Riquelme, o herdeiro de Maradona, disse adeus aos relvados

Futebolista argentino foi um símbolo do Boca Juniors e sucessor de Maradona. Anunciou o fim da carreira aos 36 anos.

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Riquelme diz adeus Alejandro PAGNI/AFP

Num clube que idolatrou apenas um “10”, Diego Maradona, e num país que elevou esse “10” à categoria de divindade, o feito de Juan Román Riquelme não é de somenos: ficar conhecido na história do futebol como El Ultimo “10” é esclarecedor quanto ao lugar que lhe está reservado na hierarquia do Boca Juniors e da Argentina. Maradona houve só um, mas Riquelme está de pleno direito no lote dos escolhidos. E aos 36 anos sentiu que era chegada a altura de abandonar os relvados, 672 jogos e 173 golos depois: “O futebol é o jogo mais bonito que há. Trabalhei naquilo de que gostava, desfrutei ao máximo. Estou contente com a carreira que tive e agora vou passar a ser adepto”, sublinhou na entrevista com a qual tornou oficial o fim da carreira de futebolista.

O mais velho de dez irmãos, Juan Román Riquelme e a família moraram desde sempre no bairro Don Torcuato, em Buenos Aires. Filho de um pedreiro e de uma empregada doméstica, o jovem Juan sempre esteve mentalizado que a sua vida passaria pelos campos de futebol. “Terminei a escola primária e os meus pais perguntaram-me o que é que eu queria fazer. Disse-lhes que queria jogar futebol. Foi um pressentimento. Comecei aos 10 anos no Argentinos e aos 16 o Boca comprou-me. O meu ídolo foi Maradona”, confessava numa entrevista ao diário espanhol El País, em 2004. A estreia pelo Boca Juniors aconteceu a 10 de Novembro de 1996, com 18 anos. “Mal entrou, os adeptos começaram a gritar o nome dele. Já o adoravam”, recordava o treinador Carlos Bilardo. Quase um ano depois, Riquelme faria a primeira aparição num superclásico: entrou para o lugar de Maradona (que tinha quase 37 anos), numa passagem simbólica de testemunho.

Durante algum tempo, a carreira de Riquelme foi uma repetição do trajecto de Maradona: Argentinos Juniors, Boca Juniors e Barcelona. Na Catalunha as coisas não correram bem (como não tinham corrido bem a Diego) e rumou ao Villarreal, onde fez história ao contribuir para a presença nas meias-finais da Liga dos Campeões em 2005-06. Mas não tardou até que o coração falasse mais alto e regressasse ao La Bombonera. “Sou bostero [adepto do Boca] e vou morrer bostero”, disse numa ocasião. A tal ponto que, quando deixou o Boca para rumar ao Barcelona, houve discórdia em casa da família: “O meu pai esteve dois meses sem falar-me. Por ele, eu tinha jogado no Boca toda a vida.”

O amor pelo futebol foi a medida de todas as coisas para Riquelme. “Se tratares bem a bola, com carinho, ela devolve-to”, afirmou em entrevista à revista espanhola Panenka. Quanto ao cuidado que punha na vertente estética do seu jogo, explicou-o com uma evidência: “De certeza que os adeptos querem ver Zidane ou Iniesta. Nunca vi ninguém pagar um bilhete para ir ver um guarda-redes ou um central”.

“Quando a equipa tem a bola, és o melhor do mundo. Mas quando a perde, jogamos com um a menos”, disse-lhe Louis van Gaal, seu treinador no Barcelona. Riquelme não foi consensual e falhou o Mundial 2010 por divergências com o seleccionador Diego Maradona. Disputou apenas o Mundial 2006, alinhando em cinco partidas num percurso que terminaria nos quartos-de-final. José Pékerman, então técnico da albiceleste, lembrava que Riquelme “podia ter a fama e o dinheiro, mas queria apenas ser um menino que joga futebol”.

O menino fez-se homem e a partir de agora será apenas o adulto que vê futebol. Para Riquelme, os planos são passar tempo com o filho Agustín e levá-lo a ver jogos do Boca.

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