O tubarão de Messina dominou em todos os terrenos do Tour

Depois de Pantani em 1998, a Volta à França em bicicleta consagrou mais um campeão italiano, Vincenzo Nibali, que se tornou no sexto ciclista a triunfar nas três grandes voltas.

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Nibali conseguiu fazer o pleno das grandes provas por etapas Gonzalo Fuentes/Reuters
Kittel foi o rei do sprint no Tour 2014
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Kittel foi o rei do sprint no Tour 2014 KENZO TRIBOUILLARD/AFP

Vincenzo Nibali tem uma promessa para cumprir, depois de ter chegado neste domingo a Paris com a camisola amarela vestida. Vai entregar um dos seus maillot jaune à mãe de Marco Pantani, o malogrado ciclista italiano que venceu o Tour em 1998 e que morreu de overdose em 2004. Vai ser uma troca. “Eu dou-te esta, tu trazes-me uma tua”, foi o que Tonina Pantani terá dito a Nibali quando lhe entregou a amarela que pertencera a Marco. Dezasseis anos depois da única vitória do “Pirata”, o Tour voltou a ter um campeão italiano, com Nibali, o “Tubarão de Messina”, a vencer de forma afirmativa a 101.ª edição do Tour. Conquistou a amarela ao segundo dia, perdeu-a por algumas horas ao nono, mas, no total, vestiu-a em 19 dos 21 dias, incluindo o que verdadeiramente interessava, o último, para a consagração nos Campos Elísios.

O último dia do Tour não era para Nibali, que, cumprindo uma tradição da prova, bebeu uma taça de champanhe em cima da bicicleta, a caminho de Paris. Era para os sprinters e tudo seria decidido, com sempre, nos últimos metros da chegada. Nas últimas acelerações, Marcel Kittel (Giant Shimano) foi o mais forte e, tal como acontecera em 2013, foi o primeiro a cortar a meta nos Campos Elísios. Foi a quarta vitória do sprinter alemão nesta edição do Tour, igualando o número de vitórias em etapas na passada edição — ganhou três das quatro primeiras etapas, mais a última.

Mas este foi o Tour de Nibali, o homem que brilhou na montanha e resistiu às quedas, ao contrário de Chris Froome (Sky) e Alberto Contador (Tinkoff-Saxo), dois dos grandes favoritos. Nibali foi fiel à sua natureza, não se limitou a gerir vantagens, aumentou-a quando podia e até ganhou quatro etapas (mais do que qualquer outro vencedor nos últimos oito anos), tornando-se no sexto ciclista a vencer as três grandes voltas, depois dos triunfos na Vuelta em 2010 e no Giro em 2013. Antes dele, só o tinham feito Jacques Anquetil, Felice Gimondi, Eddy Meckx, Bernard Hinault e Alberto Contador.

“É o momento mais belo da minha vida. Não podia imaginar que vencer o Tour seria uma alegria tão grande. É uma sensação única subir ao pódio. Defendi o meu sucesso dia após dia neste Tour, mas isto começou antes, no Inverno, quando decidi que este seria o meu grande objectivo”, declarou o ciclista italiano, que havia sido terceiro classificado em 2012, atrás da dupla britânica da Sky, Wiggins e Froome.

Pantani venceu em 1998, no ano do caso Festina, e nunca se livrou da fama de ciclista batoteiro. Nibali reconhece admiração pelo “Pirata”, mas não se sente muito confortável com as comparações. “Pantani ganhou o seu Tour na última semana, comigo foi o contrário. Com dois dias, a amarela já era minha”, declarou o italiano um dia antes de ter partido para a última etapa.

O ciclista siciliano não se livra das perguntas sobre doping, até porque o director-desportivo da Astana Alexander Vinokourov, esteve suspenso por doping sanguíneo nos seus tempos de ciclista. Mas Nibali responde de forma assertiva, está disposto a todos os testes e abraça todas as novidades na detecção de batoteiros. “Com tudo o que foi sendo feito, todos os testes, o passaporte biológico, tem havido muitos progressos e os resultados estão à vista. Se não fosse por isto, provavelmente não estava aqui”, observou Nibali, o homem que, em tempos, disse que todos os batoteiros era ladrões e “deviam ser presos”.

Este foi também o Tour em que os ciclistas franceses voltaram a ser relevantes na classificação geral. Já não havia um francês no pódio desde o segundo lugar de Richard Virenque em 1997, mas em 2014 foram dois, Jean-Christophe Péraud (Ag2r) e Thibaut Pinot (FDJ), respectivamente segundo e terceiro — a última vez que dois ciclistas da casa estiveram no pódio foi em 1984, ano de vitória para Laurent Fignon, secundado por Bernard Hinault.

Dos cinco portugueses que alinharam à partida, quatro chegaram a Paris. Rui Costa teve um mau Tour de estreia como chefe-de-fila da Lampre, desistindo devido a uma broncopneumonia. O melhor dos quatro acabou por ser Tiago Machado, que, apesar da queda quando era terceiro da geral, ainda terminou em 72.º, a 3h08m03s de Nibali. Nélson Oliveira (Lampre), ficou em 87.º, Sérgio Paulinho (Tinkoff) foi 89.º e José Mendes (NetApp) classificou-se em 124.º.

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