Sam Allardyce deixa a selecção inglesa após 67 dias no cargo

Técnico não resistiu ao escândalo revelado pelo Daily Telegraph.

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AFP/JOE KLAMAR

Aguentou 67 dias no cargo, só orientou a equipa num jogo e sai após uma revelação escandalosa. Sam Allardyce, de 61 anos, deixou de ser o seleccionador inglês de futebol, depois de ter sido filmado por jornalistas do Daily Telegraph a dar conselhos sobre como contornar os regulamentos da Federação inglesa (FA) que proíbem a posse partilhada de passes de jogadores.

“A Federação Inglesa confirma que Sam Allardyce deixou o cargo de seleccionador inglês”, confirmou a federação num comunicado emitido nesta terça-feira ao início da noite.

"Como foi noticiado hoje, a conduta de Allardyce foi inapropriada para um seleccionador de Inglaterra. Ele reconhece que cometeu um erro de julgamento e pediu desculpas. Contudo, dada a gravidade das suas acções, a FA e Allardyce decidiram rescindir contrato por mútuo acordo e com efeitos imediatos”, acrescenta a mesma nota.

Em várias reuniões com alegados investidores do Extremo Oriente, que afinal eram repórteres do Daily Telegraph sob disfarce (o último dos encontros decorreu há uma semana, em Manchester), Sam Allardyce foi filmado a criticar as regras que proíbem a posse partilhada dos passes de futebolistas. “[O regulamento] é ridículo. Mas há formas de contornar isso. É aí que está o dinheiro”, afirmou o técnico. O recurso a fundos de investimento está vedado em Inglaterra desde 2008. A FIFA interditou a prática desde 1 de Maio de 2015.

“Recebes uma percentagem do representante do jogador, que ele te paga. Dada a dimensão dos contratos actualmente, na ordem dos 30 ou 40 milhões, se receberes 10% e tiveres acordado com o representante receber mais 5% da parte dele, é uma quantia espectacular para duas horas de trabalho”, descreve Allardyce no vídeo do Daily Telegraph. Na edição desta terça-feira, lê-se na manchete do diário: “Seleccionador inglês à venda”.

O técnico também discute com os alegados investidores um acordo que o levaria a fazer quatro viagens anuais a Singapura e Hong Kong para se encontrar com empresários interessados em estabelecer fundos de investimento em futebolistas. “Vocês definem a agenda, em que dia eu voo, se vou para Hong Kong ou Singapura, em que hotel fico, com quem me encontro. Eu faria o tal discurso e regressaria um ou dois dias depois”, afirma. Em troca, pedia 400 mil libras (464 mil euros). O contrato que Allardyce assinou com a FA prevê uma remuneração anual na ordem dos três milhões de libras (3,5 milhões de euros) a que se juntam valores bónus.

Depois destas revelações, a Federação inglesa pediu ao Daily Telegraph a transcrição completa dos encontros secretos e o presidente Greg Clarke e o director-executivo Martin Glenn estiveram reunidos com Allardyce, num encontro que terminou com a rescisão de contrato.

"Foi uma grande honra para mim ser nomeado em Julho e agora estou profundamente desiludido com este epílogo", disse Allardyce em comunicado.

Sam Allardyce, que sucedeu a Roy Hodgson após o Euro 2016, esteve apenas 67 dias no cargo, orientando a Inglaterra num só encontro: a vitória por 1-0 sobre a Eslováquia.

Agora, Gareth Southgate vai orientar interinamente a selecção inglesa nos próximos quatro jogos, frente a Malta, Eslovénia, Escócia e Espanha.

Para além das matérias mais graves, Sam Allardyce também foi apanhado a criticar o sistema fiscal britânico, que descreveu como “corrupto”, e a troçar de Roy Hodgson, a quem sucedeu no cargo de seleccionador inglês. Allardyce, que não quis comentar as revelações do Daily Telegraph, também afirmou que a remodelação de Wembley feita pela FA foi “estúpida” e descreve Gary Neville, o adjunto de Hodgson, como “uma má influência”.

No comunicado emitido após a demissão, Sam Allardyce lamenta "os comentários sobre outras pessoas".

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