Sérvia bem representada numa temível selecção balcânica

Herança do futebol jugoslavo não foi generosa para a Sérvia, que desde 2006 falhou o apuramento para um Mundial e dois Europeus. Mas não falta talento nos Balcãs: como seria a imaginária selecção jugoslava?

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A Sérvia falhou a qualificação para o último Mundial de futebol, que se disputou no Brasil Marko Djurica/Reuters

O processo de desmembramento da Jugoslávia foi turbulento em termos sociais, políticos e também desportivos. A herança futebolística foi desigualmente repartida e a Sérvia, que Portugal defronta amanhã (19h45, RTP1) numa partida do Grupo I de apuramento para o Euro 2016, tem tido um percurso que está longe de ser brilhante em competições internacionais: após o fim da união com Montenegro, em 2006 (competiram juntos no Mundial da Alemanha), os sérvios falharam a qualificação para o Euro 2008 e 2012 e também para o Mundial 2014. Pelo meio houve uma fugaz participação no Mundial 2010, com a eliminação logo na fase de grupos.

O currículo da Sérvia é discreto quando comparado com o de outras selecções que fizeram parte da Jugoslávia. E, mesmo numa selecção imaginária que partisse dos jogadores actuais para formar uma equipa representativa do antigo bloco balcânico, a presença de jogadores sérvios seria reduzida, mas ainda assim a mais numerosa. Pelo menos na opinião de Zoran Filipovic, campeão pelo Benfica em 1982-83 e 1983-84 e mais tarde adjunto de Artur Jorge e Mário Wilson, que aceitou o convite do PÚBLICO para escolher a melhor selecção que o futebol nunca verá. O ex-internacional jugoslavo, que em 2007 se tornou no primeiro seleccionador montenegrino, não hesitou em dois dos nomes para o ataque: os seus compatriotas Mirko Vucinic e Stevan Jovetic, acompanhados pelo bósnio Edin Dzeko.

Na baliza surgiria o único esloveno, Samir Handanovic, com uma defesa à sua frente composta por Branislav Ivanovic (Sérvia), Marko Basa (Montenegro), Matija Nastasic (Sérvia) e Aleksandar Kolarov (Sérvia). O sérvio ex-Benfica Nemanja Matic alinharia no meio-campo, com os croatas Ivan Rakitic e Luka Modric, do Barcelona e Real Madrid, respectivamente.

“Seria uma selecção muito forte, até porque a antiga Jugoslávia sempre teve grandes jogadores”, apontou Zoran Filipovic, admitindo ausências de peso como as de Mario Mandzukic, Miralem Pjanic ou Lazar Markovic. “Esta podia ser uma grande equipa, que ficaria perto das equipas mundiais de topo como Argentina, Brasil e Espanha nas grandes competições”, sublinhou. Escolher um técnico balcânico é que seria mais difícil: “Não há muitos treinadores conhecidos. Mas quando há bons jogadores, quando a matéria-prima é boa...”

Claro que isto não passa de um exercício de imaginação, porque as tensões regionais são consideráveis e qualquer faísca provoca um incêndio, como se viu no Sérvia-Albânia de Outubro: a primeira parte nem sequer chegou ao fim, com o jogo a ser interrompido e posteriormente abandonado devido a incidentes dentro e fora do relvado desencadeados por um drone com símbolos nacionalistas.

Croácia e Eslovénia, que logo em 1991 tornaram-se independentes, têm os maiores feitos na região: os croatas atingiram os quartos-de-final do Euro 1996 e também no Euro 2008, para além de ostentarem o terceiro lugar no Mundial 1998. Já os eslovenos, com uma população a rondar apenas dois milhões de habitantes, marcaram presença nos Mundiais de 2002 e 2010 e no Euro 2000. E a Bósnia, que proclamou a independência em 1992, estreou-se numa grande competição no Mundial do Brasil, após ter sido afastada do Mundial 2010 e do Euro 2012 no play-off, por Portugal.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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