“Sim, sou velho. E qual é o problema?”

Stanko Poklepovic acabou de assumir o comando técnico do Hajduk Split e é o técnico mais velho em actividade nas primeiras divisões do futebol europeu.

Foto
Stanko Poklepovic está a cumprir a quarta etapa como treinador do Hajduk Split NIKOLA SOLIC/REUTER

Jorge Jesus (60 anos) e Manuel Machado (59), respectivamente técnicos de Benfica e Nacional da Madeira, são os dois treinadores mais velhos da primeira liga portuguesa. Na segunda liga, os dois mais velhos estão na Madeira, Vítor Oliveira (61, União) e Rui Nascimento (54, Marítimo B). Entre estes quatro homens, estão décadas de experiência no banco. Mas qualquer um pode ser considerado um miúdo quando comparado com Stanko Poklepovic. Aos 76 anos, este croata acabou de assumir o comando técnico do Hajduk Split e, segundo o levantamento da UEFA, é o treinador mais velho em actividade no futebol europeu.

Esta é mais uma etapa na longuíssima carreira de Poklepovic, que começou a ser treinador em 1969 no RNK Split, depois de ter sido jogador do clube durante 14 anos. O veterano técnico vai cumprir a sua quarta passagem pelo Hajduk, que já tinha sido o seu último emprego, uma passagem curta em 2010 que ainda deu para vencer a Taça da Croácia. Antes, esteve lá em dois períodos, entre 1984 e 1986, e entre 1991 e 1993. Nunca foi campeão da Jugoslávia (o melhor que conseguiu foi um segundo lugar, atrás do FK Sarajevo em 1985), mas foi ele o primeiro treinador campeão da Croácia pós-independência, em 1992.

Numa carreira que já leva 46 anos, Poklepovic já passou por 12 clubes diferentes e orientou duas selecções (Croácia e Irão). Treinou clubes de quase todas as antigas repúblicas da federação jugoslava, passando ainda por equipas iranianas (Persepolis, Sepahan e Damash), uma húngara (Ferencvaros) e uma cipriota (APOEL Nicósia) - pelo Persepolis foi duas vezes campeão iraniano. Ele foi o primeiro seleccionador do seu país, após este ter sido integrado na FIFA (fez quatro jogos particulares) e esteve na génese daquela que é considerada, até hoje, a geração de ouro do futebol croata, com jogadores como Boban, Suker ou Jarni.

Apesar da sua vocação itinerante, é no Hajduk, equipa da sua cidade natal, que se sente em casa e terá como missão elevar o segundo maior clube da Croácia (apenas perde em títulos para o Dínamo de Zagreb) do discreto quarto lugar que actualmente ocupa. “É como se nunca tivesse saído. Tudo é familiar e eu adoro este emprego. Mas eu não sou alguém que usa palavras vazias como ‘Vamos fazer o nosso melhor’. Eu quero resultados imediatamente. Não precisamos de meses para melhorar”, alertou.

Poklepovic pode ter começado a treinar ainda nos anos 1960, mas não considera isto como um handicap e dá como exemplo Miroslav Blazevic, o antigo seleccionador da Bósnia, de 80 anos, que até há um mês estava à frente do Zadar, uma equipa croata. “Sim, sou velho. E qual é o problema, Olhem para o Ciro [Blazevic], ele é um deus do futebol. É preciso que os novos aprendam connosco, os mais velhos. Para mim, é altura de passar os meus conhecimentos, mas também estou atento às novas tendências. Estou atento a tudo. Este último Mundial ensinou-me muito. Tenho muitos jogadores jovens e acredito que posso melhorá-los”, considera Poklepovic, citado pelo site da UEFA.

Dos considerados cinco maiores campeonatos da Europa (Alemanha, Inglaterra, Itália, França e Espanha), vem da Série A o treinador que mais se aproxima da longevidade do croata. Giampero Ventura tem 67 anos e uma longa carreira sempre no futebol italiano, comandando o Torino desde 2011. Na Premier League, o técnico mais velho é Arséne Wenger (Arsenal, 65 anos), posto que passou a ocupar desde a retirada de Alex Ferguson em 2013 (fechou a sua carreira no Manchester com 72 anos). Nas primeiras divisões de Alemanha e França os treinadores mais velhos têm ambos 61 anos, Huub Stevens (Estugarda) e Rolland Courbis (Montpellier), enquanto o ténico do Real Madrid Carlo Ancelotti (55) é o mais velho liga espanhola.

Poklepovic é a pessoa ideal para falar da evolução do futebol ao longo das últimas quatro décadas e das mudanças que foram ocorrendo: “Antigamente, as equipas jogavam mais abertas. Agora há muitos jogadores metidos em espaços reduzidos e joga-se em velocidade máxima. Se não for assim, não vale a pena.”

Sugerir correcção
Comentar