Poluição na baía do Rio de Janeiro assusta atletas da vela

Há garrafas, sacos plásticos, cadeiras e até animais mortos por todo o lado. Até já Mathew Belcher, medalha de ouro em Londres, assumiu a preocupação.

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O lixo nas águas da baía de Guanabara YASUYOSHI CHIBA/AFP

Há quem se queixe das garrafas e dos sacos plásticos que estão por todo o lado e teimam em prender-se às embarcações, há quem garanta que já lá viu animais mortos e há até quem fale em cadeiras de madeira e televisores a flutuar. É neste cenário pouco simpático que, a partir deste sábado, centenas de navegadores se apresentam na baía do Rio (também conhecido por baía de Guanabara) para o primeiro teste de vela, com vista à realização dos Jogos Olímpicos de 2016. Ao todo, serão 324 os atletas que, entre 2 e 9 de Agosto, participarão em 49er, Laser, 470, Finn e RS:X, no caso dos homens, e em 49er FX, Laser Radial, 470 e RS:X, no caso das mulheres.

E o local até tinha tudo para ser idílico, ou não tivesse o célebre Pão de Açúcar como pano de fundo. Só que na hora de ir para a água, naquilo que pretende ser uma espécia de ensaio para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, a beleza do cenário envolvente de pouco serve. Os treinos começaram segunda-feira e os alarmes não tardaram a soar, até porque a promessa de despoluir o espaço - onde são derramados milhões de litros de águas residuais – continua muito longe de estar cumprida.

Entre as vozes que se levantam contra o estado degradante em que se encontram as águas, destaque para a do australiano Mathew Belcher, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2012, em 470, que, depois do treino de terça-feira, teve de andar a remover vários resíduos plásticos da sua embarcação, sendo que, durante o percurso, se deparou com uma surpresa pouco agradável. “Encontrámos muitas garrafas e sacos de plástico. E ontem até um cão morto vimos na água. Se os Jogos Olímpicos acontecessem amanhã, teríamos realmente um problema”, queixou-se Belcher, citado pelo jornal Folha de São Paulo.

Mas Belcher não foi o único. Na quinta-feira, um fotógrafo da AFP encontrou igualmente um gato morto na água. “A água parece diferente, está um pouco castanha. Ontem, durante a minha primeira experiência na água, vi uma cadeira de madeira. Não é propriamente o ideal”, contou à France Press (AFP) Philipp Buhl, da equipa alemã de vela, categoria Laser.  “É difícil perceber exactamente onde as regatas de vela serão organizadas. Não é somente o lixo que está na água. A cada chuvada, haverá toneladas e toneladas de novos resíduos a cair na água”, acrescentou, deixando um aviso: “Sem estações de tratamento, a situação não melhora”.  

E se neste momento, a poluição da baía é uma enorme dor de cabeça para os atletas que vão ter de prestar provas naquele local, a verdade é que, segundo a AFP, a situação há muito é apontada por alguns biólogos locais. “A baía do Rio é uma imensa latrina”, sublinha Mario Moscatelli, que desde 1997 denuncia a degradação ambiental naquela zona. “Encontramos não unicamente animais mortos, mas também televisores, sofás, sapatos. Ao longo dos anos, o peixe tornou-se cada vez menos”, desabafa.

Perante isto, qual a resposta das entidades oficiais? “Não existe qualquer risco para a saúde dos atletas”, assegura o máximo responsável pela pasta do Ambiente no Estado do Rio de Janeiro. Teoricamente, as autoridades prevêem despoluir 80% da baía do Rio antes dos Jogos Olímpicos, os primeiros que se desenrolarão na América do Sul, só que, como salta à vista, ainda há um longo caminho pela frente.

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