Rui Machado merece ver o pôr do sol no Estoril

Algarvio surpreendeu na primeira ronda do Estoril Open, ao derrotar João Sousa, e defronta na quinta-feira Borna Coric.

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Rui Machado é 90.º Foto: Miguel Medina/AFP

João Sousa foi o primeiro nome garantido no Estoril Open. O mais cotado jogador português iria estar nesta nova versão do torneio, mas não seria cabeça de série. Era um dos quatro portugueses no quadro principal (os quatro melhores do ranking) e, quando se fez o sorteio, percebeu-se que não iriam passar todos, mas iria passar pelo menos um. E o que passou não foi o mais cotado. O único que sobreviveu foi Rui Machado, que eliminou no court principal do Clube de Ténis do Estoril o número um português, em dois sets, com os parciais de 7-6 e 6-3, em 1h32m. No encontro da segunda ronda, previsto para o fim da tarde de quinta-feira, o adversário será o croata Borna Coric.

Apesar de não ser o mais cotado do quadro principal, Sousa, 57.º no ranking ATP, era, de facto, o grande atractivo do torneio. A sua imagem estava espalhada por Lisboa e por todos os cantos do Clube de Ténis do Estoril, o Millennium BCP distribuiu a cara recortada de Sousa (com buracos nos olhos) aos espectadores, e até o próprio tenista estava com uma camisola da cor do banco que é o patrocinador de referência do torneio, o rosa. Neste ambiente, que não lhe era propriamente amigável, mas também não era hostil, e sem a carga mediática ou a pressão de ter um ranking alto, Machado, que chegara ao quadro principal com um wild card, era o underdog.

O court central encheu-se para ver o duelo português, com o nacionalismo dividido entre os dois jogadores da casa. “Estava tudo desenhado para o João Sousa, mas o fato também me servia a mim”, diria mais tarde Rui Machado, após o triunfo. Nos primeiros jogos, os tenistas trocaram breaks, o equilíbrio foi-se mantendo e foi preciso um tie-break. O algarvio chegou a ter três pontos para fechar o set. Sousa ainda recuperou, mas Machado não quebrou.
Os 55 minutos do primeiro set indiciavam um confronto longo. O equilíbrio durou durante os quatro primeiros jogos, mas, ao quinto, Machado quebrou o serviço de Sousa para se colocar na frente em 4-2. Depois, esteve perto de sofrer um contra-break, mas segurou o seu jogo de serviço e, no jogo seguinte, voltou a quebrar o vimaranense e fechou o encontro no primeiro match-point. Machado foi confiante até ao fim, Sousa já parecia descrente a meio do jogo.

A organização teria dito que, se passasse a primeira ronda, Sousa estaria de certeza na sessão nocturna (uma novidade neste torneio) de quinta-feira. Pelo que fez nesta terça-feira, Machado ganhou esse direito, mas só se saberá se o conquistou quando se souber o programa do dia. Para Machado, esta terá sido uma das maiores vitórias da sua carreira, ele que, há muitas luas, chegou a ser n.º 59 do mundo (em Outubro de 2011), ocupando actualmente o 227.º do ranking ATP. Já em 2014, o tenista de 31 anos havia conseguido proeza semelhante, ao afastar o russo Dimitry Tursunov, na altura o 32.º do mundo, por duplo 6-0 na primeira ronda do Estoril Open. E, tal como em 2014 — na altura eliminado pelo argentino Leonardo Mayer Sousa —, volta a cair na primeira ronda do torneio.

Fisicamente, frisou Machado, tudo correu bem. “As pernas estão bem. Só a gestão da ansiedade fez com que sofresse um pouco da respiração”, observou, reconhecendo, no entanto, que este não foi um jogo perfeito: “Acho que cometi muitos erros. Ele entrou mal e eu também.” A enfrentar já a fase final da carreira, Machado diz que ainda vai jogar mais dois ou três anos, mas com os pés assentes na terra. “Não sou assim tão bom. Nunca passei dos quartos-de-final de um torneio ATP, e nunca passei da segunda ronda num Grand Slam. Isto dá confiança, mas não posso embandeirar em arco.”

Bem menos palavroso no pós-jogo foi João Sousa. Dificilmente se conseguia arrancar respostas mais extensas do que as perguntas. “Acusou a pressão?” “Não.” “Foi um mau dia?” “Sim.” Foram alguns minutos de respostas secas e justificações vagas do melhor tenista português da actualidade. “Não me encontrei em todo o jogo. Fiz o trabalho bem feito para chegar aqui com boas sensações, mas não consegui jogar o meu ténis”, explicou. Consequências da derrota? Nenhumas, garante João Sousa. “Quando se joga bem e se perde, é mais fácil. Esta foi mais uma derrota e há que lhe dar a menor importância possível.”

Com este triunfo, Machado é o único sobrevivente português no quadro principal de singulares do Estoril Open, seguindo-se o jovem croata e uma das estrelas emergentes do ténis mundial, Borna Coric (n.º 55). Isto porque, também nesta terça-feira, Gastão Elias, que entrou com um wild card, perdeu com o francês Kenny de Schepper (137) em três sets (6-2, 2-6 e 6-1).

Nesta jornada, não houve baixas entre os cabeças de série. O australiano Nick Kyrgios bateu o espanhol Albert Ramos-Vinolas em três sets (6-3, 6-7 e 7-6), enquanto o francês Richard Gasquet derrotou o australiano Marinki Matosevic em dois sets (7-6 e 6-1).

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