Seara nova

1. Na vida há uma tipologia de seres. Há os que sabem viver e que planam motivados unicamente pela sua própria existência. Outros precisam destes planadores e nada lhes apontam, pois podem servir os seus interesses ao planarem em alguns espaços. Os Governos adoram planadores. Um terceiro sente-se muito agastado com os planadores e aponta-lhes falta de carácter e tudo o mais, mas guardam para si e para os seus amigos tais juízos. Por fim, há aqueles que são estúpidos e desprovidos de inteligência social (social skills, dizem eles) ao ponto de publicamente se revelarem contra os planadores. Mais tarde ou mais cedo, pagam um preço alto. Nascemos para sofrer. Quanto aos outros todos, o mundo pula e avança, até ao próximo encontro social.

2. No dia 22 de Abril de 2014, para concluir o número de membros do Conselho de Arbitragem Desportiva (CAD) do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) e iniciar o processo da sua entrada em funcionamento, o Conselho Nacional do Desporto, sob proposta do Governo, nomeou Fernando Seara para o CAD, naturalmente com o consentimento do próprio.

Esperou o Comité Olímpico de Portugal (COP), entidade responsável pela instalação do TAD, por um mero ofício do Governo a dar conta daquela designação.

Tal ofício chegou no dia 25 de Agosto, isto é, 4 meses depois. Ou seja, 4 meses de atraso na instalação do TAD (o da celeridade).

3. Vai daí (adoro), pergunta o leitor: por que razão uma carta de Algés só chega à Ajuda 4 meses depois? Greve dos correios por tempo indeterminado, que passou despercebida ao país? Não existir carro para subir a Calçada? As obras da Calçada? Nem uma pessoa para entregar em mão?

Uma coisa é certa: não teve nada a ver com a candidatura de Fernando Seara à Liga Portuguesa de Futebol Profissional, anunciada a 25 de Maio desse ano. Não é crível que assumido um compromisso público – para 3 anos –, do mesmo se deite mão, para iniciar um projecto com aquele incompatível.

4.10 de Junho de 2014: “Fernando Seara anunciou hoje, em comunicado, que vai afastar-se do processo eleitoral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional”.

Voltamos, pois, à casa de partida, recebendo os 2.000, ou seja, o CAD, e assim já se pode enviar a carta ao COP, a informar que sempre temos Fernando Seara.

5. O CAD, de que sou membro por indicação do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, tomou posse a 29 de Setembro de 2014. Fernando Seara é eleito, entre os pares, Vice-presidente. O CAD é uma espécie de Conselho Superior de Magistratura do TAD. De então para cá, o CAD aprovou os critérios de selecção dos árbitros do TAD, entre outras tarefas essenciais a cumprir a lei. No dia 20 de Maio de 2015, após uma maratona de análise curricular e de entrevistas, levada a cabo pelo CAD, tomaram posse os 40 árbitros do TAD. No passado dia 4, os árbitros elegeram o Presidente do TAD, o vice-presidente e ainda um vogal para o Conselho Directivo.

6. O Conselho Directivo é um outro órgão do TAD, com competências de gestão e administração: é o “governo”, composto pelo presidente e vice-presidente do TAD, dois vogais e pelo secretário-geral.

Quanto aos vogais, um foi eleito pelos árbitros e outro é designado pelo Conselho Nacional do Desporto.

7. Reuniu, na quinta-feira, o Conselho Nacional do Desporto. Da sua agenda de trabalhos constava a indicação desse vogal.

O Governo apresentou ainda uma proposta para membro do CAD.

Estranho. Se o CAD está completo, o Governo está a propor mais um?

Por outro lado, nas recentes reuniões do CAD e no correio electrónico que une os seus membros, nunca ninguém disse que iria renunciar ao seu mandato de três anos. Só lá estamos há 9 meses.

Essa pessoa vai substituir um membro do CAD que ocultamente renunciou.

7. Quem, afinal, propôs o Governo para vogal do Conselho Directivo do TAD (com o silêncio do Conselho Nacional do Desporto)?

Resposta: a preencher pelo leitor. josemeirim@gmail.com

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