“Só irei perceber o que me aconteceu quando terminar a época”

Vasco Ribeiro entrou esta quarta-feira na história do surf português ao conquistar, na Ericeira, o título mundial júnior da Associação dos Surfistas Profissionais. Um troféu que valeu ao jovem, de 19 anos, um prémio de 25 mil dólares e muitas expectativas em relação ao futuro. Video: Imagens ASP/Montagem Ricardo Rezende

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Vasco Ribeiro é campeão mundial júnior de surf

Após conquistar o campeonato nacional absoluto e o campeonato europeu júnior, Vasco Ribeiro coroou um ano mágico de 2014 com o título mundial júnior. Um feito inédito na história do surf português que deixa o jovem de 19 anos mais confiante numa futura qualificação para o circuito mundial (WCT).

Já interiorizou o significado desta vitória?
É um momento muito bom para minha carreira e também para o surf português. Ainda estou a digerir este triunfo, mas estou muito contente. Ainda não acredito que isto aconteceu. Agora, tenho de seguir em frente e amanhã [hoje] vou já para o Brasil para voltar a competir. Acho que só vou perceber o que me aconteceu em Dezembro, quando acabar a época e tudo estiver mais calmo. Nessa altura é que irei olhar para trás e perceber o que me aconteceu.

Foi complicada a final frente ao brasileiro Italo Ferreira?
Simplesmente dei o meu melhor em todos os heats [eliminatórias] e ao longo de todo o campeonato. A partir do momento em que alcancei a final, senti que tudo poderia acontecer, nomeadamente chegar ao título e acabei mesmo por ganhar.

O factor “casa” contribuiu para a sua motivação?
Contribuiu muito. É sempre bom ter o apoio dos portugueses ali na praia [de Ribeira d’Ilhas, na Ericeira]. Vencer o Mundial em Portugal no meu último ano de júnior foi a cereja no topo do bolo.

Foi mais complicado vencer o Mundial ou o Europeu?
Foram ambos muito difíceis. Mas tem sido um ano excepcional, com muitas alegrias. Tenho ainda mais três campeonatos pela frente e parece que o ano nunca mais acaba. Tinha estabelecido estes três objectivos [campeonato nacional absoluto – foi o mais novo de sempre a conquistar o troféu -, Europeu e Mundial] para este ano, mas sabia que iria ser muito complicado e teria de trabalhar imenso para alcançar cada um. Foi o que eu fiz e é óptimo perceber que o trabalho deu frutos. Agora, quero disfrutar um pouco deste êxito e continuar a somar vitórias.

Este triunfo vem abrir-lhe muitas portas, nomeadamente em termos de patrocínios?
Acredito que me irá trazer coisas boas, mas tenho de esperar para ver. Ainda tenho outros objectivos para cumprir e vou-me focar neles até ao final da época. Foi óptimo, porque era o Campeonato do Mundo e veio muita gente a Portugal para assistir. Teve bastante visibilidade. Vamos esperar até ao fim do ano para ver o que poderá acontecer a nível de patrocinadores.

O próximo objectivo passa por qualificar-se para o WCT (circuito mundial de surf)?
Claro que sim. Mas não quero estabelecer prazos para chegar a esse patamar. Quero continuar a fazer o meu trabalho e ver o que poderá surgir. Seria um sonho chegar ao WCT.

Vai competir no Brasil com um novo estatuto…
Acho que vou ser exactamente igual. Eventualmente, as pessoas vão falar um pouco mais sobre mim, mas vou continuar a fazer aquilo que quero e estabelecer a minha táctica antes de entrar na água. Não haverá diferenças. Mas, na realidade [risos], só posso dizer como será depois de competir no Brasil. Depois, vou seguir para o Havai [EUA] para disputar as duas últimas provas deste ano.

Como tem acompanhado o crescimento do surf em Portugal nos últimos anos?
Tem sido incrível, temos tudo para estar entre os melhores do mundo. É preciso continuar a acreditar e fazer o que temos feito. Espero que os portugueses vejam isto como algo positivo e comecem também a acreditar na qualidade do nosso surf. A qualidade dos praticantes aumentou nos últimos anos e está agora num nível superior.

Tem alguma grande referência no surf?
Só o meu pai, que foi com quem comecei a praticar, aos seis anos de idade, na praia da Poça [Estoril]. Desde então nunca mais parei.

Como reagiu a sua família a esta vitória?
Assistiram a tudo na praia e ficaram todos muito contentes. Nem eles ainda acreditam que isto aconteceu. Foi tudo muito rápido, durante um dia. É muito bom ter o apoio da minha família em tudo o que faço.

Financeiramente já consegue viver apenas do surf?
Claro que sim.

Qual foi o valor dos prémios monetários que conquistou este ano?
Durante o ano inteiro não sei ao certo, mas com este Mundial o prémio foi de 25 mil dólares [19,6 mil euros]. Tem sido um ano muito bom.

Como compatibiliza o surf com os estudos?
Neste momento não estou a estudar. Acabei o 12.º ano e concentrei-me apenas no surf. Um dia mais tarde, se as coisas não correrem como eu espero na minha carreira, vou fazer a universidade. O surf implica alguns esforços e sacrifícios, mas já estou habituado a ter uma vida um pouco diferente dos outros jovens da minha idade.

Vai ser pai em breve…
É verdade, o meu filho vai nascer no princípio de Abril do próximo ano. Assusta um bocadinho, mas estou muito feliz com isso.

Nunca pensou praticar outro desporto?
Não. Gosto de ver futebol, mas não tenho muito jeito para jogar, nem tenho clube. Para além do surf, só pratico natação para treinar. Não me consigo ver a fazer outra coisa na minha vida.

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