Artur Soares Dias não viu o braço de Jardel a desviar a bola dentro da área e terá ficado um penálti por marcar. Mas, pouco depois, foi Jonas a ser derrubado por Pardo quando ficava isolado frente ao guarda-redes Kritciuk – o colombiano talvez devesse ter visto o cartão vermelho. Um erro grave de arbitragem para cada lado.

Foi o Sp. Braga o primeiro a andar perto do golo. Aos 16’, Pardo obriga Júlio César a uma excelente defesa, mas foi o Benfica quem primeiro fez o marcador funcionar. Minuto 33’, Maxi Pereira faz o cruzamento, Jonas salta mais alto que Aderlan Santos e coloca o Benfica na frente. Um golo pleno de oportunismo para o avançado brasileiro, que ganhou no seu primeiro duelo com Kritciuk, o guarda-redes habitual suplente de Matheus. Como o resto do jogo viria a mostrar, foi o único que o Benfica conseguiu ganhar ao russo. Até ao intervalo, as "águias" ainda podiam ter marcado por mais duas vezes, mas adivinhem quem não deixou...

Jesus resolveu fazer uma espécie de passagem de testemunho na segunda parte. Deixou Enzo no balneário, fez entrar Pizzi, que tem sido trabalhado para substituir o argentino. Os minhotos apareceram com a mesma vontade de discutir o jogo e, praticamente na primeira vez que chegaram perto da baliza de Júlio César, fizeram o empate. Aos 47’, na sequência de um canto, André Almeida deixa passar uma bola para a pequena área do Benfica e Aderlan, a dois tempos, faz o golo.

Era um aviso sério e era um filme que já se tinha visto há dois meses em Braga. Benfica a ganhar, Sp. Braga a empatar. O capítulo final ainda estava por escrever. Kritciuk ainda fez mais uma grande defesa, antes de Pardo, aos 57’, fazer um daqueles golos “maradonescos”, de pegar na bola no meio-campo, correr até à baliza, fintar uns quantos adversários e fazer o golo. A reacção de Jesus foi: meter avançados. O Benfica acabou a jogar com Lima, Jonas, Derley e Talisca. Mas nada derrubou a muralha russa que o Sp. Braga tinha na baliza.

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