Portugal-Polónia à lupa: selecção jogou no meio-campo adversário

Equipa académica analisa o jogo dos quartos-de-final, vencido por Portugal nos penáltis.

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A dinâmica das acções de cada equipa ao longo do jogo pode ser captada em forma de rede.  Na figura “rede de acções” do Portugal-Polónia, vemos as acções realizadas com a bola pelos jogadores, tais como passes, lançamentos, cortes de cabeça, cantos, cruzamentos. O “tamanho” de cada jogador é definido pelo número de jogadores com quem este interage. A cor verde significa menor precisão nas acções, aumentando para amarelo e, finalmente, vermelho, que indica maior precisão. A “largura” de cada ligação (seta), que só aparece se for superior a 4, aumenta em função do número de acções realizadas entre os jogadores dessa ligação. 

A equipa de Portugal teve duas alterações em relação ao "onze" inicial com que venceu a Croácia. Renato Sanches entrou para o lugar de André Gomes e Eliseu substituiu Raphael Gerreiro na defesa, como lateral-esquerdo. A Polónia, que venceu a Suíça nos quartos-de-final após grandes penalidades, repetiu o mesmo "onze" inicial para defrontar Portugal.

A rede de acções mostra uma maior densidade de ligações entre os jogadores da Polónia, resultante do facto de ter tido mais tempo a posse de bola (54%) e ter realizado 665 passes, dos quais 83% chegaram ao seu destino,  enquanto Portugal fez 576 passes, com 86% de eficácia. De um modo global, a rede de acções da Polónia estabelece-se entre os jogadores mais recuados e a de Portugal entre os jogadores mais avançados no campo.

Portugal manteve o sistema de jogo em 4-4-2, com William Carvalho como o médio mais defensivo, João Mário e Adrien como médios interiores, Renato Sanches como médio mais ofensivo, Cristiano Ronaldo e Nani como avançados. De realçar que este posicionamento foi tendo alterações ao longo do jogo. A Polónia iniciou o jogo num 4-4-2, com Maczyinski e Krychowiak como médios centro e Grosicki e Blaszxzykowski como alas. Lewandowski jogou na frente, tal como Milik, mas com este a posicionar-se ligeiramente mais recuado.

O jogo iniciou-se praticamente com o golo da Polónia, logo no segundo minuto, com uma bola longa para o lado esquerdo para Grosicki que cruzou rasteiro para o primeiro golo de Lewandowski neste Europeu 2016. 

Portugal jogou de forma diferente dos jogos anteriores, sem tantos passes efetuados entre a linha defensiva, como mostram a ausência de ligações entre Pepe-José Fonte-Cedric, fazendo-se a ligação destes defesas aos médios sobretudo através do lateral esquerdo Eliseu. Mesmo Rui Patrício, ligou-se mais a Ronaldo do que aos defesas portugueses. As ligações mais frequentes foram portanto entre Eliseu, William Carvalho, Renato Sanches e Adrien Silva. Renato Sanches foi o jogador centróide da equipa (foi o jogador que mais passes recebeu), apresentando muita mobilidade, tendo efectuado vários passes verticais sobretudo para Nani. William Carvalho, que foi o jogador que mais passes efectuou, esteve em constante apoio aos médios como mostram as ligações com Renato e Adrien. Os avançados jogaram sobretudo pelo corredor central, ao contrário de jogos anteriores em que apareciam diversas vezes pelos corredores laterais, mas fizeram poucos movimentos que desequilibrassem a defesa adversária. Portugal foi capaz de fazer a bola chegar com frequência aos avançados. Cristiano Ronaldo e Nani conseguiram ligar-se com relativa frequência, ligação que originou um remate de Ronaldo ao lado. Portugal apresentava dificuldade em contrariar os ataques da Polónia,  a qual explorava o espaço deixado por Portugal no corredor central. Nesta sequência, a meio da primeira parte, Renato Sanches passou para médio interior direito e Adrien para médio ofensivo. Foi nesta posicão que Renato Sanches recebeu a bola, combinou com Nani e rematou, de fora da área, para o golo do empate.

A Polónia, em contraste com Portugal, apresentou maiores ligações entre a defesa, incluindo o guarda-redes Fabianski. Krychowiak, médio, descia à defesa para ajudar a construir o jogo e foi o jogador que mais passes recebeu e efectuou de entre todos os jogadores em campo. No entanto, estas trocas de bola deram-se sobretudo no meio campo defensivo da Polónia. Com a bola nos centrais, os laterais abriam nos corredores e davam espaço para que Krychowiak e Maczynski jogassem no corredor central, no espaço deixado entre os avançados e médios de Portugal. Com a pressão alta feita por Portugal, a Polónia optava por chegar à área através de passes longos para Lewandowski ou Milik, no centro, ou Blaszczykowski do lado direito. Em diversas ocasiões, Blaszczykowski e Gorosicki fizeram combinações com os defesas laterais, aproveitando o espaço entre o defesa-lateral e o defesa-central, conseguindo por vezes entrar na área portuguesa, como foi exemplo o remate de Milik, defendido por Rui Patrício aos 68 minutos de jogo.

A entrada de Moutinho e de Quaresma mudou a organização de Portugal, pois a equipa passou a jogar com dois médios centros. Foi uma alteração que permitiu a Portugal controlar o jogo e reduzir as oportunidades para a Polónia entrar na área portuguesa, levando o jogo a prolongamento e a grandes penalidades.

Ao longo de todo o jogo, ambas as equipas tiveram dificuldades em chegar à área adversária e criar boas oportunidades de golo. Neste âmbito, do ponto de vista defensivo, destacam-se as exibições de Pepe, do lado português, e de Glik, do lado da Polónia.

Nas grandes penalidades, Portugal teve todos os jogadores a converterem os respectivos penáltis e venceu, valendo-se da defesa que Rui Patrício realizou ao remate de Blaszczykowski. Com mais uma passagem, Portugal garantiu a presença nas meias-finais, onde irá defrontar o vencedor do jogo entre o País de Gales e a Bélgica. 

Duarte Araújo, José Pedro Silva, Micael Couceiro

Laboratório de Perícia no Desporto da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa; e Ingeniarius, Lda.

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