Reforma da FIFA pode ficar refém de grupos de interesses, alerta painel independente

Relatório propõe fixação de limite para mandatos de altos dirigentes e publicação de remunerações, entre outras alterações.

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Joseph Blatter, presidente da FIFA Toru Yamanaka/AFP

Para recuperar a credibilidade, a FIFA tem de levar a cabo uma série de reformas para aumentar a sua transparência e responsabilização, segundo um relatório independente publicado esta semana. O painel alerta para a possibilidade de alguns temas mais sensíveis poderem ficar “reféns de grupos de interesses rivais dentro da própria organização”.

A Comissão Independente de Governação (CIG) sublinha que “a FIFA começou com sucesso o processo de reforma e conseguiu alcançar alguns marcos importantes”. No entanto, “mantêm-se riscos e desafios” em algumas áreas.

Foram dados alguns passos, sobretudo através da acção da Comissão de Ética, da Comissão de Auditoria e Conformidade e da administração da FIFA, para a implementação de boas práticas de gestão. Entre elas estão a introdução de controlos financeiros sobre as federações, os procedimentos para as candidaturas à organização de competições e a regulação das campanhas presidenciais.

“A CIG está confiante de que estes tópicos serão tratados de forma profissional e serão seguidos pelos presidentes das Comissões de Auditoria e Conformidade e de Ética”, lê-se no relatório.

As áreas elencadas pela comissão fazem eco de alguns dos escândalos mais recentes no mundo do futebol, como o caso do suborno de altos membros do Comité Executivo da FIFA para que a Rússia e o Qatar recebessem os Campeonatos do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente.

Outras áreas que devem ser alvo de reformas dizem respeito ao funcionamento do Comité Executivo, um órgão que, diz o relatório, ganhou poder em detrimento do Congresso – onde estão representadas todas as federações nacionais. O painel de especialistas sublinha a necessidade de introdução de limites aos mandatos dos membros do Comité (excepto do Presidente), a publicação das suas remunerações e a integração de elementos independentes.

O relatório realça a oposição de alguns “líderes de opinião relevantes” no mundo de futebol a que algumas reformas sejam implementadas. Um dos exemplos é a posição dos membros da UEFA contra as mudanças propostas para o funcionamento do Comité Executivo. “Trata-se de um sinal para o CIG de que a agenda da reforma ficará refém pelos grupos de interesses rivais dentro da organização, apoiados por aqueles com receio de perder os seus privilégios duradouros e redes em vigor”, nota o relatório.

Uma recomendação final defende que “um órgão independente externo deve continuar a trabalhar com a FIFA para assegurar que a rota para a reforma seja completada”. Estes temas devem ser alvo de discussão e, potencialmente, de votação durante o próximo Congresso da FIFA, a 10 e 11 de Junho em São Paulo.

O painel de treze elementos da CIG foi formado no final de 2011 com o objectivo de “supervisionar a criação e implementação de um modelo de boa governação e de controlos sobre a FIFA para assegurar a integridade da organização com o objectivo final de restaurar a confiança entre os interessados na FIFA”.

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