Re-Pa, não há derby como este no mundo

Um século de rivalidade que se mantém viva, apesar do actual mau momento de ambos os clubes.

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O Re-Pa é um derby intenso no futebol brasileiro DR

Esqueça Benfica-Sporting, AC Milan-Inter de Milão, Boca Juniors-River Plate ou até Flamengo-Fluminense. O maior derby do futebol mundial é o Re-Pa, o mesmo é dizer Remo-Paysandu. A rivalidade entre estes dois emblemas da cidade de Belém, no estado do Pará, no Brasil, nasceu em 1914 e tem sido alimentada ao longo dos 728 jogos que já disputaram entre si (só para ter uma ideia, o Benfica-Sporting tem uma história de “apenas” 293 duelos).

Ao longo de 100 anos de confrontos, o “Leão Azul”, como é conhecido o Remo, leva alguma vantagem, já que venceu 257 vezes (35,3% do total) e marcou 944 golos, enquanto o “Papão da Amazónia” soma 228 triunfos (31,3%) e 902 golos apontados – registaram-se ainda 243 empates. Mas o Paysandu pode vangloriar-se de ter mais títulos estaduais (45) do que o Remo (43), embora tenha sido “o mais querido”, como o Remo é apelidado no seu site oficial, que venceu o último, numa final a duas mãos disputada contra… o Paysandu.

O elevado número de embates entre as duas equipas tem a sua explicação. Tudo começa em 1914, quando os dois emblemas adquirem as suas actuais designações. Ambos sempre se mantiveram no principal campeonato estadual, que já leva 102 edições, e sendo uma prova relativamente pequena, com poucos clubes a competir, é inevitável que os confrontos entre os dois sejam frequentes. Aliás, Remo e Paysandu somam 88 títulos, tendo deixado fugir apenas 14 troféus para outros quatro emblemas do estado.

Apesar de, actualmente, atravessarem maus momentos desportivos, a rivalidade entre Remo e Paysandu permanece, embora longe vão os tempos em que o derby, conhecido também como “Clássico Rei da Amazónia”, reunia 65 mil adeptos, como ocorreu em 1999, na que foi a maior assistência registada em jogos entre ambos até hoje, ou mesmo 50 mil, como sucedeu em 2004. E é preciso recuar até 1993 para descobrir um Re-Pa disputado no principal escalão do futebol brasileiro.

Ao longo de um século de rivalidade, são inevitáveis diversos momentos mais ou menos memoráveis. Dos 7-0 aplicados pelo Paysandu ao Remo, em 1945, naquela que foi a maior goleada entre ambos até hoje, aos 33 jogos que o Remo esteve sem ser derrotado pelo Paysandu (entre 31 de Janeiro de 1993 a 7 de Maio de 1997), no que é apelidado de tabu azulino.

Mas também se encontram vários episódios caricatos. E basta recuar até Fevereiro deste ano para descobrir mais um. Muita chuva, mau relvado, cerca de 20 mil adeptos nas bancadas e o marcador a zero. A partida encaminhava-se para o seu final e o Remo carregava sobre o Paysandu. A cinco minutos dos 90’, Ratinho faz uma boa jogada na área adversária e quando se prepara para finalizar entra em campo um cão, atrapalhando a jogada e impedindo aquele que poderia ser o golo da vitória do Remo. A Fenómeno Azul, claque do Remo, entra em turbilhão, não querendo acreditar como um golo feito é roubado daquela forma por um canídeo, enquanto a Fiel Bicolor, claque do Paysandu, explode em delírio. É, não há derby como o Re-Pa neste mundo.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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