Quando o San Lorenzo era uma das melhores equipas do mundo

Um dos cinco “grandes” da Argentina defronta hoje o Real Madrid, em Marraquexe, na final do Mundial de Clubes.

Foto
O San Lorenzo no Mundial de clubes Javier Soriano/AFP

Tudo começou com rapazes a jogar futebol numa rua em Buenos Aires e a preocupação de um padre que não queria que eles corressem o risco de serem atropelados. O padre deixou-os jogar nas traseiras da igreja desde que fossem à missa aos domingos. O bairro era Almagro, o padre chamava-se Lorenzo Massa e o clube que nasceu deste gesto acabaria por se chamar. Club Atlético San Lorenzo de Almagro. Com o passar das décadas, tornou-se num dos cinco “grandes” da Argentina (a par de Boca Juniors, River Plate, Racing Avellaneda e Independiente) e chegou à segunda década do século XXI com a sua fama ampliada a nível mundial por ser o clube de eleição de Jorge Bergoglio, o Papa Francisco.

Mas houve tempos em que os “azulgrana” de Almagro, que hoje defrontam o Real Madrid em Marraquexe na final do Mundial de Clubes, eram considerados a melhor equipa do mundo. Nos anos 1940, era uma das equipas dominantes da Argentina, com uma linha avançada temível e de grande capacidade goleadora. Em 1946, o San Lorenzo foi campeão e no final do ano resolveu fazer uma digressão pela Península Ibérica. Entre 22 de Dezembro de 1946 e 6 de Fevereiro de 1947, o San Lorenzo fez oito jogos em Espanha e dois em Portugal. A equipa que era conhecida como o “Ciclone” não ganhou todos, mas deixou uma aura de futebol ofensivo e espectacular. “Eram tão bons que até valia a pena ir ver os treinos”, escrevia a “Marca” na altura.

O San Lorenzo estreou-se a 22 de Dezembro com uma vitória por 4-1 frente ao Athletic Aviación (actual Atlético de Madrid) e, no dia de Natal, sofreu a sua única derrota da digressão, perdendo com o Real Madrid por 4-2. Depois, foram duas vitórias claras sobre a selecção espanhola (7-5 e 6-1) e empates com Athletic Bilbau (3-3), valência (1-1) e Deportivo da Corunha (0-0). Depois, atravessou a fronteira para mais dois jogos e os seus adversários portugueses, mais que os espanhóis, sofreram com a força do ciclone de Almagro.

A 31 de Janeiro de 1947, o Eestádio do Lima encheu para ver o FC Porto defrontar o campeão argentino, que venceu por 9-4. Os portistas ainda conseguiram estar duas vezes na frente (ao 1-0 e 2-1), mas, a partir do minuto 26, o San Lorenzo assumiu o controlo, com Rinaldo Martino e René Pontoni a marcarem três golos cada – Lourenço foi a maior figura dos “dragões”, com três golos. Nesta equipa do San Lorenzo, estava um homem que acabaria por jogar e treinar em Portugal, Mario Imbelloni. Depois de uma curta passagem pelo Real Madrid, Imbelloni foi para o Atlético de Alcântara em 1951, passou pelo Sp. Braga, Sporting e acabou no Marinhense (onde também foi treinador), passando ainda pelos bancos de Académica, Famalicão, Barreirense e Vitória de Guimarães.

Três dias depois, o San Lorenzo vinha a Lisboa para defrontar um combinado dos três maiores clubes da capital, a selecção B-S-B (quatro jogadores do Benfica, três do Sporting e quatro do Belenenses). A exibição no Estádio Nacional foi ainda mais avassaladora. Antes de Fernando Peyroteo marcar o primeiro para a B-S-B, já os argentinos tinham marcado quatro. Mais uma vez, Martino e Pontoni (quatro golos cada) foram as grandes figuras do San Lorenzo. Os benfiquistas Arsénio e Rogério e o sportinguista Jesus Correia marcaram os restantes golos da equipa lisboeta. A digressão ibérica do San Lorenzo ainda passou pela Andaluzia, com um empate cheio de golos (5-5) frente ao Sevilha.

Em mais de 100 anos de história, o San Lorenzo acumulou vários títulos no seu currículo, entre eles 15 campeonatos da primeira divisão argentina, tendo conquistado este ano o direito de estar no Mundial de Clubes ao triunfar na final da Taça Libertadores contra os paraguaios de Nacional Asunción, o seu primeiro título na maior competição de clubes da América do Sul. Se 2014 foi um ano histórico para o clube do padre Lorenzo (e que, incrivelmente, também tem como fervoroso adepto o actor norte-americano Viggo Mortensen, o Aragorn da trilogia “O Senhor dos Aneis”), 2016 também o será. É o ano previsto para a inauguração do seu novo estádio, que terá o nome do seu sócio n.º 88.325, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.

Sugerir correcção
Comentar