Português vai jogar a final do Circuito Mundial de Juniores graças a campanha feita na Internet

Na sequência de graves problemas de tesouraria, a federação de ténis de mesa deixou cair a prova. A presença de João Geraldo foi assegurada graças a uma angariação de fundos que começou no Facebook.

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Xavier Lhospice/Reuters

Portugal vai estar representado na final do Circuito Mundial de Juniores de ténis de mesa, na Guatemala, no dia 20 de Janeiro, graças a uma campanha de angariação de fundos, lançada no Facebook, para assegurar a viagem de um atleta e do respectivo treinador. “Foi um grupo espontâneo que se formou depois de divulgarmos que a Federação Portuguesa de Ténis de Mesa [FPTM] não ia apoiar a ida do [João] Geraldo à Guatemala”, contou ao PÚBLICO Isidro José Borges, presidente do Clube de Mirandela, a que pertence o mesatenista de 17 anos (24.º no ranking europeu e 84.º no mundial).

A campanha começou no dia 26 de Dezembro e, até quinta-feira à noite, tinham sido angariados 865 euros. O total necessário era de 2400 euros, que ficaram assegurados por volta do meio-dia desta sexta-feira, com a contribuição do jornal i, que escreveu no mural da página Vamos Levar o Geraldo à Final do Circuito Mundial: “É com grande satisfação que comunicamos que o jornal i se associa à iniciativa de angariação de fundos para custear a ida do atleta João Geraldo à final do Circuito Mundial de Ténis de Mesa na Guatemala, disponibilizando-se para contribuir com o montante neste momento em falta (…).”

O perfil dos que contribuíram para a campanha foi muito diverso, revelou Isidro José Borges, “desde um jovem que enviou 4,81 euros a uma senhora de 66 anos, de Cercal do Alentejo, com um empreendimento de turismo rural, que queria sortear, com rifas, uma semana para quatro pessoas”. Mas o dirigente recebeu também contactos de portugueses em França, Angola, Brasil e Alemanha. “Fiquei muito sensibilizado com esta adesão do povo português.”

O presidente da FPTM, Pedro Miguel Moura, compreende que a quantia (2400 euros) pareça irrisória a quem desconhece os problemas que a modalidade atravessa. E compara: “Este valor equivale, por exemplo, a levar a equipa feminina de juniores a um Open na República Checa ou a selecção nacional de juniores ao Open de Espanha. Experiências de competitividade, crescimento e internacionalização muito importantes para vários atletas.” Mas o dirigente gostaria muito que João Geraldo conseguisse ir à Guatemala, disse ao PÚBLICO antes de se saber que a viagem estava assegurada. O ex-atleta da selecção e ex-campeão nacional disse perceber a “tristeza” de Geraldo, já que também a viveu muitas vezes no passado. Desde o dia em que tomou posse como presidente (1 de Agosto de 2012), conta que teve de tomar muitas decisões difíceis. Esta foi uma delas, assim como a de, em Dezembro, “não poder viabilizar a ida da selecção ao Mundial de juniores, na Índia”.

Perante as dificuldades financeiras e de tesouraria da federação, que Pedro Miguel Moura não quer explorar (mas que correspondem a um passivo de 200 mil euros, que também contribui para inviabilizar créditos para deslocações), “há que fazer escolhas”. E esta prova não foi prioritária para a direcção da federação, nem para as outras federações europeias: “O único europeu a participar é espanhol (75.º ranking europeu e 203.º no mundial)”, revela. E informa que a marca de material desportivo que patrocina João Geraldo também não investiu na prova: “Não teria retorno que justificasse.”

Face à escassez de recursos disponíveis, as prioridades da FPTM estão traçadas: “A curto prazo, subir a posição da selecção nacional de juniores no próximo Campeonato do Mundo, em Junho (no ano passado, ficámos em 6.º lugar). A longo prazo, preparar a substituição da selecção A. E contamos, claro, com o João Geraldo”, diz Pedro Miguel Moura, que actualmente quer sobretudo “apostar na preparação e evolução dos atletas”.

Para João Geraldo, “a campanha foi uma boa ideia”. O atleta não ficou zangado com a federação, mas confessa-se “desiludido e triste com a situação”. No entanto, compreende: “Quando não há dinheiro, não se pode fazer nada.” Aos que contribuíram para a sua ida à Guatemala, agradece. “Foi um sinal de reconhecimento pelo meu trabalho e por aquilo que posso fazer pelo meu país”, disse ao PÚBLICO antes ainda de saber que já podia começar a fazer as malas. 
 
 
 
 

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