Quem és tu, Daddy Birori?

O caso de dupla identidade que levou o Ruanda a ser desqualificado do apuramento para o Campeonato Africano das Nações 2015.

Foto
Daddy Birori ou Agiti Tady Etekiama? DR

Eram dois nomes diferentes, duas datas de nascimento, duas nacionalidades... Tinha de haver alturas em que se baralhava tudo. Porque era um só indivíduo o titular das duas identidades: tinha um passaporte congolês para jogar no clube, outro ruandês para jogar pela selecção. Este imbróglio custou ao futebolista em causa uma suspensão “até nova ordem” e também a desqualificação do Ruanda no apuramento para o Campeonato Africano das Nações (CAN) 2015. Ainda não será desta que os amavubi repetem a presença na principal competição africana de selecção, na qual se estrearam em 2004.

Daddy Birori nasceu a 12 de Dezembro de 1986 e desde 2009 representa a selecção do Ruanda. Avançado, participou na qualificação para os Mundiais de 2010 e 2014. Apontou um hat-trick frente à Líbia, na segunda mão da primeira ronda da qualificação para a CAN 2015. Na página oficial da FIFA na Internet o seu nome aparece escrito como Daddy Birori, embora a Confederação Africana de Futebol (CAF) escreva Dady Birori.

Agiti Tady Etekiama também é avançado, mas é ligeiramente mais jovem: nasceu a 13 de Dezembro de 1990 e tem passaporte da República Democrática do Congo, onde joga ao serviço do AS Vita Club – emblema que terminou no terceiro lugar da Liga congolesa na temporada passada e cujo feito mais notável da sua história é a conquista da Taça dos Clubes Campeões Africanos, em 1973.

Os dois são a mesma pessoa – e isso é um enorme problema, principalmente para a selecção do Ruanda. Os amavubi tinham garantido um lugar no Grupo A de apuramento para o CAN 2015 ao eliminar o Congo na segunda ronda, mas a dupla identidade do avançado foi denunciada. A fraude podia ter enganado todos menos o francês Claude Le Roy, seleccionador do Congo desde 2013 e que antes (2011-2013) tinha orientado a selecção da RD Congo. “Cheguei a dizer aos dirigentes ruandeses [antes da eliminatória] para não o colocarem a jogar, que eu esqueceria o assunto”, confessou à France Info. Como isso não aconteceu, a queixa foi feita. A CAF convocou as federações do Ruanda, Congo e RD Congo para esclarecer o assunto, assim como Daddy Birori e Agiti Tady Etekiama. Como é óbvio, só compareceu uma pessoa.

“Apesar de a federação ruandesa (FERWAFA) manter que, pelo que era o seu conhecimento, o jogador Daddy Birori só tinha uma identidade, as investigações revelaram que ele foi convocado pela FERWAFA como Agiti Tady Etekiama para representar a selecção do Ruanda”, podia ler-se no comunicado da CAF. O jogador foi suspenso “até nova ordem”, estando impedido de jogar pelo clube ou pela selecção ruandesa, desqualificada do apuramento para o CAN 2015, com o Congo a tomar o seu lugar no Grupo A, onde vai lutar pelo apuramento com a Nigéria, Sudão e África do Sul. O Ruanda vai recorrer da decisão, garantiu o presidente da FERWAFA, Vincent de Gaulle Nzamwita: “Não podemos controlar o que acontece entre ele e o clube pelo qual joga”, sublinhou o dirigente.

Claude Le Roy tem outra opinião. “Para Birori, o interesse de ter uma segunda identidade com o nome Etekiama, mais jovem, pode ter sido, em determinado momento, a hipótese de representar a selecção olímpica ruandesa”, explicou o técnico, com larga experiência no futebol africano. E acrescentou: “Na verdade, o jogador terá nascido em 1980”. Duas datas de nascimento ainda vá, mas três é capaz de já ser de mais.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

Sugerir correcção
Comentar