Quase caía em Eugene um dos recordes tidos como imbatíveis

No meeting da Liga Diamante, Kendra Harrison ganhou a prova dos 100m barreiras com uma marca sensacional.

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Kendra Harrison nos 100m barreiras Craig Mitchelldyer/Reuters

Como habitualmente, o meeting da Liga de Diamante de Eugene, nos Estados Unidos, realizado no ambiente único do Hayward Field e relembrando o precocemente desaparecido, fundista de génio, Steve Prefontaine, produziu resultados de grande valia no sábado à noite, mas talvez não se esperasse que dois recordes mundiais femininos viessem a ser seriamente ameaçados.                                      

Aconteceu, porém, e nos 100m barreiras a marca visada sobreviveu por três centésimos de segundo - e era um dos tais recordes imbatíveis, que vêm do final dos anos 1980, quando o controlo sobre os anabolizantes era muito mais permissivo. Marca essa fixada pela búlgara Yordanka Donkova, com 12,21s em Stara Zagora, a 20 de Agosto de 1988, à qual já tinha havido uma aproximação nos anos recentes, primeiro pela australiana Sally Pearson, com 12,28s em 2011, e depois pela americana Brianna Rollins, com 12,26s em 2013. Ainda assim, o recorde manteve-se vigente.

Kendra Harrison, a americana que tem dominado as listas do ano, conseguiu uma prova fabulosa, de uma fluência jamais vista, e o seu estilo e gabarito não poderiam ser mais diferentes dos de Donkova, enorme e de um volume muscular impressionante. Com barreiras de 84 cm é possível uma rapariga como Harrison, que mal mede 1,60m, fazer baquear as suas colegas muito mais altas, e foi o que aconteceu. Não obteve a melhor partida, mas a seguir aos 20 metros só existiu ela em pista, para selar o triunfo com três metros de vantagem em 12,24s, recorde americano e segunda marca da história.

Antes, na prova também feminina de 3000m obstáculos, as lebres saíram cedo de cena, mas isso não inibiu a jovem de 19 anos Ruth Jebet -  de nome obviamente queniano, mas que corre pelo Bahrein –, que se manteve em ritmo de recorde do mundo durante quase toda a prova, sozinha na frente. A marca global visada era a da russa Gulnara Galkina, com 8m58,81s nos Jogos Olímpicos de Pequim, o único tempo abaixo de 9 minutos até ao passado sábado.

Hyvin Kiyeng, a queniana que no recente meeting de Xangai quase estabelecera um novo recorde africano, com 9m07,42s, vencendo então largamente Jebet (9m15,98s), conseguiu aproximar-se a um ritmo galopante na derradeira volta, mas Jebet parecia ter o diabo no corpo e resistiu até ao último milímetro, ganhando com a segunda marca da história, e segunda abaixo de 9 minutos: 8m59,97s.

Kiyeng ficou a um centésimo da barreira dos 9 minutos e, no meio de tudo isto, o Bahrein desencanta uma possível campeã olímpica certamente por tuta e meia, graças a uma política permissiva da IAAF (Jebet saiu do Quénia para o Bahrein em 2013, aos 17 anos) que apenas pode prejudicar o atletismo. Agora, como este é um desporto individual, Jebet mostrou-se brilhante na luta pela perfeição, que quase encontrou.

Numa perspectiva “portuguesa”, a prova do triplo salto era importante em Eugene para aquilatar da forma de potenciais rivais olímpicos de Nelson Évora. O campeão mundial, o americano Christian Taylor, mostrou estar a caminho da melhor forma, ganhando com a melhor marca do ano de 17,76m, ao último salto, mas também o compatriota Will Claye confirmou estar de volta, fazendo 17,56m para o segundo lugar.

Nos 100m, o americano Justin Gatlin provocou o primeiro grande frisson da temporada ao vencer com 9,88s, mas o vento estava acima do limite legal. E nos 200m femininos a americana Tori Bowie levou de vencida a holandesa Dafne Schippers, com 21,99s, melhor de 2016, contra 22,11s, sobretudo devido a uma muito superior técnica na curva.

No início da jornada, o americano Joe Kovacs, corrente campeão mundial, obteve a melhor marca do ano no peso, com 22,13s, e o mesmo fez o britânico Mo Farah nos 10.000m, batendo a falange africana com 26m53,71s.

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