“Sousa pode jogar em qualquer piso, mas penso que até é melhor em hardcourts

Pela sua experiência como jogador e pelo acompanhamento que faz enquanto comentador televisivo, Mats Wilander conhece o circuito mundial como poucos e não hesita em colocar Roger Federer no topo da lista de favoritos.

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Wilander acredita que Federer vai fazer um grande Open dos EUA DR

Em exclusivo para Portugal, Mats Wilander anteviu para o PÚBLICO o próximo Open dos EUA, a quarta prova do Grand Slam que terá início no dia 25. O antigo número um mundial e detentor de sete títulos do Grand Slam (entre os quais o dos EUA, em 1988) é, actualmente, um dos mais influentes analistas do ténis mundial e é mais conhecido por ser o comentador residente do Eurosport, canal que irá efectuar a maior cobertura do Open dos EUA de sempre, com a transmissão de 500 horas do torneio (das quais 250 em directo), repartidas pelos canais 1 e 2.

Apesar de Novak Djokovic estar no primeiro lugar do ranking e, há seis semanas, ter ganho em Wimbledon, após derrotar Roger Federer na final, para Wilander o suíço é o seu favorito. “Neste momento, Federer é o melhor tenista do mundo em encontros à melhor de três sets. Se tiver um bom sorteio e não realizar muitos encontros longos na segunda semana, ele tem grandes possibilidades de vencer, o que é muito entusiasmante”, justificou o sueco.

“Ele já ganhou o Open cinco vezes e sabe, mais do que ninguém – com Rafa fora (não que eu pense que Roger tenha medo dele) – que não há nenhum jogador que ele pense que não pode derrotar. Com os fãs, o vento, o vencer por cinco vezes e Djokovic apenas uma, acredito que vai ganhar encontros, mesmo sem jogar muito bem. Vai pensar ‘esta é a minha última oportunidade de vencer o Open e adoro-a! Tenho quatro filhos, Nova Iorque é óptima, confusa e organizada’ e penso que ele vai estar on fire de tal forma que o público, automaticamente, vai se tornar seu fã como de nenhum outro – talvez desde que Jimmy Connors chegou às meias-finais [em 1991]”, acrescentou Wilander, não sem antes lembrar: “O formato à melhor de cinco sets é o seu maior inimigo. Para o final do torneio poderá ser um problema, porque há jogadores do top 10 para defrontar, possibilidades de chuva e sem tecto para fechar, poderá ser um pouco demais para um jogador de 33 anos.”

Wilander recordou a eliminação de Federer na edição do ano passado, frente ao espanhol Tommy Robredo, uma derrota que, para o actual comentador, serviu de alerta para o suíço. “A mais importante influência aconteceu no ano passado no Open dos EUA quando decidiu mudar para uma raqueta maior, decidiu ligar a Stefan Edberg e decidiu que queria melhorar uma parte do seu jogo. Pela forma como Federer jogou em Wimbledon, penso que Stefan é perfeito; muito simpático, muito conhecedor do ténis, é compreensivo e ajudou-o a ter confiança para jogar de forma mais agressiva”, explicou Wilander.

Open masculino aberto
No entanto, o favoritismo que Wilander atribui a Federer não o leva a deixar de pensar que este Open dos EUA é bastante aberto. “Ao mesmo tempo, é também o ano para surgir um não favorito: Dimitrov, Raonic, Wawrinka, talvez Berdych, talvez Tsonga… Quando virem que Djokovic não está a jogar muito bem, Nadal nem sequer está e que Murray não está no seu melhor, sentem que podem derrotar Federer num determinado dia”, avisou o sueco.

“Já na Austrália, Dimitrov fez um encontro equilibrado com Nadal, mostrando a ele próprio, a outros jovens e a nós que não estão muito longe destes tipos; em Roland Garros, Gulbis chegou às meias-finais; Dimitrov em Wimbledon talvez até poderia ter ganho o torneio com um pouco de sorte… Todos os jogadores estão a trabalhar mais, a bater mais forte, os do top estão a perder… Há muito espaço para um jogador de fora, como Sousa, Benneteau, Fognini, causar uma boa impressão e chegar à quarta ronda, quartos-de-final… Todos estão a mostrar a todos que um jogador fora do top está mais perto dos do topo, no circuito regular e nos Grand Slams, e isso não acontece há sete anos, por isso, esta é a primeira vez que sinto que é mesmo um Open”, reforçou Wilander.

Sobre João Sousa, Wilander aconselha-o a não pensar muito no facto de ser o primeiro português a figurar entre os 32 cabeças de série de um torneio do Grand Slam. “Uma vez que se entra no court, não interessa realmente se se é cabeça de série ou não. É uma vantagem ter um bom sorteio e defrontar um adversário pior classificado, mas é provavelmente uma desvantagem ter o nome em encarnado e o seu adversário em preto, porque de repente é-se o favorito. O desafio é não pensar nisso e jogar como outro encontro qualquer”, explicou Wilander, antes de confessar: “Vi-o no Open da Suécia e derrotou o nosso número um em três sets. Sousa pode jogar em qualquer piso, mas penso que até é melhor em hardcourts.”

Sobre Novak Djokovic, o antigo líder do ranking sente que não tem as forças necessárias para se impor em Nova Iorque após um ano que tem sido desgastante. “Se calhar não deveria dizer isto, mas, para muitos jogadores, o Open dos EUA é considerado o final de uma longa época. Depois tentam sobreviver por um par de meses e esperam estar frescos para o Masters e, possivelmente, a final da Taça Davis. Djokovic gasta muita energia na época de terra batida e em Wimbledon e, depois, chega a Nova Iorque que nos suga energia, por causa de Manhattan, dos transportes, do complexo de Flushing Meadows, do público (que geralmente está a favor do adversário)… não é fácil estar focado no Open dos EUA. Os outros são um pouco melhores porque estão mais relaxados”, justificou.

Já Andy Murray, que não ganha um torneio há 13 meses, poderá aproveitar o facto de não estar tão desgastado: “Chega sem pressão, talvez sem um pouco de confiança, mas já ganhou o Open e não penso que seja negativo não ter ganho qualquer torneio este ano.”

Pelo contrário, Wilander acha que o termo Open não se irá aplicar ao torneio feminino, dado o enorme favoritismo de Serena Williams. “Nas senhoras, não está aberto. Está dependente de Serena provar que é uma das melhores de sempre. É um momento demasiado perfeito para ela conquistar o 18.º título e igualar Chris Evert e Martina Navratilova. Já o mostrou ao ganhar em Stanford e Cincinnati e os ‘hardcourts’ são o melhor piso para ela jogar consistentemente bem”, explicou.

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