Qual o futuro do futebol?

1. O Sporting Clube de Portugal, dias 16 e 17 passados, organizou um congresso subordinado ao tema genérico do futuro de futebol. Tivemos a oportunidade de, a convite do organizador, assistir ao primeiro painel intitulado “ Desafios e Oportunidades na Indústria do Futebol”.

2. Em bom rigor, tendo presente o título desse espaço de comunicações e de debate e as concretas comunicações dos diversos membros do painel, todos de alguma forma bem conhecedores da realidade do futebol europeu e internacional, dir-se-ia haver alguma contradição. Com efeito, uma leitura possível do tema do painel apontaria para uma busca de soluções numa base de partida positiva. Porém, de oportunidades pouco ou nada se falou e, quanto aos desafios, a tónica assentou nos malefícios, isto é, na necessidade de encontrar respostas eficazes a algumas chagas que percorrem esse desporto, quando encarado como fenómeno universal e actividade económica de monta.

3. Na verdade, foram as temáticas relacionadas com o match fixing [resultados combinados], a necessidade de defender a integridade das competições e a integridade financeira, a proibição dos fundos de investimento ou, melhor dizendo, da “propriedade” ou “multipropriedade” de jogadores e a exponencial presença no todo do mercado económico dos agentes de jogadores, que estiveram em debate. Ou seja, e em breve, a haver desafios (ou desafio) este será sempre o de o futebol, como modalidade desportiva e sobretudo como actividade económica se apresentar como produto liberto de toxicidades.

4. Ora, aqui chegados, a verdade é que as mais recentes notícias continuam a marcar negativamente a imagem do futebol. Por exemplo, da Suíça - nação do futebol e a “grande nação do desporto” – chega-nos a aprovação de nova legislação no âmbito financeiro – incluindo o branqueamento de capitais – que tornam mais vulneráveis à fiscalização das autoridades públicas a vida fimanceira das organizações desportivas internacionais – mais de 60 com sede na Suíça – e dos titulares dos seus órgãos estatutários. Esta é uma reação dos poderes públicos que assume especial relevância na medida em que a Suíça e os seus cantões assumiram, há muito, uma política de captação de tais entidades desportivas, jogando mão de diversas medidas “amigas do desporto”, incluindo ao nível fiscal.

5. Entretanto, do outro lado da nossa fronteira, chega-nos a acusação do Ministerio Fiscal (Ministério Público), do passado dia 15, de crime de fraude desportiva, previsto no Código Penal espanhol. O acto acusatório tem por destinatários do Real Saragoça, seus dirigentes, director desportivo, treinador e 17 jogadores, e ainda 18 jogadores do Levante.

6. Os factos remontam à época 2010-11 e localizam-se na última jornada. O Saragoça encontrava-se em posição de descida de divisão e necessitava da vitória para se manter na primeira liga espanhola. Para o Levante o resultado do encontro era, em termos classificativos, indiferente. O que diz a acusação pública? Que os directores do Saragoça, em conjunto com o treinador e os capitães da equipa, estes em representação e com anuência dos restantes jogadores, resolverem “combinar o resultado”, garantindo assim os 3 pontos, com os jogadores do Levante. Seriam entregues aos jogadores do Levante €965.000. O Saragoça ganhou por 2 a 1.

7. Não estamos com aqueles que arvoram os valores do desporto como algo superior na vivência humana e de que toda a sociedade deve beneficiar. Há desporto bom e desporto mau, como os bancos. E há que ter os pés bem assentes na terra – na realidade – para, a partir desta simples constatação, agir em conformidade, num mundo que é dominado pelo económico. Se assim é, cabe-nos tomar todas as iniciativas e medidas regulamentares e legislativas para preservar o desporto bom e prevenir e combater o desporto mau. Mas sem ilusões de maior. É um combate de hoje, de ontem e de sempre. E é, sobretudo, como o Natal, quando o homem quiser (se ele não quiser…). josemeirim@gmail.com

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